Reprodução/FacebookDo Val: capricho de Rodrigo Pacheco foi o critério que destinou a ele R$ 50 milhões?

Fale mais, Marcos do Val

Quanto mais fala, mais o senador deixa claro como é irracional e irresponsável o uso que o Congresso faz das emendas do relator
08.07.22 17:43

“Never explain, never complain” (Nunca explique, nunca reclame) é um adágio atribuído ao político inglês Benjamin Disraeli (1804-1881). Tornou-se, supostamente, um mandamento para os membros da família real britânica. Aponta um caminho cínico, mas seguro, para lidar com escândalos e outros dissabores da vida pública: é melhor fechar o bico, porque no meio de uma crise, qualquer palavra tende a piorar as coisas. Felizmente, os políticos brasileiros não têm a fleuma dos ingleses e raramente seguem essa máxima.

O Estadão desta sexta-feira trouxe uma entrevista do senador Marcos do Val (Podemos/ES), que recebeu R$ 50 milhões do orçamento secreto para direcionar à sua base eleitoral – o mesmo valor destinado aos líderes de partidos, posição que ele não detém. Teria sido um “agradecimento” dos colegas Davi Alcolumbre e Rodrigo Pacheco, por ele ter votado em favor desse último, contra a orientação de seu partido, na última eleição para a presidência do Senado. A reportagem pôs do Val em um corredor polonês. Ele passou a manhã inteira apanhando. No meio da tarde, entrou em contato com o canal Globonews, porque queria se explicar e reclamar.

O senador procurou apagar a ideia de que vendeu seu voto. Segundo ele, jamais houve negociação nesses termos entre ele e Pacheco. Qualquer oferta que representasse um toma lá dá cá teria sido recusada e denunciada por ele. Os 50 milhões de reais teriam sido ofertados mais tarde, em sinal de gratidão. Aliás, apenas um dia antes de vencer o prazo para que a destinação dos recursos fosse estabelecida. Do Val disse que varou a madrugada com sua equipe, escolhendo os municípios que receberiam o dinheiro.

Foi uma entrevista confusa e inconvincente. Por exemplo: do Val disse que durante a disputa pela presidência do Senado, Simone Tebet, adversária de Pacheco, lhe ofereceu um cargo em troca de voto. Ele não a denunciou – ao contrário do que garantiu que faria em situação semelhante. Se não denunciou a candidata a quem se opunha, por que apontaria o dedo contra Pacheco, o seu preferido? Mas, se dizem algo sobre o caráter de do Val, detalhes desse tipo não são o mais importante.

Admitindo que a narrativa do senador seja verdadeira, ela demonstra, para além de qualquer dúvida, como foi arbitrário o manejo dos bilhões do orçamento secreto, independentemente da existência, ou não, de compra de votos. Do Val  recebeu bem mais que o dobro da média dos senadores. E por qual critério? Nada mais científico do que o capricho e a “gratidão” de Rodrigo Pacheco. A distribuição dos R$ 50 milhões, além disso, teve de ser decidida em poucas horas. Se o uso de recursos cada vez mais vultosos do orçamento para atender a encomendas picadas dos municípios já é questionável, o que dizer então de um trabalho feito de improviso, como no caso do gabinete de Marcos do Val? Esse é um retrato desolador de como o dinheiro público tem sido gasto pelos parlamentares: sem lógica ou responsabilidade. E repito, não estou sequer levando em conta a hipótese de que roubos tenham ocorrido no meio do caminho. Se houvesse mais racionalidade no uso desse dinheiro, não seria necessário atropelar as leis para socorrer os pobres, como acontece atualmente com a PEC Kamikaze. 

Marcos do Val é o relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2023. Ele propõe que a execução das emendas do relator se torne obrigatória, assim como já acontece com as emendas individuais e de bancada. Isso equivale a premiar um Congresso que até recentemente lutava para manter em segredo esse dispêndio. Equivale também a retirar ainda mais dinheiro de projetos nacionais, para satisfazer os interesses locais de deputados e senadores. Políticos como Marcos do Val e as práticas que ele desnudou são o motivo por que não se deve fazer isso. 

