Foto: Reprodução

O bolsonarismo sobreviverá a Bolsonaro

25.07.22 16:02

Se Jair Bolsonaro (foto) não se reeleger presidente da República, o bolsonarismo sobreviverá? É uma questão que racha, com trocadilho infame, opiniões. Há quem acredite que não. Que, com Jair Bolsonaro sem mandato e sem partido próprio, o chefe da extrema-direita definhará politicamente e voltará a ser, na melhor das hipóteses para ele, um parlamentar do baixo clero. Entre os que partilham dessa opinião, somam-se aqueles que acham que Jair Bolsonaro será condenado criminalmente, talvez até preso, e nem mesmo poderá se candidatar a síndico. Com o seu protagonista no ostracismo, o bolsonarismo estaria, assim, fadado a desaparecer, se não com uma explosão, com um suspiro de movimento de pouca expressão.

Do lado oposto, há, principalmente, os bolsonaristas que não acreditam que o seu chefão possa perder a próxima eleição. Que levam adiante a historieta mentirosa de que o sistema de votação brasileiro é suscetível a fraudes e que uma farsa gigantesca já foi montada para Jair Bolsonaro ser vencido — e que, se a farsa concretizar-se, o “enviado de Deus” ainda assim terá força suficiente para continuar a sua missão e “libertar” o Brasil das garras de um establishment corrupto e liberticida, como se Jair Bolsonaro há mais de três décadas não fizesse parte dessa ordem social e política que tanto abominam.

Não sou bolsonarista, como sabem os que me leem, mas tendo a crer que, se Jair Bolsonaro for derrotado, o bolsonarismo não terá o seu ocaso. Está certo que ele não conseguiu construir um partido nem mesmo como presidente da República. Também é verdade que, uma vez sem mandato, o atual presidente terá sérias complicações jurídicas pela frente, em especial nos processos comandados pelo ministro do STF Alexandre de Moraes. Mas, na minha opinião, o bolsonarismo sobreviverá independentemente desses fatores objetivos. Isso porque o bolsonarismo é um sebastianismo. Se o lulismo é um sebastianismo de esquerda, o bolsonarismo é um sebastianismo de direita. Assim como o lulismo, ele é uma ideia — uma má ideia — que tende a ficar viva depois que o sebastião em questão morre, de forma metafórica ou não.

O que vivemos neste momento é um exemplo do sebastianismo lulista. Lula morreu ao ser preso, ressuscitou (ou foi ressuscitado, não importa) e, mais do que nunca, vende-se (e é vendido) como salvador da pátria. Na hagiologia esquerdista, ele nunca foi tão mitificado. Com Jair Bolsonaro, creio eu, o fenômeno será semelhante. Caso venha a perder a eleição, ele será visto nas suas hostes como mártir de uma fraude, de modo parecido ao que ocorreu com Lula quando foi preso pelos “golpistas” da Lava Jato. Se for em cana, a convicção do seu martírio se fortalecerá religiosamente entre os seus seguidores — e eles ansiarão pela volta daquele que, aos olhos deles, veio para nos salvar (e Lula, aqui, é outra vez bom paralelo). A alopragem santificante em torno do “Mito”, como se viu no lançamento oficial da sua candidatura, tem método.

A esquerda brasileira contava com o sebastião Getúlio Vargas e agora conta com o sebastião Lula. Faltava um sebastião à direita, visto que nenhum general quis ou conseguiu se prestar a esse papel. Não falta mais: o ex-capitão tomou para si o personagem. Jair Bolsonaro encarna uma direita que perdeu o medo — ou a vergonha — de ser feliz a seu modo. Acho que o bolsonarismo sobreviverá por longo tempo, seja por meio do próprio ou de um continuador. O lulismo idem. Triste país. Gostaria de estar errado.

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  1. Infelizmente você não está errado, Mário. Assim como o Peronismo sobrevive até hoje, o Lulismo e o Bolsonarismo sobreviverão aos dois crápulas. Triste país este Bananão.

  2. Sem dúvida! O sistema nos venceu ao nos impor a escolha entre a cruel realidade e a insuportável mentira. Não o farei! Votarei em branco pela primeira vez na vida. É o que nos resta. Penso! Namastê!

  3. Nós estamos fadados a viver como o peronismo na Argentina. Mas lá, é apenas o peronismo, uma vez que o kichernerismo não sobreviveu. Aqui o lulismo e o bolsonarismo vão sobreviver por muito tempo, infelizmente.

  4. Os salvadores da pátria se renovam mais pelo desejo da população em ter seus problemas resolvidos milagrosamente por outrem. Afinal a maioria do povo não quer "esquentar a cabeça", isso dá muito trabalho.

  5. O bolsonarismo sobrevirá sem Bolsonaro. A direita a muito adormecida parece que começa há acordar. Teremos um governo de esquerda (lulista) que enterrara o esquerdismo brasileiro, pois depois do Bolsonaro nem o Anjo do Cavalo Branco fará um bom governo. É divida e falta de dinheiro de mais há espera do próximo governante.

    1. Infelizmente na minha vida inteira só vi piorar.

  6. Como republiqueta bananeira que somos, deve haver mais algum ‘sebastião’ escondido por aí, a aguardar o seu momento. O problema do Brasil é o seu povo analfabeto e de má índole. Difícil consertar isso.

  7. Com ou sem sebastianismo, quem viu o rigoroso questionamento, feito pela turma implacável da Globonews, ao vivo e durante 2:30 horas nesta noite de segunda-feira, já sabe: SIMONE TEBET será eleita presidente do Brasil 🇧🇷

    1. Aí Silvia nós acordamos todos cagados ... kkkkkk.

  8. O Brasil só será um país decente quando acabar o "sebastianismo", quando ninguém mais acreditar que um "ungido por Deus" salvará o país.

  9. Os países da América do Sul são pródigos na produção de governos populistas, de direita ou de esquerda. Esses personagens fazem parte da nossa sina, infelizmente.

  10. Discordo de que Bolsonaro será visto como "mártir de uma fraude". Ao contrário, ele é que passará para a história como tendo sido uma fraude, um enganador que nada fez pelo bem do País, um acidente de percurso pelo qual o Brasil não merecia ter passado.

  11. Todo movimento politico construído em torno de um fuhrer ( lider) seja de direita, esquerda ou teocrático se perpetua através dos tempos por atender a uma carência psicológica dos seus liderados. Democracia liberal moderna por outro lado desmistifica líderes e os reduzem a simples mortais pagos com o dinheiro do contribuinte e traz a responsabilidade para cada um de nós. Para muitos isto é insuportável. Daí a permanência dos Sebastian ismos.

  12. Também gostaria que você estivesse errado. Mas acho que essa erva daninha, mesmo arrancada, vai continuar a vicejar. O país me desanima...

  13. Sem nenhuma dúvida o perdedor desta eleição será definitivamente excluído da vida política do país mas certamente qualquer eleito teremos quatr9 duros anos.

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