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Com poste Xiomara, Manuel Zelaya ensaia volta ao poder em Honduras

30.11.21 10:30

Conhecido pelo chapéu de caubói e por ter dito que foi vítima de raios de micro-ondas quando ficou hospedado na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, o ex-presidente de Honduras Manuel Zelaya acaba de sacramentar sua volta ao poder.

Com mais da metade dos votos apurados, sua esposa Xiomara Zelaya (foto) está 20 pontos percentuais à frente do rival Nasry Afura e deve sagrar-se a vencedora das eleições do domingo, 28. Xiomara é do Partido Liberdade e Refundação, o Libre, criado e comandado por seu marido. Sem esperar o encerramento da contagem dos votos, o ditador venezuelano Nicolás Maduro e o ex-presidente da Bolívia Evo Morales festejaram a conquista de Xiomara nas redes sociais.

A amizade entre Maduro, Morales e Zelaya é antiga e consistente. “Desde que foi deposto, Zelaya nunca se afastou desse projeto de esquerda e segue sendo parte do Foro de São Paulo“, diz o cientista político boliviano Carlos Sánchez Berzaín. “Como ele tem uma alta rejeição entre a população, sua estratégia foi a de usar sua esposa, em um movimento parecido ao de Cristina Kirchner com Alberto Fernández e Evo Morales com Luis Arce Catacora.” Xiomara, portanto, é mais um poste latino no poder.

A rejeição a Zelaya se dá porque, como presidente, ele gerou uma crise política ao tentar reescrever a Constituição. Ele adotou políticas de esquerda seguindo o modelo do ditador venezuelano Hugo Chávez. Entre elas estava a de tentar implementar a reeleição indefinida.

O avanço das políticas socialistas de Zelaya foi contido por um golpe militar, em 2009. O presidente foi deportado para a Costa Rica de avião. Desde então, ele tentou várias vezes retornar ao poder. Nesse mesmo ano, Zelaya voltou para Honduras em um avião que decolou da Nicarágua. Ele então correu para se refugiar na embaixada brasileira em Tegucigalpa, a capital.

Quando Zelaya foi tirado do poder, Xiomara organizou diversas manifestações. Foi nesse momento que surgiu sua liderança política“, diz o cientista político Edgardo Rodríguez, de Honduras. “Atualmente, não há a menor dúvida de que ela compartilha da mesma visão de Zelaya e de seus contatos com a esquerda da América Latina. Em um governo de Xiomara, ele será o operador político por trás das cortinas.”

Zelaya fez duas tentativas anteriores para emplacar sua esposa como presidente, em 2013 e 2017, ambas frustradas. Nesta eleição, o casal foi beneficiado por dois fatores.

O primeiro é que ela assumiu uma postura democrática, algo que ninguém sabe se irá se comprovar na prática. “Enquanto propunha mudar a Constituição, como Manuel Zelaya tentou fazer no passado, Xiomara não conseguia subir nas pesquisas. Ela só passou a ganhar eleitores quando passou a prometer que irá preservar a democracia“, diz Berzaín.

O segundo fator é que o seu rival nesta eleição contava com alta rejeição. Nasry Afura, do Partido Nacional, é o representante do atual presidente, Juan Orlando Hernández, que foi acusado por promotores americanos de ter criado um narcoestado e pode ser extraditado.

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