ReproduçãoFoto: Reprodução/ Redes Sociais

Bolsonaro e a barbárie

A semana terminou sem que Bolsonaro tenha dito uma palavra sobre Genivaldo de Jesus Santos, que morreu sufocado numa viatura da PRF. Se tivesse exaltado os policiais que seguem regras, Bolsonaro já teria feito algo significativo. Preferiu o silêncio
29.05.22 18:33

Jair Bolsonaro foi um mau militar, nas palavras do general Ernesto Geisel. Ele transgrediu a disciplina ao protestar em público sobre o valor do soldo e flertou com a subversão, ao esboçar os planos de uma série de explosões que deixaria  claro o descontentamento dos oficiais.

Outro conceito que Bolsonaro parece não ter absorvido é o das “regras de engajamento”: a ideia de que mesmo em situações de combate é preciso regular o uso da força. Há bastante coisa sobre o tema na internet. O uso da força possui regulação mesmo quando o nível de violência é aplicado no grau mais alto”, diz um artigo publicado na Revista do Exército Brasileiro em janeiro de 2021. 

Esta semana terminou sem que Bolsonaro tenha dito uma palavra sequer sobre Genivaldo de Jesus Santos, o homem que morreu sufocado por bombas de gás lacrimogêneo dentro de uma viatura da Polícia Rodoviária Federal, em Sergipe. O presidente, no entanto, não deixou de elogiar uma operação policial que matou 22 pessoas no Rio de Janeiro, antes mesmo de saber se tudo aconteceu conforme manda o figurino da própria polícia.  

O caso de Genivaldo é simples. Um homem comum, que não havia cometido nenhuma violência, morreu depois de ser submetido a tortura por gente fardada. Ponto final. Se Bolsonaro tivesse repudiado esse crime e exaltado os policiais que seguem regras, já teria feito algo significativo. Preferiu o silêncio. 

Deve existir uma dose de cálculo político por trás desse comportamento. Algo do tipo: “Qualquer coisa que eu diga vai servir para a esquerda me apoquentar e ainda pode deixar os policiais descontentes, então vou fechar o bico.” Chegamos ao ponto em que conveniências eleitorais impedem políticos de dizer até mesmo aquilo que a decência humana mais básica recomenda.

Mas creio que há algo mais profundo nesse episódio, conectado à essência do bolsonarismo: o ódio às leis e às regras que impõem limitações supostamente injustas aos “homens de bem”.

O bolsonarismo não tem paciência para nuances. Quem veste farda está evidentemente no grupo dos homens de bem. Então, por que atormentar a tropa com regras que os bandidos não têm de seguir? Por que não conceder aos soldados o “excludente de ilicitude”, que perdoa previamente não só erros, mas também abusos cometidos em uma missão? 

O mesmo vale para quem frequenta o clube de tiro. Por que impedir essa pessoa de bem de portar sua arma quando e onde quiser? 

Da perspectiva bolsonarista, as regras que atam suas mãos são ainda mais odientas por terem sido criadas “pelos imbecis que sempre comandaram o Brasil”, conforme disse o presidente da República nesta semana – como se ele não comandasse o país.

Desconfio que Bolsonaro não teria condenado a morte de Genivaldo mesmo que não fosse período eleitoral. Na grande batalha contra os “direitos humanos para bandidos”, e em favor do “excludente de ilicitude” e do porte universal de armas, não vale a pena chamar atenção para os danos colaterais. 

O que torna os policiais dignos de respeito não é o fato de combaterem bandidos e sim o fato de seguirem regras de engajamento, mesmo quando o outro lado está pronto para tudo. Sim, isso torna as lutas desiguais. Trata-se, no entanto, da diferença entre civilização e barbárie. Às vezes com silêncio, às vezes com palavras, Bolsonaro faz questão de ignorá-la.

