Alexei Navalny. Reprodução

Como o ‘aplicativo Navalny’ pode chacoalhar as eleições na Rússia

18.09.21 12:35

As eleições para o Parlamento da Rússia, a Duma, começaram na sexta-feira, 17, e vão até este domingo, 19. Como o presidente Vladimir Putin controla todos os meios de comunicação e impede os opositores de se candidatarem, não há uma alternativa real ao partido Rússia Unida, que apoia Putin. As outras treze legendas que competem no pleito frequentemente se juntam para votar com a sigla oficialista e nunca a atacam frontalmente. O principal líder da oposição, Alexei Navalny, foi envenenado no ano passado e preso neste ano. Nenhum dos seus apoiadores conseguiu se candidatar.

O grupo de Navalny, então, bolou uma estratégia para gerar turbulência nas eleições. A tática é chamada de “voto inteligente” e se parece com o voto útil do Brasil. Eles criaram o aplicativo para celulares Navalny. Após fazer o download gratuitamente, o eleitor insere qual é o distrito da Rússia em que vive, de um total de 225. Em seguida, o aplicativo recomenda qual é o melhor candidato para ele.

Nas eleições da Duma, metade das 450 cadeiras são preenchidas por listas partidárias. A outra metade é decidida pelos distritos — cada região tem direito a um único representante.

Ao promover os candidatos de sua preferência com boas possibilidades de se eleger, o grupo de Navalny quer diminuir as chances dos integrantes do Rússia Unida — Putin não é membro, mas mantém estreita relação com a legenda.

A sigla que mais pode ser beneficiada pelo aplicativo é o Partido Comunista. Ironicamente, seu líder, Gennadi Zyuganov, não tem a menor simpatia por Navalny, a quem chama de “traidor que chegou para botar fogo no país“.

A manobra de Navalny e seus colegas chegou em uma hora delicada para o Kremlin. A aprovação de Putin continua alta, mas caiu 20 pontos percentuais e hoje está em 60%. O ufanismo nacionalista que se seguiu à invasão da Crimeia, em 2014, evaporou após a Copa do Mundo, em 2018 — a chegada de milhares de turistas para o evento diluiu a antipatia dos russos em relação os estrangeiros. Dois de cada três habitantes atualmente têm uma visão positiva do Ocidente, segundo o instituto Levada. Uma reforma da previdência, também em 2018, acabou arranhando um pouco mais a imagem do presidente.

O partido Rússia Unida também está indo mal nas pesquisas de opinião. A legenda tem somente 29% das intenções de voto — bem abaixo dos 40% obtidos na eleição de 2016.

Irritado com a ousadia de Navalny, o governo russo ameaçou multar as empresas Apple e Google, que vendem o aplicativo em suas lojas virtuais. Funcionários que trabalham na Rússia foram ameaçados. Para evitar problemas, as duas companhias americanas bloquearam o aplicativo para seus usuários no país nesta sexta, 17, primeiro dia de votação.

Mesmo assim, o programa continua sendo usado por meio de sites alternativos. A loja do Google registra mais de 500 mil downloads. Para se ter uma ideia do que isso representa, na última eleição, pouco mais de 70 milhões de russos votaram. A loja da Apple não revela os números.

Na semana que vem, após a contagem dos votos, será possível saber se o aplicativo teve ou não um efeito nas eleições legislativas deste final de semana. De qualquer maneira, Alexei Navalny provou mais uma vez que consegue causar turbulência, mesmo de dentro da prisão. Em janeiro, ele provocou protestos após divulgar um vídeo da mansão de Vladimir Putin, avaliada em 1,3 bilhão de dólares. O presidente russo, contudo, não pretende deixar o poder tão cedo — ele aprovou uma reforma da Constituição para permanecer no cargo até 2036, quando terá 83 anos de idade.

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