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Franco, Videla e Putin: os ladrões de crianças

21.03.23 11:18

Ao longo de um século, três ditadores cometeram o mesmo e bárbaro crime: o sequestro de bebês e crianças. O fascista espanhol Francisco Franco (à esquerda na montagem), o ditador argentino Jorge Rafael Videla (à direita) e o russo Vladimir Putin (ao centro) afastaram meninos e meninas de seus pais e os encaminharam para orfanatos ou para outras famílias, que eles consideravam mais dignas. Fizeram isso porque entendiam que os pais autênticos não mereciam a vida ou criar os próprios filhos, porque não se importavam em atemorizar e lobomotizar os pequenos ou simplesmente porque achavam que seus compatriotas “de bem” poderiam se apossar livremente dos espólios humanos das guerras que eles próprios deflagraram.

O espanhol Francisco Franco foi quem inaugurou o método. Durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), ele divulgou a noção de que o país estava sendo vítima de uma infecção bolchevique, o que explicaria a disseminação de ideias de esquerda. Nessa época, o professor de psiquiatria da Universidade de Madri Major Antonio Vallejo Nágera abriu catorze clínicas nas zonas tomadas pelos soldados de Franco, os quais terminariam depondo um regime legalmente eleito. Para Nágera, a única maneira de evitar uma dissolução racial do país seria removendo os filhos de “pais suspeitos” para que os menores fossem educados segundo os valores nacionais. Em 1943, mais de 12 mil crianças foram tomadas de suas mães e entregues para orfanatos ou organizações religiosas. Algumas foram enviadas para famílias previamente aprovadas pelo regime fascista.

Trinta anos depois, a prática foi repetida na ditadura argentina (1976-1983), que matou mais de 30 mil argentinos. Nesse período, o ditador Jorge Rafael Videla comandou um plano sistemático em diversos centros clandestinos de detenção. Neles, bebês de poucos meses ou nascidos em cativeiro eram encaminhados para outras famílias, enquanto suas mães eram conduzidas para a morte. Muitas delas eram drogadas, embarcadas em aviões militares e lançadas para a morte no Oceano Atlântico. Para Videla, elas não passavam de terroristas que não mereciam viver ou criar seus filhos. Na Escola Superior de Mecânica da Armada, a Esma, havia até uma sala especial dedicada a esses partos, que terminavam com a separação das mães e seus bebês. Em 1977, grupos de mulheres que perderam as filhas nessas condições formaram o grupo Avós da Praça de Maio, para ir atrás de seus netos. Dos 35 casos de apropriação de crianças analisados pelos tribunais argentinos, foi possível recuperar a identidade de pelo menos 26.

O mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional, TPI, contra Putin, publicado no dia 17, traz histórias parecidas. Como Franco e Videla, o russo acha que as crianças ucranianas só podem ser bem criadas entre famílias russas, enquanto seus pais não merecem viver. Ele também entende como um direito dos russos a adoção de crianças de outras famílias para moldá-las segundo os seus próprios valores. Para o TPI, Putin cometeu crimes de guerra por deportar e transferir ilegalmente crianças de áreas ocupadas na Ucrânia.

É uma tragédia em andamento. De acordo com o governo ucraniano, mais de 16 mil menores foram deportados para a Rússia contra a própria vontade. Muitas foram levadas para centros de reeducação, onde passam a consumir propaganda russa, são espancadas e vítimas de agressões sexuais. Um relatório publicado em fevereiro pela Universidade Yale, dos Estados Unidos, contou 6 mil crianças sequestradas, entre 4 meses e 17 anos, que teriam sido levadas para 43 campos na península ocupada da Crimeia e no território russo.

Com a ordem do TPI, em Haia, Putin corre o risco de ser preso caso pise em um dos 123 países signatários do Estatuto de Roma, que criou essa corte. Entre eles está o Brasil.

Nesta terça (21), o presidente Lula tem uma conversa telefônica agendada com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa. Uma das preocupações desses dois líderes é se o russo irá para a cúpula dos Brics, em agosto, na cidade sul-africana de Durban. Por ser signatária do Tratado de Roma, a África do Sul tem a obrigação de prender Putin e mandá-lo para Haia.

Para a diplomacia brasileira, que é comandada por Celso Amorim e se anuncia como comprometida com os direitos humanos, não deveria haver qualquer dúvida sobre o total despropósito de um encontro com Putin. Não há nenhuma explicação lógica que justifique o ato de apertar a mão de um ladrão de crianças.

A ver o que Lula, Amorim e o Itamaraty decidirão nos próximos meses.

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  1. Essa subespécie desses 3 psicopatas - luladrão e bolsonéscio com as respectivas gangues também incluídos - tem essas condutas aberrantes em razão de uma predestinação genética, não pode ter outra

    1. ....determinante ou explicação para tão tenebrosas monstruosidades. E como diz o bem posto ditado, "um gambá cheira outro", acontecendo por isso esse eterno e ""repugnante"" congraçamento entre esses patéticos e perversos genocidas de vias diversas.

    1. Faltou o entre aspas "inocente"...rsrsrs.

  2. Tão "zelosos e sensíveis" às causas dos direitos humanos, o PT e Lula silenciam vergonhosamente diante dessa monstruosa barbaridade, que é o sequestro em massa de crianças, pela Rússia. É que o apoio indiscriminado a ditaduras é bem mais importante para eles. Como sabemos, com injustiças extremamente menores, quase insignificantes, eles ficam "profundamente horrorizados e indignados". Pura farsa, muito mal encenada. O PT e Lula são uma enorme mentira.

    1. Exatamente! Esse ladrão que está na presidência e essa quadrilha, pt, são uma enorme mentira.

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