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‘Bachelet repete a propaganda do Partido Comunista chinês’, diz pesquisador

31.05.22 17:01

O antropólogo alemão Adrian Zenz, de 47 anos, é um dos pesquisadores mais atentos à perseguição da minoria muçulmana uigur pelo Partido Comunista da China. Na semana passada, diversos veículos de imprensa publicaram imagens e documentos vazados da polícia da província de Xinjiang e obtidos por Zenz. Os arquivos trazem 5 mil fotos de detentos, com idades entre 3 e 94 anos, que foram presos apenas por causa da fé muçulmana. Zenz, que é pesquisador na ONG Vítimas do Comunismo, conversou com Crusoé sobre o impacto da divulgação desses arquivos — a maior evidência até hoje dos campos de concentração de uigures — e sobre a apatia de Michelle Bachelet (foto), alta-comissária da Organização das Nações Unidas, ONU, para os direitos humanos.

Xinjiang Police FilesXinjiang Police FilesFoto de criança prisioneira em campo de concentração de Xinjiang
Como o mundo reagiu à divulgação das fotos e documentos mostrando os campos de concentração de uigures?
Estamos vendo algumas repostas. Líderes do Reino Unido, dos Estados Unidos, da Noruega e da Finlândia já comentaram a divulgação dessas informações. Na Alemanha, o chanceler Olaf Scholz falou disso em Davos. Algumas reações têm sido mais fortes do que as anteriores, o que nos dá esperança de que algo possa acontecer em prol das vítimas.

Algum órgão da ONU chegou a comentar algo sobre os arquivos?
A ONU não disse nada sobre isso e a visita de seis dias da alta-comissária para os direitos humanos, Michelle Bachelet, à China foi uma grande decepção para as vítimas. Ela nunca citou a existência de campos de prisioneiros. Ela só falou em violação do direito de liberdade religiosa. Em sua viagem à China, disse que não haverá investigação. Ela tem se recusado a se encontrar com grupos de uigures e de outras minorias. Bachelet não tem reagido e não tem comentado essas atrocidades.

Xinjiang Archive FilesXinjiang Archive FilesFoto vazada mostra campo de concentração de uigures
Alguma razão para isso?
Ela simplesmente tem permanecido muda em relação a esse problema. Após sua coletiva de imprensa no sábado, 28, foi possível constatar claramente que Bachelet repete a propaganda do Partido Comunista chinês. Basicamente, ela defendeu que o criminoso investigue o próprio crime. É chocante. Não está claro para mim qual é a sua motivação, dado que ela está na liderança de um órgão de direitos humanos da ONU. É realmente inacreditável. 

Por que o sr. afirma que Bachelet repete a propaganda chinesa?
Porque ela descreve a situação utilizando os mesmos termos usados pelo regime comunista. Ela fala em campos de reeducação contra o terrorismo, algo que eles não são. Trata-se de campos de lavagem cerebral.  

Qual seria a melhor maneira de definir esses campos? Pode-se falar em campos de concentração, como os que abrigavam judeus na Segunda Guerra Mundial?
Esses “campos de reeducação” operam como campos de concentração, exceto pelo fato de que não matam as pessoas. O objetivo deles é a detenção em massa de indivíduos. Os prisioneiros ficam muito aglomerados e precisam prestar obediência total. Eles são brutalmente abusados ou torturados se não seguem as ordens. Eles também são constantemente interrogados e precisam ficar por horas assistindo à televisão, aprendendo a ideologia do Partido Comunista e a língua chinesa. Também aprendem que não podem praticar a própria cultura e a própria religião.

Quantas pessoas estão nesses campos de concentração atualmente?
Estimativas prévias falavam entre 1 milhão e 2 milhões de pessoas. Pelos meus números, eu calculava mais de 900 mil. Mas essas estatísticas agora estão sendo questionadas porque um documento que encontramos, de 2018, fala que 12% dos adultos de um distrito estariam nos campos de concentração e prisões. Além disso, o ministro de Segurança Pública, em Pequim, afirmou que há mais de 2 milhões de pessoas no sul de Xinjiang “infectadas” pelo sentimento de extremismo religioso. Tudo isso indica que o total pode ser muito maior.

ReproduçãoReproduçãoAdrian Zenz, o pesquisador que obteve as imagens dos campos
O que a ideologia comunista tem a ver com esses campos de concentração?
Essa ideia de reeducação é uma característica comum de muitos regimes comunistas. Todos eles buscam alinhar a ideologia de seus cidadãos ao pensamento do regime. É esse o principal sinal de lealdade que o povo deve prestar. Frequentemente, os governos comunistas tentam fazer lavagem cerebral com os seus cidadãos, especialmente aqueles que seguem algumas religiões ou têm ideologias alternativas que não são compatíveis com o comunismo. Esses governos têm uma longa história de reeducação, que passa pelos gulags soviéticos. Depois, o chinês Mao Tsé Tung estabeleceu campos de reeducação com trabalho forçado. O atual sistema empregado na China é uma evolução dos campos de concentração anteriores. 

O sr. considera Coreia do Norte e Cuba como países comunistas? Seus regimes também fazem esse tipo de coisa?
Esses são claramente dois países comunistas, ainda que eu não os estude em profundidade. Na Coreia do Norte, sabemos que aqueles que não obedecem ao Estado são colocados em campos de concentração. Muitos especialistas apontam semelhanças entre o estado policial da Coreia do Norte com o da província chinesa Xinjiang. Em Cuba, sabemos que os dissidentes e seguidores de algumas religiões são perseguidos, mas não sei dizer se há campos de reeducação por lá.

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  1. Não entendo essa matéria. O pronunciamento oficial de Bachelet divulgado menciona especificamente os uighurs e a preococupação de Bachelet com a situação e o tratamento dos uighurs dispensado pela China. A matéria parece algo fabricado para macular a atuação de Bachelet. Ver: https://www.ohchr.org/en/statements/2022/05/statement-un-high-commissioner-human-rights-michelle-bachelet-after-official Ver o treho da declaração em que ela se refere ao tratamento dispensado aos Uighurs.

  2. Ele esqueceu de mencionar o grande estoque de órgãos que os uigures provém para exportação pelo próprio PCC. E quanto a Bachelet, acho bom ela agir como está agindo, pois assim publica as verdadeiras cores da ONU, lobo em pele de cordeiro.

  3. Com todo respeito ao povo chileno, mas essa coisa Michelle Bachelet não passa de um traste. Esse traste que também é um dos responsáveis pela tal carta que inocenta o ex-presidiário ladrão cachaceiro e lavador de dinheiro, que "ganhou" uma suprema saidinha pra concorrer à presidência da república do Brasil. Só aqui mesmo....Que o inferno chinês sirva de exemplo para nós.

  4. Gostaria de dizer que sempre desconfio deste tipo de pessoa, quando se diz um "cristão novo" conduzido por Deus. tenho medo de pessoas com posições extremistas, como a do Senhor Adrian. Não estou defendendo a China, pois também não é um modelo a ser imitado.

  5. Que mundo triste... Ninguém é eterno, tudo passa rápido, mas tantas pessoas insistem em passar os dias infernizando a vida de tantas outras, atrás de um controle e de um poder q nunca terão. Não dá pra entender!

  6. Que é isso, Bachelet? Abusando de nossa paciência, hem? Quando é que vai abrir essa boca suja para falar o que deve?

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