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A invasão da Ucrânia e a chance de uma Terceira Guerra Mundial

24.02.22 13:25

Com a invasão da Ucrânia pela Rússia na madrugada desta quinta, 24, cresce a apreensão de que o conflito possa dar início a uma Terceira Guerra Mundial, com armas nucleares (foto).

A chance é baixa. Mesmo iniciando ações arriscadas, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, tem evitado cruzar algumas linhas vermelhas, para não escalar o conflito.

Um dos cuidados tomados por Putin é não tomar qualquer iniciativa contra um membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte, a Otan, que foi criada em 1949 para conter a Rússia. O Artigo 5 do Tratado estabelece que um ataque a um de seus membros deve ser considerado um ataque a toda a aliança, que então deveria responder militarmente. A Ucrânia não é parte da Otan, e a Rússia não fez qualquer ação contra um de seus membros.

Em um comunicado divulgado na manhã desta quinta, 24, a Otan prometeu ajudar aliados, mas dentro das suas regras. Alguns de seus membros estudam acionar o Artigo 4, que permitiria prestar assistência militar, como o envio de mísseis e baterias antiaéreas, a um país aliado. “Hoje, realizamos consultas sobre o Artigo 4 do Tratado de Washington. Decidimos, de acordo com nosso planejamento defensivo para proteger todos os aliados, tomar medidas adicionais para fortalecer ainda mais a dissuasão e a defesa em toda a aliança. Nossas medidas são e permanecem preventivas, proporcionais e não escaladas“, diz o comunicado. A última frase do comunicado não diz respeito à Ucrânia: “Nosso compromisso com o Artigo 5 do Tratado de Washington é rígido. Estamos unidos para defender uns aos outros“.

O risco seria que, caso seja bem-sucedida em subjugar a Ucrânia, a Rússia se sinta confiante para avançar contra um membro da Otan, como um dos países bálticos. Ou, então, que a guerra atual acabe se espalhando para países limítrofes da Ucrânia que são membros da Otan, como a Polônia, a Eslovênia, Eslováquia e Hungria. Se isso ocorrer, o conflito ganharia uma dimensão muito maior.

Outro limite que não deve ser ultrapassado é o uso de armas militares. Além das bombas nucleares, que hoje são muito mais potentes que as utilizadas em Hiroshima e Nagasaki, em 1945, os países hoje contam com armas nucleares táticas, que podem ser usadas para destruir alvos menores. Esse tipo de armamento nunca foi usado em um conflito e não há sinal de que isso possa ocorrer. A Rússia tem 2 mil dessas armas nucleares táticas, e não as disparou nas guerras anteriores na Geórgia e na Síria.

Atualmente, a Rússia é o país com o maior arsenal nuclear do mundo, com 5.977 ogivas. Os Estados Unidos têm um pouco menos: 5.428. Os nove países que contam com essas armas evitam usá-las por causa da doutrina da Guerra Fria, a de “destruição mútua assegurada“. O conceito implica que, se um país iniciar um ataque nuclear contra outro, ambos serão destruídos e não haveria vencedores.

Mas esse conceito tem sido gradualmente revisto pela Rússia. Em 2015, logo após invadir a Crimeia, o país alterou sua doutrina nuclear, preocupado com o avanço da Otan. A nova doutrina estabelece que a Rússia poderia usar armas nucleares táticas caso sofra um ataque militar convencional que ameace sua existência.

Ao final, a decisão de usar ou não uma arma nuclear em um potencial conflito com a Otan caberia principalmente a Putin, que tem se mostrado bastante instável nos últimos dias.

A chance de Putin usar armas nucleares táticas deveria ser zero. Mas não é zero. É perto de zero. Afinal, quem sabe o que passa com Putin?”, diz o cientista político canadense Duane Bratt, especialista em questões nucleares. “Considerando o tabu sobre o uso de armas nucleares desde 1945, acredito que seria um passo longo demais a Rússia usar qualquer forma de bomba nuclear. Caso isso aconteça, a Otan teria de responder com retaliação nuclear, ou a dissuasão seria nula. Não acho que vamos chegar a isso, mas só o fato de estarmos falando sobre essa possibilidade já é um tanto perturbador.”

Em um comunicado divulgado pelo Kremlin na madrugada desta quinta, 24, Putin fez uma ameaça velada sobre o uso de armas nucleares: “Quanto aos assuntos militares, mesmo após a dissolução da União Soviética, URSS, e a perda de uma parte considerável de suas capacidades, a Rússia de hoje continua sendo um dos estados nucleares mais poderosos. Além disso, tem certa vantagem em várias armas de ponta. Nesse contexto, não deve haver dúvidas para ninguém de que qualquer potencial agressor enfrentará a derrota e consequências nefastas caso ataque diretamente nosso país“.

Ao anunciar a invasão na televisão, Putin também disse que, se os países ocidentais caíssem na tentação de se intrometer nos eventos em andamento, isso levaria a “consequências nunca vistas na história“.

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