 

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  1. Dos vários nomes atribuídos a essa PEC , ficou melhor como PEC Eleitoral, pois espelha de maneira mais clara a sua inconstitucionalidade durat

  2. Enquanto não escolhermos melhor os vereadores, os síndicos, os deputados, etc etc., seremos dirigidos por gente qualquer - provavelmente com 2as.intenções! ! !

  3. Este episódio mostra como é um presidente do senado: elemento representante da nata da escória da classe política. Os exemplos são inúmeros: Pacheco, Alcolumbre, Renan Calheiros, José Sarney, Jáder Barbalho, ACM, etc.

  4. Cada estado com o “mamãe falei” que merece, o país com os representantes que espelham fielmente o caráter dos eleitores.

  5. Muito triste a constatação, mediante declarações do próprio “favorecido” sobre como são feitas partilhas e distribuição do suado dinheiro público, usado inclusive a título de pagamento de favores pessoais oferecidos a líder do senado… Os políticos todos estão viciados em conceder benesses a seus apaniguados usando o chapéu alheio, que pertence ao povo, eleitores que os escolheram!

  6. O senador deu um tiro no próprio pé e um no pé do Pacheco, ao invés de socorrer é melhor mexer no machucado pra ver o q mais tem lá dentro...

  7. Graieb, todos nós sabemos como funciona a aplicação da verba do orçamento secreto. Verba encaminhada para pequenas cidades,prefeitos corruptos, superfaturamento de obras e insumos da educação e saúde, propina dividida entre prefeitos e parlamentares. Com as próprias emendas parlamentares comuns funciona assim, com o secreto a vrba é muiiiiitooo maior.

    1. Perfeito seu comentário! Principalmente agora que as suposições foram confirmadas e confessadas…

  8. Esse sujeito foi mais desconhecido que surfou na onda da Lava Jato e se elegeu colado em Bolsonaro… tinha a maior amizade e apoio do Reinaldo Azevedo…

    1. Botem os tanques nas ruas E FECHEM TUDO!!! Chega de passar vergonha e ser debochado por esses vagabundos...

  9. Malandro demais se atrapalha e foi o que aconteceu com este Senador (argh!!) Ao tentar explicar o inexplicável na entrevista à Globonews. O sujeito foi encurralado de todo jeito, se contorceu mais que cobra ,mas não convenceu ninguém de que os tais 50 milhões do Orçamento Secreto, não foram para comprar o apoio à eleição do Rodrigo Pacheco à Presidência do Senado, só um idiota completo vai acreditar nessa história e o Brasil está cheio deles. O malandro se atrapalhou...

  10. Que revoltante, que repugnante essa camarilha corrupta e insana!!! São criminosos cínicos e ostensivos, porque não estão na cadeia????!!!! Essa maldita imunidade parlamentar precisa ser erradicada!!!!

  11. O Brasil não tem jeito. Isso já se tinha conhecimento, há décadas. Se mudou foi para pior. O mal uso do dinheiro público sem qualquer fiscalização, é a cereja do bolo . O orçamento secreto será mais um atrativo para aumentar o interesse para ingressar na política. Enriquecimento pessoal fica mais fácil. O tempo se encurta para esse sonho. Enquanto isso, o país patina no desenvolvimento, cada vez mais distante nas corridas da fórmula 1.

  12. Alguem deste país ainda acredita nestes políticos brasileiros? Só querem poder e dinheiro e o povo que se lasque. Nunca sairemos do terceiro mundo. Simples assim.

  13. Olhem o nivel de senador que o povo elege, tem senadores no senado que são exceções, tratam a coisa publica com responsabilidade, mas tem um monte de escroques que só lá estão pra sangrar o cofre público em benefício próprio. Acorda povo brasileiro, vc quer mudança como????

    1. Contra a PEC Kamikaze, apenas 1 (UM) voto.

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