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Brigas dividem extrema-direita e atrapalham campanha de Bolsonaro

23.01.22 08:07

Mais efervescentes a cada semana, as brigas entre apoiadores de Jair Bolsonaro vêm expondo a divisão da extrema-direita em pequenos grupos. As rixas podem impactar tanto a campanha à reeleição do presidente como minar os planos dos nomes que ajudaram a levar Bolsonaro ao Planalto há quatro anos e sonhavam ter o apoio dele neste ano para conquistar um mandato.

Na quinta-feira, 20, com o endosso de Eduardo Bolsonaro, o filho 03 do presidente, o secretário nacional de Cultura, Mário Frias, expôs a mágoa da ala ideológica do governo e da própria família Bolsonaro com os irmãos Arthur e Abraham Weintraub. Cobrado, ainda que indiretamente, por curtir uma publicação em que uma seguidora afirma que Abraham “será preso em breve”, Mário Frias falou o que há muito parecia engasgado na garganta de aliados mais próximos do Planalto.

Em um longo fio de tuítes, o secretário demonstrou que o grupo estava atento ao recente apoio dos irmãos a publicações que atribuíam a Bolsonaro as pechas de “frouxo” e “traidor”, mesmo que os dois ocupem cargos com “altos salários” graças a indicações do presidente — Abraham tem um cargo no Banco Mundial e Arthur, outro na Organização dos Estados Americanos, a OEA. As declarações foram rebatidas.

A ira vinha sendo alimentada há tempos. A insistência de Abraham Weintraub em concorrer ao governo de São Paulo enquanto Bolsonaro faz campanha por Tarcísio de Freitas incomoda — e muito — o Planalto. O descontentamento cresceu com o desembarque dos irmãos em São Paulo no último dia 15. Desde que pisou em solo brasileiro, Abraham revelou segredos de bastidores que o presidente gostaria de ver guardados a sete chaves. Confirmou, por exemplo, que Jair Bolsonaro soube antecipadamente da Operação Furna da Onça, que, mais tarde, revelou movimentações atípicas nas contas de Fabrício Queiroz e comprometeu o senador Flávio Bolsonaro, o filho 01 do chefe do Planalto.

O bate-boca nas redes deu pistas do tamanho do rancor de Bolsonaro. Os Weintraub foram bombardeados pelos ideológicos da Esplanada e por pessoas do círculo mais íntimo do presidente, numa demonstração de união do grupo. Partiram para o ataque, por exemplo, Sergio Camargo, presidente da Fundação Palmares, e Karina Kufa, advogada do presidente.

Com a exposição, militantes chegaram a pedir que Abraham Weintraub não respondesse mais aos ataques e buscasse falar diretamente com Bolsonaro. O ex-ministro da Educação, no entanto, disse que tenta, sem sucesso, conversar com o presidente há cerca de um ano. Ele busca, agora, construir sua candidatura ao lado de nomes de menor expressão do bolsonarismo.

Em um périplo pelo interior de São Paulo, Weintraub caminha, por exemplo, com o advogado Victor Metta. Recém-filiado ao PTB, Metta foi tesoureiro do PSL na campanha do presidente em 2018. Era tão próximo de Bolsonaro que, quando o ele recebeu uma facada em Juiz de Fora, viajou até a cidade no monomotor de seu escritório levando o médico-cirurgião Antônio Macedo para examiná-lo, na Santa Casa da cidade.

Alinhado à cartilha do Planalto, o empresário e médico Alessandro Loiola, que já chegou a comandar a coordenadoria-geral de Empreendedorismo e Inovação da Secretaria de Cultura, é outro que tem se aproximado de Weintraub. Após o embate entre Frias e Abraham, ele prestou solidariedade ao ex-ministro nas redes. “Esse tipo de absurdo imperdoável é o preço que se paga por ter PRINCÍPIOS e VALORES MORAIS inegociáveis. Conversamos já o suficiente por cel (celular) e meu feeling sempre apontou que vocês estão no caminho alinhado à virtude”, escreveu.

Em outra ponta, está a ala olavista. Precursor do movimento, o guru Olavo de Carvalho não se manifestou sobre a confusão. Nomes vinculados a ele, sim, mas sem tomar lado. O blogueiro bolsonarista Allan dos Santos buscou enfatizar o impacto do racha nas eleições. “Vocês acham mesmo que José Dirceu olha isso e teme uma possível derrota?”, provocou, em seu canal no Telegram.

A verdadeira bronca do grupo, que acabou varrido da Esplanada e tem como um de seus expoentes o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, pousa sobre o Centrão — nomes do bloco fisiológico costumam ser criticados com veemência pelo grupo.

O que ocorreu com esses tuiteiros que passaram a defender Fabio Faria, Flávia Arruda, Ricardo Barros? Não foi essa a direita que apoiou Bolsonaro em 2018. Onde essa turma estava?”, indagou Allan.

Ernesto Araújo demonstra o rancor com o abandono a que foi submetido. “O que aconteceu quando o Centrão começou a dominar o governo e pautar o governo? Fui cada vez mais isolado e tirado da capacidade de levar adiante essa política externa transformadora”, declarou na última semana.

Com a cizânia em sua antiga base, o desafio de Bolsonaro começa antes mesmo da campanha.

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