Cantalice e as ditaduras que o PT tanto ama

O diretor da Fundação Perseu Abramo e membro do diretório nacional do PT Alberto Cantalice (nas fotos, com Lula e Fernando Haddad) surpreendeu a todos neste domingo, 5, ao publicar mensagens duras no Twitter contra vários autocratas e ditadores corriqueiramente adulados pelo seu partido e pelo presidente brasileiro.

“Daniel Ortega, Nicolás Maduro, Vladimir Putin e Dias Carnel (o cubano Miguel Díaz-Canel) não são de esquerda. São ditadores. Quem combate Donald Trump e Jair Bolsonaro não pode conciliar com déspotas que se dizem aliados do nosso campo“, escreveu Cantalice.

Nas mensagens, o petista Cantalice chama a todos na sua lista de “aprendizes de autoritários“, que teriam “cooptado as Forças Armadas com benesses“.

Em um partido carcomido pelo mofo de ideologias ultrapassadas, a coragem de Cantalice parecia trazer uma lufada de ar fresco. Ele ainda foi fundo ao chamar o tirano soviético Josef Stalin de “cancro da humanidade e destruidor de uma sociedade justa e solidária“.

Mas o vento soprou por pouco tempo. A janela se fechou nesta segunda, quando as críticas que Cantalice recebeu de petistas o levaram a apagar as mensagens sobre os ditadores.

Não há empolgação que se justifique. Cargos como o de Cantalice na Fundação Perseu Abramo costumam ser dados a petistas escanteados da política. A institiuição acaba funcionando muito mais como uma fonte de aposentadoria para petistas que não conseguiram cargos em órgãos públicos, por qualquer razão. Voltada a promover debates, a Fundação raramente interfere em políticas públicas. Não há, portanto, qualquer sinal de que o presidente Lula, seu assessor Celso Amorim ou o Itamaraty de Mauro Vieira mudem uma vírgula em uma declaração ou voto sobre qualquer uma das ditaduras elencadas por Cantalice.

A prática petista continua indo na direção contraria. O governo brasileiro está em processo de regularizar a ditadura de Maduro, depois de o governo de Jair Bolsonaro cortar relações diplomáticas. Na sexta, 3, o Brasil não aderiu a um documento da ONU que denunciou a ditadura de Ortega por crimes contra a humanidade.

Nesta segunda (6), Cantalice escreveu no Twitter que “refletiu com companheiros” e resolveu “recalibrar” as postagens. Ele fez isso “retirando Cuba” das suas reflexões domingueiras.

A ilha comunista tem 1.057 presos políticos, segundo a organização Prisoners Defenders. O número é quatro vezes mais do que havia na Nicarágua até o início de fevereiro, quando Ortega decidiu desterrar e tirar a nacionalidade de todos que aceitaram subir em um avião para os Estados Unidos. Mas, para o PT, Cuba continua sendo um exemplo a ser seguido, cujos defeitos se devem exclusivamente ao “bloqueio econômico” e “ataques imperialistas“, nas palavras de Cantalice.

Cantalice ainda se sentiu na obrigação de dizer que, no PT, ele não manda em nada. “Quem fala pelo PT é a presidente do partido. Eu falo por mim“. Arrependido, ele disse estar se “penitenciando sobre excessos escatológicos“.

Alberto Cantalice é uma voz fraca, abafada, insegura, acossada por colegas e sem qualquer poder. É melhor que nada, mas ainda é muito pouco.