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Calote para você e bônus para mim

27.04.23 12:53

A Light (foto), empresa de geração e distribuição de energia, realiza nesta sexta-feira, 28, uma assembleia que pode alterar o panorama das concessões de energia elétrica no país. Nos últimos meses, a companhia tem emitido sinais confusos e tem deixado boa parte do mercado preocupada.

Na assembleia marcada para às 17h de sexta, a companhia colocou em pauta a aprovação de um plano de bonificação via ações para a diretoria que tem como parte das metas a serem perseguidas, além da renovação da concessão, uma reestruturação de capital que pode gerar uma reprecificação de toda a estrutura de custos do sistema elétrico.

As metas nada desafiadoras renderiam algo em torno de R$ 40 milhões aos diretores a preços correntes das ações da companhia. Gestoras com participação acionária relevante têm demonstrado preocupação com os rumos propostos.

A JGP e o BB Asset, por exemplo, já divulgaram contrariedade à proposta em uma manifestação de voto conjunta. As gestoras apontam que a renovação da concessão é o cenário base esperado pelo mercado, visto que desde 2010, “25 concessões de distribuição de energia elétrica no país foram automaticamente renovadas pelo Poder Concedente”.

Investidores também mostram receio quanto à previsão de uma reestruturação do capital da empresa para o recebimento do bônus. Muitos credores acreditam que isso indica a intenção da administração da empresa de promover um haircut nas dívidas, como é chamado no mercado financeiro o desconto dado no valor do débito. A medida, estimam alguns gestores ouvidos por Crusoé, pode afetar as contas de centenas de milhares de pessoas físicas expostas diretamente a debêntures da Light ou a fundos de investimentos com posição nos papéis da empresa.

Para esses gestores, a companhia tem dificultado as negociações e parece aproveitar a pulverização da dívida, que tem 90% do volume no mercado de capitais, para criar condições para os cortes nos valores devidos sem negociação adequada.

Medidas como essa, de renegociação das dívidas próximo ao prazo da indicação de interesse na renovação da concessão, que no caso da empresa é junho deste ano, trouxeram grande incerteza ao mercado e, com certeza, podem causar uma exigência de prêmios maiores para o financiamento do setor, o que deixa tudo mais caro, inclusive, a conta de luz”, explica um gestor de um fundo com posição no papel sob a condição de anonimato.

No dia 11 de abril, a Light conseguiu uma decisão judicial liminar que interrompeu os pagamentos das dívidas alegando dificuldades para honrar os pagamentos. Mas a espiral de desarranjo financeiro começou no início do ano com a contratação da Laplace Finanças para assessoramento em uma reestruturação de capital, dias após o pagamento de R$ 100 milhões em dividendos. Em seguida, agências de risco rebaixaram as notas de crédito da elétrica, o que provocou o descumprimento de cláusulas contratuais de outras dívidas. Com tudo isso, a empresa começou a avaliar a não renovação da concessão.

O marco regulatório do setor não foi desenhado para a devolução de uma concessão de distribuição. Se esse caso não tiver uma solução minimamente elegante, como fica o financiamento para concessões perto do final do prazo? As demais distribuidoras não teriam que passar a exigir que se incorpore aos custos não gerenciáveis a convergência da estrutura de capital a zero e provisão de fechamento para pagar indenizações rescisórias? Como isso conversa com o preço das tarifas de energia elétrica?”, questiona outro gestor.

Procurada pela reportagem, a Light informou por meio da assessoria de imprensa que não vai se pronunciar sobre o assunto.

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  1. Parabéns aos que propõem a privatização desenfreada de serviços essenciais! Para que se preocupar? Deus-Mercado e dona Livre Iniciativa não devem imperar? Aumento da conta de luz é só um detalhe.

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