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O que Bolsonaro e o bolsonarismo perdem com a morte de Olavo

25.01.22 14:20

Embora tenha ajudado a eleger Jair Bolsonaro, Olavo de Carvalho (foto) vivia nos últimos tempos uma relação de altos e baixos com o presidente. O ideólogo não se acanhava em tecer críticas públicas ao governo, sobretudo depois da aproximação de Bolsonaro com o Centrão e da perda de espaço da ala ideológica na gestão.

Há cerca de um mês, no entanto, deixou claro que estaria ao lado do presidente na campanha à reeleição. Entre a falta de alternativas na extrema-direita, declarou que Bolsonaro era “o melhor candidato”.

Apesar das recentes divergências, a morte de Olavo, pela qual o Planalto decretou luto oficial, é uma perda inegável para Bolsonaro e para o bolsonarismo não apenas no ano eleitoral como também no pós-eleição. De pronto, a campanha à reeleição é desfalcada de uma figura que, mesmo sem a mesma influência de 2018, ajudava a formular estratégias e modular o tom dos embates eleitorais e políticos. Exercia esse papel, sobretudo, por intermédio do filho 03 do presidente, Eduardo Bolsonaro, de quem era mais próximo, embora também fosse admirado por Carlos e Flávio — quando era deputado estadual, o 01 chegou a condecorar o ideólogo com a medalha de Tiradentes, a mais alta honraria do Rio.

Já o 02, ao lamentar a morte de Olavo nesta terça-feira, 25, lhe prestou “eterna gratidão” pela obra construída durante a carreira e declarou que as ideias dele semearam em muitos “um sentimento de esperança e  de amor pela verdade e pela liberdade”.

Sem Olavo, um dos precursores do conservadorismo no Brasil, o governo também passa a se ressentir da pessoa que provavelmente tinha mais capacidade de reaglutinar o bolsonarismo, num momento em que há uma clara falta de sintonia entre seus principais expoentes – os ex-ministros da Educação Abraham Weintraub e das Relações Exteriores Ernesto Araújo, por exemplo, andaram às turras nas últimas semanas com integrantes do governo, por divergências em relação aos rumos da extrema-direita no país. A residência de Olavo, na Virgínia, servia como uma espécie de posto-avançado da ala ideológica e seria usada fatalmente como um dos QG’s da campanha deste ano. 

Diversos integrantes do grupo hoje esfacelado lamentaram o falecimento do ideólogo e defenderam, quase que em uníssono, a união da extrema-direita pregada por ele. É hora de nos unirmos, refletirmos e perpetuarmos os ensinamentos de quem partiu”, escreveu o ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten. 

Olavo também exerceria um papel fundamental depois das eleições de outubro, principalmente diante do cenário de possível derrota de Bolsonaro nas urnas. Justamente por ter sido o professor e ideólogo da turma, era ele quem personificava os ideais da ala mais radical do governo, que é hoje a que ainda se mantém mais fielmente ao lado do presidente. Com sua morte, sai de cena o personagem que melhor levaria adiante temas caros ao bolsonarismo, como “guerra cultural”, “identidade de gênero” e “educação infantil”

Um mês antes de sua morte, Olavo chegou a dizer que “política não é eleição”. “Na direita, quase todo mundo imagina que o poder da esquerda se limita ao judiciário e à mídia. Santa ilusão. E as tropas armadas do narcotráfico e dos “movimentos sociais”? E  as grandes empresas de internet? E os bancos mundiais? E os organismos internacionais? E o dinheiro chinês nos bolsos dos políticos?”, resumiu.

A partir de hoje, o bolsolavismo está em xeque.

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