Foto: Isac Nóbrega/PRFoto: Isac Nóbrega/PR

Não vai ter golpe, mas fazemos o jogo de Bolsonaro

06.05.22 17:46

Já faz tempo que venho repetindo que não haverá golpe militar no Brasil, apesar de todo o golpismo de Jair Bolsonaro (foto). As condições que historicamente levaram a quarteladas não existem. São elas: apoio da maioria da classe média; apoio de grandes banqueiros e empresários; apoio da grande imprensa; apoio de boa parte do Congresso; apoio americano. Golpe para quê? Para manter Jair Bolsonaro no poder e evitar que Lula tome posse, caso vença a eleição? Lula é um risco, como mostra a reportagem de capa da edição desta semana da Crusoé, mas um risco já precificado, num país que se acostumou a pagar altos preços para não sair do lugar ou, até mesmo, andar para trás. Ele comporá com os militares da mesma forma que fez quando ocupou a Presidência.

Com base nessa constatação, não dá para entender o esforço que a imprensa e os tribunais superiores estão empreendendo para manter o discurso golpista de Jair Bolsonaro em evidência. Jornais e emissoras estão assustadiços para além da conta. Faríamos bem à democracia brasileira se não levássemos tão a sério as falas abiloladas do presidente da República. Como levamos, Jair Bolsonaro aumenta o tom, porque sabe que tudo vai reverberar no noticiário. Não se trata de ignorar completamente o presidente da República, mas de dar a justa medida ao seu lero-lero. Estamos assustadiços, mas há outra questão que conta: se Donald Trump alavancou os números da imprensa nos Estados Unidos, Jair Bolsonaro ajuda um pouco a segurar a decadência geral no Brasil e, desse modo, todos nos sentimos obrigados a destacar tudo o que ele diz. Ao amplificar criticamente as suas besteiras, cevamos também os veículos bolsonaristas, que ganham relevância junto ao seu público cativo, no seu jogo de ganha-ganha contra a “extrema-imprensa”. Para não falar, é claro, que repercutir Jair Bolsonaro serve à manutenção do clima eleitoral favorável a Lula, o candidato de muitos jornalistas de grandes veículos. Ao fim e ao cabo (sem farda, por favor), há uma diferença entre a eterna vigilância, o preço da liberdade, e o eterno sobressalto, que pode se voltar contra ela.

No caso dos tribunais superiores, o STF faz o jogo bolsonarista, ao abrir inquéritos de ofício e punir de maneira inquisitorial um deputado desclassificado, por ameaças verbais ao Supremo. Isso deveria ser assunto da Câmara. Francamente, é desproporcional o tempo e a energia gastos com esse Daniel Silveira, eleito no Rio de Janeiro com apenas 31 mil votos e que, agora, pode se lançar candidato ao Senado pelo seu estado, alçado que foi, por Jair Bolsonaro, esse defensor intransigente tanto do AI-5 como da liberdade de expressão, à condição de mártir do pau oco de um pilar da democracia. O bolsonarismo também recebeu um empurrão do TSE, no seu ataque às urnas eletrônicas e consequente tentativa de deslegitimação do processo eleitoral brasileiro. O empurrão foi dado quando o tribunal convidou as Forças Armadas a integrar a Comissão de Transparência das Eleições. Isso abriu uma estrada para que fardados mal-intencionados ou simplesmente empavonados questionassem a segurança das votações — e para que Jair Bolsonaro tirasse da cachola a ideia absurda de a caserna fazer uma apuração paralela à do TSE, “para a gente confiar nas eleições” de outubro. Entendo que, ao convidar as Forças Armadas, a intenção do tribunal foi tentar neutralizar o discurso golpista —  e, naquele momento, até achei que era algo inteligente. Mas a coisa se mostrou um tiro no pé. Foi como promover um desfile de tanques fumacentos na frente do prédio do TSE.  A caserna deve ser mantida a muitos quilômetros de distância do processo eleitoral, porque ela não tem nada — absolutamente nada — a ver com isso.

Se o antibolsonarismo for maior do que o antipetismo e Jair Bolsonaro perder mesmo a eleição, ele irá dizer que houve fraude, macaqueando Donald Trump. É um dado incontornável, não tem jeito. Quanto mais dermos importância a essa malandragem histriônica, maior a chance de que uma turma de malucos tente repetir na Praça dos Três Poderes o que ocorreu no Capitólio americano. Não será bom, pode até morrer gente, como ocorreu em Washington, mas golpe mesmo não ocorrerá.

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  1. A mídia precisa fazer notícia, e, conforme o investidor o discurso muda. Só estou preocupada agora é com os candidatos que essas mídias exaltam e nos enfiaram pelas goelas. TEM LAD.RÕES, TRAIÇ.OEIROS, EGÓLA.TRAS e VING.ATIVOS à escolher.

