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Como Valdemar Costa Neto conseguiu, com Bolsonaro, fazer a maior bancada da Câmara

16.03.22 14:15

O PL cresceu e ganhou corpo ancorado no pragmatismo. A história recente prova que o partido nunca teve pudor em se reinventar na busca pelo poder. Em 2010 e 2014, a sigla que já integrava a aliança de Lula desde 2002 graças a acertos nada republicanos que desaguaram no escândalo do mensalão, caminhou ao lado da petista Dilma Rousseff. Nas eleições seguintes, alinhou-se ao então tucano Geraldo Alckmin. E, agora, quatro meses depois de abrigar Jair Bolsonaro em seus quadros, finaliza um processo de reestruturação interna para moldar a legenda definitivamente aos interesses do presidente da República.

Para escancarar as portas do partido aos bolsonaristas, uma das exigências de Bolsonaro ao se filiar ao PL, a cúpula da legenda interveio sem pudores nos seus principais diretórios pelo país. A aposta de Valdemar Costa Neto, o todo-poderoso do partido, era de que o presidente e seus aliados funcionariam como uma espécie de “imã” para atrair parlamentares, permitindo, assim, que o PL passasse a ter a maior bancada da Câmara dos Deputados depois das eleições. O resultado veio antes do planejado. Só com as migrações ao PL registradas depois da abertura da janela partidária, a sigla já contabiliza 66 deputados. Com isso, ultrapassou a União Brasil, até então o maior partido em número de assentos na Câmara – a data-limite para o troca-troca partidário é 1º de abril.

“Fico pensando na sorte que tivemos de poder recebê-lo no nosso partido. Aconteça o que acontecer, o resultado vai vir. É por isso que temos que ser fiéis ao Bolsonaro, fazer tudo o que ele pede, tudo o que ele precisa para podermos retribuir o que ele fez por nós”, comemorou Valdemar,  o comandante do PL, durante um evento em Brasília na terça-feira, 15.

O dividendo político para o partido é inquestionável e independe de quem será eleito presidente em outubro: é que, quanto maior a bancada no Congresso, maiores são o volume de recursos à disposição do partido e a sua capacidade de barganha com o Poder Executivo, qualquer que seja o novo inquilino do Palácio do Planalto.

As costuras começaram no ano passado. Para vencer resistências sobretudo nas regiões Norte e Nordeste, Valdemar destituiu ou articulou a renúncia de presidentes regionais da legenda historicamente alinhados a nomes de esquerda ou críticos ao governo federal. “Não tivemos como ceder aos interesses particulares e políticos de alguns em detrimento de um plano que pode tornar o PL o maior partido do Brasil”, argumenta o deputado federal paulistano Capitão Augusto, vice-presidente do PL.

A saída de quadros tradicionais do partido deu o tom das mudanças internas destinadas a acomodar o bolsonarismo. Em Alagoas, Maurício Quintella Lessa, que presidia o diretório estadual, deixou a legenda depois de 14 anos. Ele ocupa, desde 2019, o cargo de secretário de Infraestrutura do governo Renan Filho, primogênito do senador Renan Calheiros, ferrenho crítico de Bolsonaro e histórico aliado de Lula. Lessa foi sucedido por Sérgio Toledo, que, segundo admitem os próprios correligionários, tem patinado na tarefa de construir uma lista de candidatos competitivos tanto para candidatos à Câmara dos Deputados quanto à Assembleia Legislativa.

No Pará, o senador Zequinha Marinho, aliado de primeira hora do Planalto, assumiu o comando regional do partido no lugar de Cristiano Vale, destituído do cargo sem aviso prévio, apesar de ter integrado o PL por 20 anos. Escanteado, ele decidiu se filiar ao Progressistas. Cristiano Vale jamais criticou publicamente Bolsonaro, mas não abria mão da aliança com o governador Helder Barbalho, do MDB, que sonha com a reeleição e tem Lula como um de seus principais apoiadores.

Na última semana, José Carlos Araújo, que dirigia o PL na Bahia, se desfiliou da sigla por discordar das imposições de Bolsonaro no estado. O presidente passou a trabalhar para eleger o ministro da Cidadania, João Roma, ao governo baiano. Com essa decisão, Araújo decidiu passar para o lado de ACM Neto, da União Brasil, seu aliado histórico. “Há alguns meses, o PL firmou compromisso em aceitar a candidatura do ex-prefeito de Salvador ACM Neto ao governo do estado. Por razões que são do conhecimento de todos, o PL não irá manter esse compromisso e deverá apoiar outra candidatura ao governo. Contudo, eu me sinto na obrigação de manter a aliança”, escreveu Araújo em uma carta de despedida.

