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‘O antissemitismo não existe no vácuo’, diz novo comissário da OEA

09.10.21 18:31

O advogado brasileiro Fernando Lottenberg (foto) foi nomeado comissário da Organização dos Estados Americanos, a OEA, para monitoramento e combate ao antissemitismo. Lottenberg, que tem doutorado em direito internacional e é conselheiro do Instituto Brasil-Israel, será o primeiro a ocupar o cargo, que foi anunciado em junho pelo secretário-geral da OEA, Luis Almagro. O advogado conversou com Crusoé:

O antissemitismo nas Américas está aumentando ou diminuindo?
É difícil comparar os números de outros anos com esses tempos de pandemia, e nem todos os países coletam dados sobre isso. Quem faz isso de maneira sistemática é a Polícia Federal americana, o FBI, e a Liga Antidifamação. O FBI, em um relatório de agosto, notou uma queda nos atos físicos contra judeus na pandemia. Mesmo assim, dos crimes de ódio religioso, 60% foram contra judeus. É um número espantoso, porque eles são apenas 2% da população. Onde o problema tem crescido mais é nas redes sociais, e isso tem ocorrido tanto à direita quanto à esquerda.

Qual é a diferença entre o antissemitismo de esquerda e o de direita?
O ambiente em que o antissemitismo à esquerda mais cresce é o acadêmico. Há uma demonização de Israel, que é visto como o grande vilão do Oriente Médio. Muitos agridem os membros de comunidades judaicas dizendo que eles são os responsáveis pelos problemas da região. O movimento pelo boicote contra Israel, o BDS, tem muito essa cara. Na direita, o antissemitismo traz as conspirações antissemitas tradicionais, misturadas com histórias falando que os donos dos laboratórios farmacêuticos que fizeram as vacinas são judeus ou afirmando que ninguém morreu de Covid em Israel. Essas teses proliferam entre grupos neonazistas no sul do Brasil, na Argentina e no Chile.

As redes sociais mudaram a maneira como o antissemitismo se manifesta?
Muitas pessoas perderam o medo de se expor. Se antes as pessoas tinham mais vergonha de fazer afirmações contra judeus ou sair com uma suástica, agora elas estão querendo sair em público. 

O que pode ser feito na OEA para combater o problema?
O antissemitismo não existe no vácuo. Ele prospera onde há discriminação e preconceito, mas nada é feito para conter essas agressões. Em geral, espalha-se uma ideia de que aquilo que se considera nacional e autêntico está sendo ameaçado por algum grupo, o que resulta em atos violentos. Sob essa perspectiva, o supremacista branco que ataca uma mesquita na Nova Zelândia não é diferente do sujeito que ataca sinagoga em Pittsburgh. O que se pode fazer na OEA é estimular a elaboração de tratados, os quais depois se tornam leis internas em vários países. A OEA também poderia orientar os legislativos nacionais sobre como combater discursos de ódio nas redes sociais. 

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