Foto: Reprodução/ Redes SociaisO assassinato de Genivaldo: tão excruciante quanto ver George Floyd sufocando sob o joelho de um policial bandido.

O Brasil dos Genivaldos

Essa é a polícia de sempre, esse é o Estado de sempre, e essa questão passa longe de ser resultado deste ou daquele político, das ideologias de direita ou de esquerda
28.05.22 11:43

Na última quarta-feira, na cidade de Umbaúba, em Sergipe, agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) tiveram a grotesca ideia de conter um preso trancando-o no porta-malas de uma viatura policial, em companhia da fumaça tóxica de uma bomba de gás.

Genivaldo de Jesus, que tinha problemas psíquicos e havia sido detido por pilotar uma motocicleta sem capacete, morreu.

O fato conta com bastante acurácia como funciona (ou melhor, como não funciona) o Brasil. Se você, por acaso, for um Genivaldo, não tiver condições financeiras e, de quebra, ainda morar em uma região longínqua dos polos econômicos do país, aposte que o Estado – não apenas a polícia – te tratará como se trata um nada, ou quase nada.

Enganam-se aqueles que saem dizendo nas redes sociais que a culpa da truculência policial é do Bolsonaro, pois essa seria a polícia que ele formou, ou que a culpa é do Lula, pois essa polícia seria seu legado. Balela. Essa é a polícia de sempre, esse é o Estado de sempre, e essa questão passa longe de ser resultado deste ou daquele político, das ideologias de direita ou de esquerda que ocupam ocasionalmente o poder.

Afinal de contas, se na direita uns merecem a complacência e a preocupação do perdão presidencial, se na esquerda outros merecem a liberdade e o punir para quê, se o crime já foi cometido, os Genivaldos não merecem nada – só a prisão e o gás. Nem a esquerda, nem a direita, ninguém se importa.

E isso não muda no Brasil e ninguém no Brasil muda isso porque a questão não é política ou ideológica, mas profunda e estrutural. Vem do Brasil Império, passa pelo Brasil República e segue interessando que tudo fique como está. Vale a pena a muitas pessoas que Genivaldos sucumbam sem ter direitos, que os direitos privilegiem apenas a alguns poucos e que esses poucos deem de ombros para os que sucumbem.

Enquanto houver um país que asfixia seu povo num camburão, haverá a necessidade de que esse mesmo povo seja amparado, acolhido, governado pelos populistas de direita e de esquerda, e que qualquer benefício recebido seja pago com o que há à mão: o voto.

É apenas para isso que servem no Brasil os Genivaldos.

André Marsiglia é advogado. Atua com Liberdade de expressão e imprensa. Consultor da Repórteres sem Fronteiras

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