ReproduçãoNavalny, durante depoimento em 2021

A condenação de Navalny e o futuro de sua fundação contra a corrupção

02.02.21 15:15

O líder opositor russo Alexei Navalny (foto) foi condenado a dois anos e oito meses de prisão nesta terça, 2. Ele foi acusado de violar os termos de uma condenação de 2014 e de não se apresentar às autoridades.

Criador da Fundação Anticorrupção, a FBK, Navalny tem sido o principal agitador dos protestos contra o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Nas últimas semanas, o que mais tem revoltado os russos é um documentário publicado pela FBK nas redes sociais. O filme acusa Putin de ter construído um palácio no Mar Negro com dinheiro de corrupção. Pouco antes da sua condenação, Navalny deu um depoimento exortando os russos a irem para as ruas mais uma vez. Contudo, com sua prisão, há dúvidas sobre o que acontecerá com a sua fundação. “Ele (Navalny) formou uma equipe formidável, mas não sabemos se eles continuarão funcionando tão bem sem a sua liderança“, diz o historiador Sergey Radchenko, especialista em Guerra Fria e União Soviética na Universidade Cardiff, no Reino Unido. Segue a entrevista de Radchenko sobre Navalny.

Mesmo depois de ter sido envenenado, Navalny decidiu voltar para a Rússia e acabou preso. O que acontecerá com seu movimento?
Navalny fez uma jogada ousada ao retornar à Rússia após ter sido envenenado. Alguns até compararam isso ao retorno de Lenin em um trem lacrado em 1917. Há uma diferença importante: Lenin voltou depois que o czar já havia abdicado. O perigo para Navalny atualmente está em ser enviado para uma prisão por vários anos, o que o tirará do processo político por um longo período (Navalny foi condenado a 2 anos e oito meses de detenção). Sua fundação anticorrupção manterá seu ímpeto sem sua liderança? Isso não está claro. Ele formou uma equipe formidável, mas não sabemos se eles continuarão funcionando tão bem sem a sua liderança.

Além de ser alguém contra a corrupção, o que mais se pode dizer de Navalny? Ele é liberal na economia? Tem uma inclinação pelas democracias do Ocidente?
Navalny é um ativista anticorrupção que evita cuidadosamente o rótulo de qualquer ideologia em particular. É claro que ele é um nacionalista e, nesse sentido, seu envolvimento com o Ocidente é basicamente oportunista. Não o vejo devolvendo a Crimeia à Ucrânia, por exemplo. E ele já deixou isso bem claro. Por outro lado, seus pontos de vista têm evoluído. Seria incorreto citar algumas de suas declarações anteriores, xenófobas e contra muçulmanos, como indicativas do que ele realmente acredita atualmente. Seu programa econômico é uma mistura peculiar de populismo de esquerda e de neoliberalismo. É muito cedo para especular sobre o que Navalny faria se estivesse no poder.

De que maneira tudo isso está afetando Putin?
É cada vez mais evidente que Putin está entrando na fase final do seu jogo, mas quando esse jogo irá acabar de fato não está claro. Ele tentará permanecer no poder até morrer? Vai preparar uma sucessão a la Nazarbayev no vizinho Cazaquistão (Nazarbayev renunciou em 2019, após trinta anos no poder)? É no contexto dessa transição de poder aberta que a questão de Navalny adquire um significado particular. Ele é a primeira figura política desde 1917 que está incitando um jogo de poder de fora da elite política. Até mesmo Boris Iéltsin (1991-1999) tinha sido o chefe do Partido Comunista em Moscou antes de se tornar o principal oponente de Mikhail Gorbachev. Com seu carisma, determinação e, pode-se dizer, um certo grau de imprudência, Navalny perturbou o processo político encenado, introduzindo um importante fator externo: a rua. Na medida em que esse é um fator que não pode ser facilmente controlado ou manipulado, Putin está sendo, obviamente, excepcionalmente cauteloso.

Como os oligarcas russos estão lidando com os protestos? Eles poderiam abandonar o presidente?
O consenso da elite no atual momento favorece Putin. Em grande parte, isso ocorre porque o presidente, apesar de todas as suas falhas e tendências autoritárias, tem uma coisa a seu favor. Ele representa um certo grau de estabilidade. É o que as elites querem. Navalny, por outro lado, lidera uma coalizão incerta de vários ativistas. Para onde ele vai apontar, caso em algum momento alcance o poder, é uma grande dúvida.

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  1. de certa forma a história se repete, URSS foi uma grande nação socialista que se perdeu com seus ditadores, quebrou e vai ficar pior quando a matriz energética da Europa deixar de consumir tanto petróleo e gás. Ditadores fazem história e condenam o futuro das Nações.

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