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‘Minha mãe é usada como troféu’, diz filha de ex-presidente da Bolívia presa

13.05.21 10:01

Nesta quinta-feira, 13 de maio, completam-se dois meses da prisão preventiva da ex-presidente da Bolívia Jeanine Añez. Em novembro de 2019, quando era segunda vice-presidente do Senado, ela assumiu a Presidência, que tinha ficado vaga após a fuga do país de Evo Morales e do vice, Álvaro García Linera. Menos de um ano depois, Jeanine realizou eleições, vencidas por Luis Arce Catacora, o escolhido de Morales. Após a posse de Arce, Jeanine foi presa e acusada de sedição, terrorismo e conspiração. O governo pede 30 anos de cárcere para ela. Sua filha, Carolina (à esquerda na foto, ao lado da mãe e com o irmão, José Armando) lidera um movimento pela libertação de Jeanine, que sofre de hipertensão. Formada em odontologia, Carolina, 30 anos, conversou com Crusoé.

Como está a situação de sua mãe na prisão?
Durante o primeiro mês, ela ficou totalmente isolada e não pôde ser visitada por ninguém, nem mesmo por nós, seus filhos. No segundo mês, fomos autorizados a vê-la, mas de forma restrita: apenas por duas horas, três vezes por semana. Ela continua sendo tratada de maneira desumana. Seu estado de saúde ainda é delicado, pois ela pode sofrer um derrame a qualquer momento devido à hipertensão arterial. Além disso, ela até hoje está sendo privada de alguns direitos elementares, como o banho de sol.

Como a Justiça boliviana tem tratado sua mãe?
A Justiça boliviana hoje está totalmente e descaradamente submetida ao governo. Isso implica que todas as ações e recursos apresentados pelos advogados de defesa foram sistematicamente negados. Minha mãe deve se defender em liberdade e por meio de um julgamento de responsabilidade, na qualidade de ex-presidente da Bolívia.

A sra. chegou a fazer um apelo ao governo? O que aconteceu?
Fizemos um apelo ao governo de Luis Arce, a seus ministros e a todas as instituições oficiais relacionadas com o processo de minha mãe. Diante da indiferença de todos, decidimos apresentar nosso caso a organismos internacionais, como o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Já foram dados alguns pronunciamentos importantes, como o do Parlamento Europeu e da Associação Iberoamericana de Juristas. Eles afirmaram claramente que o processo contra a minha mãe é arbitrário e político, e que ela deve ser imediatamente libertada.

Por que o governo quer sua mãe presa?
Minha mãe é usada como um troféu pelo governo. Mas, ao mesmo tempo, ela é um símbolo para a maioria dos bolivianos que em 2019 saíram às ruas reivindicando liberdade e democracia

Como o governo do Brasil tem se posicionado?
Sabemos que o presidente Jair Bolsonaro falou em favor de minha mãe. Mas foi apenas uma declaração. Não foram tomadas ações contundentes para reverter esta injustiça e essa afronta à democracia. Fazemos um apelo ao fraterno povo brasileiro e a seu governo para que se interessem mais pela situação que a Bolívia atravessa e pelas violações de direitos humanos. 

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