Foto: Ranald Mackechnie/The Royal Family

A morte da rainha e a política degenerada

10.09.22 11:31

Nesta última quinta-feira, dia 8, às 18:30, o palácio de Buckingham anunciou que a rainha Elizabeth II havia falecido pacificamente no castelo de Belmoral, na Escócia, aos 96 anos de idade. Nas redes sociais, o burburinho foi imediato. Uns brincaram que o príncipe Charles teria de começar a trabalhar aos 73 anos, outros que a rainha tinha visto de tudo nessa vida, menos o Palmeiras ganhar um mundial.

Eu mesmo, pouco antes do falecimento, divulguei em meus perfis uma vitória judicial na qual o ministro Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), havia derrubado censura imposta a uma reportagem do site “O Antagonista”, acolhendo o pedido que, como advogado do veículo, eu havia feito de cassação da decisão de primeiro grau e determinando, de forma inédita em casos envolvendo liberdade de imprensa no Brasil, que o juiz fosse obrigado a proferir nova sentença. Com a notícia da morte, brinquei no Twitter que a decisão de Toffoli me surpreendia mais do que o falecimento da rainha.

Entre brincar e comemorar a morte de alguém, no entanto, vai uma longa distância. E nesse mesmo dia diversos militantes políticos festejaram a morte de Elizabeth.  Um candidato -que não nomearei para não lhe dar palanque- chegou a dizer que abriria uma cerveja para comemorar a morte de Elizabeth, lamentando apenas que seu falecimento não tivesse se dado pelas mãos da classe trabalhadora. Não sou favorável à monarquia, desconheço quem o seja, mas me faz descrer do mundo notar que se festeja a morte de alguém, colocando-se ideologias políticas acima de qualquer sentimento mínimo de humanidade.

Não importa de quem seja a morte: da rainha Elizabeth, de Olavo de Carvalho, da esposa de Lula, tanto faz. As ideologias devem servir ao ser humano, são um instrumento e um veículo de nossa visão política em busca de uma convivência harmônica. Pensar o oposto, que os seres humanos devem servir às ideologias e à política, é degenerar a política e tornar o homem perverso. Algo que não calha a ninguém, seja de esquerda ou de direita, tenha fetiche por coroa e cetro, faixa presidencial ou martelo e foice.

Mesmo passados duzentos anos de nossa independência, seguimos imersos em visões políticas muito pobres de espírito. Só não brocha quem não pensa. O Brasil, sobretudo no período eleitoral, tem exposto o nosso pior e ainda nos piorará muito. Acreditem.

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  1. Parece-me que com esse artigo - sabe que sempre os aprecio - descobriu dois monarquistas, eu e o Amauri. Sou de toda uma família monarquista, inclusive no plebiscito fomos muito procurados por quem, por nossa causa, votaria no Sim. Tio meu, médico respeitado, não político, foi preso na ditadura por ser monarquista. Não o somos por ideologia, mas herança e por observação de exemplos positivos, como de D.Pedro II como refere o Amauri. Muito prazer, Marsiglia, conhece agora dois monarquistas.

    1. Tereza, mais um monarquista aqui, depois de conhecer a história da república proclamada sem povo. Além da estabilidade do sistema monárquico, em comparação com a república, que já teve ditadura civil, ditadura militar, golpes de estado, presidentes depostos e tudo mais. Só me entristece ver a família imperial de mãos dadas com o Minto. Porém permaneço defensor da monarquia.

  2. c. Na verdade, o ser humano está bem mais próximo da visão de Hobbes do que das de Rousseau, especialmente os brasileiros. O Homem, essencialmente, é um lobo canibal. O Brasil agrava essa condição por sua selvageria e subdesenvolvimento.

  3. Marsiglia, passei a sabê-lo articulista com os Antagonistas. Aderi Sua admiração pelos textos plenamente corretos em opiniões e forma. Com elegância, desculpou-se de misturar o advogado luloptista que, apenas por isto, tornou-se supremacista (jamais soberano!) com a rainha de todos q a admiram (e ponham muitos nisto!), filha de George VI q, de uma venturosa ilha salvou, suportando por muito tempo, solitariamente (como Rei da uma nação) o mal da humanidade- o nazifascismo.

    1. Apenas isto. Nasceu soberana e sempre será reinando com a sabedoria da mulher-mãe. Quanto às grosserias sempre haverá enquanto houver ser humano que não se ama. Quanto a ser brocha só não será aquele que sempre pensa com o coração e a mente, sempre temperando-os com amor e solidariedade.

  4. Estamos vivendo tempos estranhos em que não há a mínima vontade de convivência harmônica e o resultado já é visível nos jornais e portais: violência de toda ordem. Parece que o fundo do poço tem porão.

    1. Prezada Miriam, concordo com a defesa do bem que quis exprimir. Só discordo que para mim não são os tempos. É o Sapiens Ele promove até "guerra santa" para se preponderar e ter poder absoluto. Egocentrismo! seu nome é o "homem".

  5. Na Inglaterra o rei pertence ao povo e há 700anos agrega uma nação indestrutível ... aqui se o povo soubesse que a república seria tomada por quadrilhas de "reis" ladrões jamais teria permitido a saída de seu imperador um homem digno e honrado que em seus cinquenta anos de reinado levou o Brasil do nada para ser país de primeiro mundo e isto nunca é dito às tolas vítimas de elites insanas e ladras estes sim os reais déspotas imunes e impunes ditadores de uma nação rica e povo miserável.

  6. Com certeza, a tendência a piorar é mais provável. Há tantas coisas erradas em nosso país que para dar certo, a chance é zero. A começar pela deturpação dos valores humanos. Precisamos de um choque de ética, respeito, amor ao país, sinceridade, seriedade etc. Somos uma sociedade moralmente doente. O deboche é uma prática da falta de consideração com as pessoas. Na política há um frenesi nos parlamentares para desconstruir reputação dos seus adversários, através de mentiras, injúria, canalhice.

    1. Como já dizia o saudoso Enéas Carneiro, nesse país não se respeita coisa alguma. E isso lá nos anos 90. Imagine hoje.

    2. Assino em baixo Alberto. Disse tudo. Antes de tudo há uma degradação moral no país

  7. Prezo muito pela leitura dos seus textos, sempre inteligentes e atuais, mas eventualmente fico decepcionado por serem tão curtos.

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