Mesmo em locais onde ainda há arestas para aparar, como é o caso da seção cearense, em que o comando permaneceu nas mãos de um aliado de PT e PSDB, já há acertos para formação de um palanque duplo para abrigar Bolsonaro e sua turma.

A partir da filiação das caras novas, o PL projeta resultados inéditos em estados-chave do país. Em São Paulo, maior colégio eleitoral, o partido diz já ter 15 candidatos com potencial para agregar mais de 100 mil votos na corrida por vagas na Câmara dos Deputados. São considerados puxadores de votos nomes como Eduardo Bolsonaro, Carla Zambelli e o coronel Tadeu Lemos, que trocaram a União Brasil pelo PL. No Rio, a previsão é de que a legenda saia da janela partidária com a maior bancada do estado, passando de quatro a onze integrantes. Nos últimos dias, o PL acertou o ingresso na agremiação de Carlos Jordy, Chris Tonietto, Hélio Lopes, Luiz Lima, Major Fabiana e Márcio Labre. O líder da frente evangélica, Sóstenes Cavalcante, já assinou a ficha de filiação ao partido. O ex-ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antonio deve seguir o mesmo caminho em breve. “Vamos dar uma nova cara para o partido. A ideia é seguir a linha que o PSL deveria ter seguido quanto elegeu Bolsonaro e conquistou a maior bancada da Câmara”, projeta o deputado Bibo Nunes.

Sob reserva, nomes tradicionais do PL que ainda torcem o nariz para a chegada do grupo político de Bolsonaro dizem temer pela perda de identidade. O pragmático Valdemar, que troca de aliados com velocidade impressionante e sem corar a face, está mais preocupado com os milhões dos fundos eleitoral e partidário que irrigarão os cofres da legenda.

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  1. Valdemar Costa Neto, condenado pelo mensalão e solto tão somente porque ganhou um indulto natalino da Dilma, é o presidente e cacique do PL (Partido dos Ladrões? Partido dos Larápios?). Ao escolher esse partido, Bolsonaro e sua turma demonstram bem quais são seus princípios e valores... E pior ainda é quem vota nessa corja...

  2. Para acabar com essa farra, deveríamos votar no Partido Novo que não usa dinheiro público. Escolhendo Moro como presidente. Essa seria a melhor resposta para os abutres dos nossos impostos. Cambada de sanguessugas/Vampiros!

  3. O ex presidiário tem muito o q ensinar como viver em Bangu. Sonho em vê-los juntos pegando uma hora de sol por dia junto com tds os q já estavam na mira da Lava Jato. Moro22

  4. A hipocrisia de Bolsonaro e seus adoradores fica cada vez mais explícita. Qual a moral dessa gente para criticar o mensalão ou o petrolão? Bolsonaristas e Petistas são farinha do mesmo saco. Corruptos e antidemocrático. Enquanto isto Moro, caminha fora dessa podridão mantendo-se fiel aos seus proncipios. E ainda leva pedrada dos petistas e bolsonaristas . Eis a resposta clara de por que o Brasil não dá certo. Falta de caráter da maioria do povo.

  5. quem diria que um bando oportunista pode salvar o pais do caos já a clara vista .. no caso os abutres salvam o boi para comê-lo devagar adiante assim não foi por acaso que a CF/88 tirou todo poder presidencial e o transferiu à politicalha e esta a razão maior dos nossos males ou rouba deixa roubar ou não governa nem a primeira dama afinal o Luladrao foi governado pela Roze Noronha .. lembram dela?

  6. O Dem e o PSL tem pudor? Onde o MORNO queria entrar só pelo dinheiro. Cria vergonha na cara CRUSOÉ. Aquele juíz que não conseguiu nem sustentar a prisão do maior corruPTo do Brasil 😁😃🤣🐁

  7. Ah!! Se neste país houvesse consciência do que seja política , e não politicagem ;se houvesse entendimento mínimo sobre administração pública, atribuições de Estado , direitos e deveres constitucionais ;se as pessoas tivessem noção da importância da democracia e nela a importância do voto , estes conchavos escusos não prosperariam . Estes politiqueiros seriam varridos do mapa a cada eleição ... Triste ter que pensar no condicional .

  8. O partido da falsa direita merece desde já o Troféu da Falta de Vergonha, de Caráter, dos Milicianos , dos Falsos Cristãos, da CORRUPÇÃO Sistêmica Organizada e batizada de RACHADINHAS .

    1. Não confunda Sérgio Moro com seu candidato, que chafurda com gosto na lama do Centrão...

    2. Vc está falando do MORNO? Se esse cara entrar vc acha com quem ele MORNO vai aliar. Com PT e esquerda MALDITA ou o centrão. Se não, não aprova nem o café do congresso. HIPÓCRITAS

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