Reprodução

O avião iraniano-venezuelano preso na Argentina e os ecos do Aeroterror

16.06.22 17:28

Entre 2007 e 2010, o voo VO3006 fez a rota entre Caracas, Damasco e Teerã transportando armas, drogas e dinheiro sujo. Apelidado de Aeroterror, o avião, praticamente sem passageiros, fazia a conexão entre as ditaduras do venezuelano Hugo Chávez, do iraniano Mahmoud Ahmadinejad (foto) e do sírio Bashar Assad. Era operado pela companhia aérea venezuelana Conviasa, hoje sob sanções americanas, e pela iraniana Iran Air.

Na segunda, 6 de junho, a apreensão de um avião da Emtrasur, controlada pela Conviasa, no aeroporto de Ezeiza, perto de Buenos Aires, trouxe de volta as lembranças do Aeroterror. O avião tinha iranianos e venezuelanos entre sua tripulação e o destino de sua carga é um mistério. Enquanto as investigações patinam na Argentina, Crusoé conversou com Jason Brodsky, diretor de política da ONG United Against Nuclear Iran, Uani, em Washington. Brodsky coordena o setor de pesquisas da instituição e falou sobre o caso.

O sr. tem alguma ideia do que o Irã pretende com esse voo da Emtrasur que foi detido na Argentina?
O Irã afirma oficialmente que os iranianos a bordo eram instrutores, mas há um histórico de a Venezuela fornecer um ambiente permissivo para facilitar as viagens de agentes da Força Quds, da Guarda Revolucionária do Irã, na América do Sul. Por isso, as autoridades argentinas estão suspeitando com razão do voo da Emtrasur. Isso sem mencionar que a aeronave já pertenceu à companhia iraniana Mahan Air. O avião em questão foi colocado sob sanções pelo governo dos Estados Unidos, em 2012, por facilitar a transferência de armas ao regime sírio. É preciso também olhar as ligações do piloto Gholamreza Ghasemi. Ele é, de longe, o mais significativo dos iranianos que tiveram o passaporte apreendido. Ghasemi manteve relações com a Qeshm Fars Air, que foi alvo de sanções por fornecer apoio à Força Quds. 

Qual é a diferença entre o Aeroterror, que existiu entre 2007 e 2010, e este avião preso em Ezeiza?
Este voo tinha poucos passageiros a bordo, algo que também acontecia no Aeroterror, da era do iraniano Mahmoud Ahmadinejad. Nele, havia tripulantes do Irã e existe a suspeita de que o avião era desse país. Mas, até agora, não vi nenhuma evidência de que a aeronave transportava drogas, dinheiro ou armas quando foi apreendida, o que torna essa situação diferente. Outro ponto que precisa ser analisado pelos investigadores é se algum passaporte falso foi emitido para esses iranianos a bordo, pois essa foi uma marca registrada do Aeroterror.

Como o Irã usa voos comerciais para fins militares?
O Irã usou companhias aéreas como Iran Air, Mahan Air e Qeshm Fars Air para transportar armas para seus parceiros. De fato, Israel acaba de revelar que o genro do falecido comandante da Força Quds, Qassem Soleimani, Reza Safieddine esteve no centro de uma rede de contrabando de armas. Safieddine é filho de um líder sênior do Hezbollah. As cargas que ele embarcou em Teerã eram enviadas por aeronaves comerciais para o Aeroporto Internacional de Damasco, onde eram recolhidas pelo Hezbollah. Certas companhias aéreas, especialmente a Mahan Air e a Qeshm Fars Air, estão intimamente associadas à Guarda Revolucionária do Irã.

A Argentina e o Brasil deveriam se preocupar com a penetração iraniana na América do Sul?
Sim, especialmente por causa da presença do Hezbollah. A Argentina tem um histórico de terrorismo iraniano com o atentado à Amia, em 1994. Há alguns meses, o vice-presidente de Assuntos Econômicos do Irã, Mohsen Rezaei, que participou do atentado à Amia e tem um pedido de captura da Interpol, voou para a Nicarágua. Quando isso aconteceu, temi que outros oficiais iranianos procurados, como o ministro do Interior Ahmad Vahidi, passassem a se sentir mais à vontade para viajar. Mas a apreensão deste avião pela Argentina fará com que o regime iraniano pense duas vezes antes de enviar figuras importantes ao exterior no futuro. A dissuasão é importante. A Argentina avançou em considerar o Hezbollah como uma organização terrorista, mas o Brasil ainda precisa dar esse passo. Há uma preocupação especial com o papel de Bilal Mohsen Wehbe, que é um líder sênior do Hezbollah na América do Sul. Ele se tornou cidadão brasileiro em 2000 e atua na Tríplice Fronteira. A infiltração do regime iraniano — especialmente através da Força Quds e do Hezbollah — gera grande preocupação. As conexões daqueles que estavam a bordo do voo da Emtrasur cristalizam essa ameaça.

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
  1. Incrível como aquela parte do mundo só "exporta" tranqueira e maldade. O Brasil aos poucos está se tornando a bola da vez no quesito cobiça pra essa raça. Todo cuidado é pouco, principalmente, em determinadas fronteiras e países, ....Venezuela, Cuba, Nicarágua, por exemplo, estão doidos pra espalhar o tal socialismo na América Latina como um todo. A eleição no Brasil já ganhou visibilidade.. principalmente aquela indesejável....

  2. Sásinhora.... como se Ñ bastassem os trágicos problemas q já temos, mais esse se enraizando!!!! Já há até um ""líder sênior do Hezbollah na América do Sul tornado cidadão brasileiro desde 2000 e atuando na Tríplice Fronteira""!!!! Era só o q nos faltava: um """presente""" tenebroso desses criminosos esquerdopatas celerados para a AMÉRICA LATINA!!!!! Aí PF e FFFAAA.... larguem o leite condensado e o viagra e dêem logo um jeito nisso porque se depender dos 2 marginais, estaremos todos perdidos!!!!

    1. Riqueza de dados e detalhes, DUDA TEIXEIRA, ótimo trabalho de pesquisa e investigação!!!

  3. Duda, se tiver um tempinho, explica essa história desde o começo com aquele ar professoral porque eu não entendi quase nada! Por favor...😬

    1. Juliana, bem observado. Para o tipo de "jornalismo" que faz o Duda o que vale é a manchete.

Mais notícias
Assine agora
TOPO