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
  1. Crusoe num perrengue danado e vc quer culpar o Bozo pela bobagem dos policiais? O silêncio do presidente é eloquente. Desculpe, mas estou cansado destas lacradinhas jornalísticas.

  2. Excelente texto. O silêncio de Bolsonaro é, por si só, um discurso bem acabado de quem admira a prática da tortura, extrapolando vergonhosamente"as 4 linhas" da Constituição Federal de 88 que, em seu artigo 5° diz: "III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;” . Expulso das FFAA por ser um mau militar, este é o facínora que quer nos desgovernar por mais 4 anos. Ele consegue o cúmulo de fazer a ojeriza a ele ser maior que a ojeriza a Lula, o outro criminoso.

  3. o tratamento a essa barbárie da PRF pelo Bolsonaro tem pararelo com o tratamento dado aos Russos, pela comemoração do envio de fertilizantes, independentemente da grana ser usada para a manutenção da guerra na invasão da Ucrânia

  4. Bolsonaro falou algo a respeito desse absurdo, pode até não ter satisfeito a essa Revista, que a exemplo da maior parte da imprensa,tem exigido democracia de todos menos do STF, do qual já foi vítima, que julgou Moro suspeito e anulou 07 anos de combate à corrupção, lançando Lula às eleições com a "fantasia de mártir", sob a qual padece a nação despossuída e humilhada por suas danosas consequências.Namastê!

    1. Fiquei curioso, agora. Qual foi o "algo" que Bolsonaro falou a respeito desse crime hediondo, praticado por agentes públicos à luz do dia, e se lixando para quem estava documentando tudo com os celulares? A avacalhação da PRF agora perdeu a vergonha. Não tem mais vergonha, deixando-se representar por esses monstros (passaram -se dias até condenar em público, essa tortura).

  5. Em 2018 o minto se apropriou da agenda da lava jato e do combate a corrupção e a população acreditou nas mentiras de campanha e hoje somos todos vitimas de estelionatário eleitoral. Agora temos Lularapio de volta e pior, na frente das pesquisas, como pode o Brasileiro não ter aprendido que votar e a única forma de arrumar o pais. Com uma população de mais de 200 milhões como não temos bons candidatos para o pais, isso eu não entendo! Olhando o que temos para 2022 vou de General Cruz presidente!

  6. "El Minto Capetão Cloroquina" não é aquele ser abissal que vive pelai a falar e dizer que é o "comandante" das "forças armadas"? Pelo que se vê claramente neste é em muitos outros episódios não faz a mínima ideia do que fala e diz (ou deixa de falar ou dizer). E assim vamos assistindo à barbárie tomar conta de situações que nem roteirista de filmes que fazem apologia da violência seriam capazes de imaginar. E o pior são os cegos que estão sendo conduzidos por esta aberraçao cega...

  7. Não acho q o silêncio do Bolsonaro e dos bolsolovers tenha motivação eleitoral... Acho q não dão a mínima, simplesmente. Não se importam com Genivaldos, pobres e esquizofrênicos, ainda que medicados. E estou me perguntando quem se importa, pq parece q esses policiais, que saíram pq "precisavam" praticar alguma maldade, nem afastados foram! É triste e aterrorizante.

  8. Depois do Capetão Destruição desdenhar 660 MIL mortos na pandemia da gripezinha, uma morte por asfixia certamente não vai incomodá-li…

  9. Bom. Esta é cara de um negacionista, porque não dizer de um fascista e um terrorista. Este dejeto humano, não tem empatia com nada que diz respeito ao sofrimento das pessoas. E muitos são seus eleitores. Mas, a terra gira e o tempo passa, com certeza neste mundo em que vivemos existem duas faces, como uma moeda. O certo e o errado. O certo seria demonstrar constrangimento com a execução do Genivaldo e o errado é não ter qualquer empatia ou compaixão com a forma como os seus Agentes (PRF) agiram.

Mais notícias
Assine agora
TOPO