  2. Acho - no campo mesmo da "achologia chutativa"-, que o grande golpe em curso está sendo dado contra a economia popular (o que detona qq governo), graças aos preços elevadíssimos da Petrobrás, da energia em geral, dos juros; alimentos (esses, em um país que mais os exporta; saldos de balança de exportação viraram sinônimo de subnutrição interna). Ninguém ganha de governo se a Economia vai bem. E governos não se sustentam no oposto. O povo quer pão, mais que ideologias e ismos. Não basta o circo.

    1. Excelentes propostas, caro Amaury! Assino embaixo! você enxerga, o que fazer, e o como fazer; as fontes de recursos (afinal, usar 70 bilhões de U$ das reservas é até pouco, para quem tem quase 400 bilhões)!

    2. Mais uma vez total razão ... por isto prego uma reestruturação da economia voltada para o mercado interno equilibrando a participação e renda dos entes produtivos nas cadeias produtivas com racionalização e unificação de impostos iniciando com elevação nominal do salário mínimo em 50% e isenção de imposto de renda a salários até cinco mínimos indo para consumo ... os custos sociais seriam cobertos internando $70 bilhões de dólares das reservas hoje maiores que o necessário .. falta tutano.

  3. Sabino, Fachin está agindo com inteligência ao aprovar a consulta aos questionamentos dos militares, ele evita o que Bolsonaro tenta, o confronto. O TSE deve apoiar tudo o que Bolsonaro solicitar para fiscalização da eleição, com isso os argumentos dele caem por terra. Ele está putíssimo com o Fachin evitando o confronto.

  4. O bom cronista surtou ou aderiu ao santo d'aime e pirou? Quem joga fora da lei hoje neste país todos sabem e veem a quadrilha do descondenado e tentáculos a fermentar uma suja guerra revolucionária totalitária com um poder submetendo outro pelo terror e tentando impedir o outro a qualquer preço ... só idiotas não enxergam que que a CF a meu ver um aborto matando o país tem autodefesa no Art 142 o antídoto de golpes e com um em adiantada fase que o governo vê e ignora mas até quando? será fatal.

  5. O STE se dobrou aos destranbelhados. O convite - de boa fé - foi boa ideia contanto que o convidado de origem tivesse vindo e não outro que, a meu ver, deveria ter sido rejeitado mas, ainda há tempo, é só dispensar pois se não quer cooperar, atrapalhar não vai.

  6. Esse "Mario Sabinada" esqueceu de dizer que os soviéticos instalaram mísseis em Cuba em 1961 e já tinham mantido seduzido Carlos Prestes e Olga Benário, bem como outros traíras. Na época desses tinha um Vargas pra colocar os pilantras no lugar. Se informe mais, Mário Sabinada. Esse seu discurso FEDE à comunismo enraigado.

  7. Já passou da hora desta Revista que todos confiamos e admiramos proclamar em "alto e bom tom", que o primeiro golpe em nossa democracia foi dado pelo STF, ao anular 07 anos de combate à corrupção e lançar Lula às eleições com a "fantasia de mártir", sob a qual padece a nação despossuída e humilhada pela corrupção. Namastê!

  8. Desde quando milico tem a ver com eleição? Foi mais uma cagada do STF e STE, já que os juízes supremos são os mesmos. No governo do Capitão nunca ficou tão exposto que também nas Forças Armadas tem corrupção, e psicopatas. Qual é a pena do traidor da Pátria, já que os milicos criminosos são os verdadeiros traidores, além dos congressistas corruptos e mafiosos. Nada escapa da corrupção nesse País.

    1. Cai fora, PTralha criminoso. Os PTralhas se cagam de medo dos militares.

  9. Tudo papo para boi dormir. A terceira via não é definida para ganhar pois não há interesse do centrão, comandado pelo União Brasil, ex PSL, DEM, ..., que detonaram qualquer chance de combate corrupto, meteram a mão na grana, com leis da impunidade. Independente de quem seja o próximo presidente, quem manda é o Centrão. Embora certamente se o Capitão vier ganhar, não restará nada de bom no Brasil, tudo será destruído, com seu dedo podre. Felizes os que puderem sair do Brasil, ou já estiver fora.

  10. Tudo para a esquerda é gópi, é gópi, é gópi, .. _ Até parecem aquela velha PTralha, Fátima Bezerra, lá de Natá, ... kkk!

    1. Como não acredito em ninguém que está posto candidato, vou exercer meu direito democrático de não votar, já que o branco e o nulo não são votos válidos - o que não é democrático nem republicano.

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