George Costanza tem a solução para o governo Lula

Como o personagem de Seinfeld, presidente deveria fazer sempre o oposto do que mandam seus instintos
16.05.23 07:39

No final da quinta temporada de Seinfeld, o eterno perdedor George Costanza (foto) toma uma decisão. Fará sempre o oposto do que costuma fazer. Se ao seguir seus instintos sua vida resultou numa sequência de decepções e fracassos, então talvez seja a hora de contrariar esses instintos.

Em vez do habitual sanduíche de atum, George pede salada de frango no pão de centeio. Em vez de se sentir intimidado com a jovem atraente que parece ter olhado para ele, chega até ela e diz, cheio de confiança: “Olá, eu sou o George, careca, desempregado e moro com meus pais”.

A opção pelo comportamento oposto causa uma reviravolta na vida de George. A mulher que ele aborda na lanchonete se apaixona e arranja para ele um emprego nos Yankees; com o salário George enfim consegue alugar um apartamento e sair da casa dos pais. Poucos dias depois, bem-vestido e sorridente, ele exala satisfação com si próprio.

Fazer sempre o oposto do que mandam seus instintos: eis o segredo da felicidade de George. E eis o segredo de um bom mandato para Lula.

A imprensa revelou esta semana que o presidente está triste e desanimado com as dificuldades do governo. Sua popularidade emperra, a economia patina, o apoio do Congresso escorre pelos dedos; já tem gente falando de movimentações de Alckmin para assumir a vaga.

Pois imagine se Lula, como George Costanza, optasse por fazer sempre o oposto do que normalmente faria. Se, em vez de meter os pés no negacionismo econômico e dizer que “gasto com saúde não é gasto, é investimento”, Lula clamasse à consciência nacional para o momento de organizar as contas públicas.

Se em vez de brigar com o presidente do BC, Lula dissesse, ainda que de mentirinha, “temos que respeitar instituições democráticas como a autonomia do Banco Central”.

Em vez de decretar o fim do marco do saneamento e apelar para o STF contra a Lei das Estatais, Lula incorporaria uma esquerda modernizante e passaria a apoiar as privatizações e a previsibilidade jurídica. (Para manter a fidelidade da esquerda, bastaria maquiar-se com alguma bandeira identitária, como as cotas para mulheres ou negros nos conselhos das empresas.)

Por fim, diante da revelação dos planos de sequestro da família de Moro, Lula não diria a grosseria “foi armação do Moro”, mas o oposto, sempre o oposto: “o senador é meu adversário político, mas cabe ao meu governo assegurar a segurança dele e de sua família”.

Esse pouco de elegância e bom senso econômico provocaria um enorme impacto no governo Lula.

Investidores internacionais, que estão doidos para entrar no Brasil e aproveitar as pechinchas da Bolsa, se sentiriam seguros para enfim mover montanhas de dinheiro para cá. Empresas anunciariam investimentos e vagas de trabalho, o desemprego e os juros futuros apontariam para baixo, o dólar já estaria perto dos R$ 4. A previsão otimista se autorrealizaria.

Melhor ainda para Lula e o PT, o comportamento oposto neutralizaria a direita. A oposição ficaria ressentida no canto da sala sem querer compartilhar a alegria dos outros. Os liberais que apoiaram Lula durante a eleição não estariam envergonhados e arrependidos como agora. E a crescente popularidade resultaria em apoio mais fácil e barato do Congresso.

Alguém, por favor, mostre aquele episódio de Seinfeld para Lula. O presidente precisa com urgência contrariar seus instintos de esquerda – e assim evitar que os brasileiros vivam mais 4 anos de fracassos e decepções.

 

Leandro Narloch é jornalista e escritor

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  1. Neste século idiotizado, no qual o sapiens se aquadrupeda e vira macaco de auditorio de influencers robotizados, ideias inteligentes, simples e elegantes estão banidas. Mesmo que o mundo estivesse progredindo, civilitoriamente, quem esperaria do luloptismo algo brilhante? Parabéns por lembrar, como âncora, do mais inteligente humor dos últimos tempos (e bota longevidade nisso). Sienfield é dez! O luloptista é zero.

  2. Parabéns Leandro! Assertiva e perfeita, o problema é que esperar desses políticos tipo o Bolsolulla uma atitude inteligente é o mesmo que esperar que nasça dentes numa galinha! Eles vociferam para alimentar os extremistas, além de não serem lá muito inteligentes.

  3. Narloch é uma excelente adição! Os primeiros 4 anos, o Lula 1 foi a versão George Constanza, o Lula 3 é o Lula puro e duro, com pitadas de ressentimento e punhados de revanchismo. Não mudará!

  4. Pedir para o presidente assistir AO último capítulo da série Seinfeld, ele não entenderia. Sugiro que ele leia a sua coluna e tenha a inteligência de aderir à tudo a que ela se refere. Parabéns colunista.

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