Empréstimo consignado pode dar a Bolsonaro o que o Auxílio Brasil não deu

No começo da semana passada, a Caixa Econômica começou a liberar o empréstimo consignado garantido pelo Auxílio Brasil. Essa é a nova cartada de Jair Bolsonaro – a última disponível – para tentar virar as eleições a seu favor na reta final. Em sete dias, o resultado foi impressionante: 700 mil pessoas requisitaram o empréstimo e a Caixa liberou R$ 1,8 bilhão. O valor médio que cada beneficiário do Auxílio Brasil levou para casa foi de R$ 2.600,00. As parcelas serão descontadas diretamente dos R$ 600,00 pagos mensalmente pelo programa de transferência de renda do governo federal.

O Auxílio Brasil não surtiu o efeito desejado por Bolsonaro nas intenções de voto. No primeiro turno, Lula ficou à frente dele entre aqueles que recebem o benefício. O PT trabalhou bastante para disseminar a ideia de que o Auxílio Brasil de R$ 600 é eleitoreiro, lembrando que no Orçamento enviado por Bolsonaro ao Congresso, o valor retrocede a R$ 400 reais, em janeiro de 2023. Bolsonaro prometeu que vai arranjar dinheiro para que isso não aconteça, mas nem assim conseguiu vencer a desconfiança dos eleitores.

O impacto do consignado pode ser mais favorável ao presidente. Se o ritmo de liberação de recursos se mantiver, cerca de R$ 4 bilhões podem ser derramados na economia antes do 30 de outubro, alcançando cerca de 2 milhões de eleitores. O valor de R$ 2.600,00 é significativo para quem depende de R$ 600 mensais. Pode pagar dívidas, solucionar urgências ou simplesmente aumentar a sensação de segurança e bem estar, quando o fim de ano já se aproxima.

Há duas críticas pertinentes ao empréstimo consignado do Auxílio Brasil. O governo fixou um teto de 3,50% ao mês para os juros que serão cobrados pelos bancos participantes do programa. Para um empréstimo de risco zero para a instituição financeira, visto que seu pagamento é garantido pelo Auxílio Brasil, são juros bastante próximos daqueles já praticados pelo mercado, nos empréstimos pessoais (atualmente, eles ficam no intervalo entre 3,8% e 5,8% ao mês). Com isso, os bancos se tornam os segundos grandes beneficiários do Auxílio Brasil, ao lado dos miseráveis.

A segunda crítica é que o mutuário, se não entender direito o que está fazendo, começará 2023 surpreso com um Auxílio Brasil menor do que o esperado. Se tiver emprestado o máximo permitido, sofrerá um desconto de R$ 240. Receberá R$ 360, em vez de R$ 600. Se por qualquer razão política ou econômica o benefício for aquele previsto no Orçamento, haverá uma hecatombe: o pagamento, em vez de R$ 400, será de R$ 160.

Sim, é difícil imaginar uma demonstração mais clara de como um candidato que está no poder e busca a reeleição pode pôr a máquina pública para trabalhar a seu favor. Mas dizer que o empréstimo é eleitoreiro, para quem está com a corda no pescoço, pode não surtir efeito. Talvez Bolsonaro tenha encontrado o atalho que tanto queria.