Ricardo Stuckert/PR

O Brasil é um círculo vicioso

Em vez de desenvolvimento econômico, nossos políticos preferem se refestelar nas emendas parlamentares e garantir as reeleições nos seus feudos eleitorais
13.06.23 17:28

O arcabouço fiscal do ministro Fernando Haddad se tornou uma espécie de ideal platônico. As ideias mudam, mas os modelos são eternos. No Brasil, o problema é que as ideias e os modelos são eternamente errados. O PT se aperfeiçoou na arte de usar caixa 2 nas eleições. Agora quer usar toda sua habilidade em escamotear receitas não contabilizadas em campanhas eleitorais para sumir com as despesas que podem desequilibrar as contas do governo.

Mas, para o PT, as questões práticas são meros formalismos desnecessários. Por isso Lula se sente liberado para sair por aí fazendo afirmações bipolares. Num dia, exaltado, xinga os adversários de fascistas. No outro, benevolente, promete isenção de impostos para montadoras de automóveis (foto) e igrejas evangélicas. Como não vivemos no mundo das ideias platônicas, resta saber qual recurso o governo abrirá mão para transformar todas as promessas abstratas em realidade palpável.

Uma parte da imprensa tenta ajudar, esboçando explicações otimistas de como se dará o milagre da “retomada do crescimento econômico” prometida pelo ministro Fernando Haddad. Acontece que todos os governos sempre apresentaram planos mirabolantes para a “retomada do crescimento econômico”. Com cálculos de variáveis complexas e uma infinidade de ideias abstratas, já justificaram congelamentos de preços, confiscos de poupanças, aumento de impostos e distribuições generosas de verbas e subsídios fiscais para os empresários que apoiam o governo.

É um círculo vicioso. E, como sabemos, o vício nunca evolui, apenas se cristaliza para manter-se como hábito. O Brasil é mais ou menos como aqueles programas de fidelidade das empresas de telefonia. Elas prometem tudo aquilo que não conseguem cumprir. Quando reclamamos, nos torturam com gerundismos e assistentes virtuais que nunca oferecem as opções que precisamos para resolver os nossos problemas. Os políticos costumam ser um pouco piores porque, sem gerundismos ou assistência virtual, nunca se preocupam em resolver os problemas da população, embora estejam sempre preocupados em resolver os próprios problemas. Em vez de desenvolvimento econômico, preferem se refestelar nas emendas parlamentares e garantir as reeleições nos seus feudos eleitorais. E, assim, vamos regredindo, de retrocesso em retrocesso, do discurso tecnocrático, com seus cálculos de variáveis complexas e ideias abstratas, para a política rudimentar, das picaretagens, das rachadinhas e das indicações de amigos pessoais para o Supremo Tribunal Federal.

Ninguém duvida que o Brasil tem tudo para se tornar uma memorável história picaresca. Mas a realidade é que jamais conseguimos superar a irrelevância das inacreditáveis pornochanchadas da década de 1970. Insistimos em coisas que nunca dão certo, esperando que, de erro em erro, alcançaremos a eterna promessa de nos tonarmos um país do futuro.

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  1. Desculpa mais a verdade é o povo brasileiro merece os políticos que elegem o país dos analfabetos funcionais 🤮🤮🤮🤮🤮

  2. É isto e muito mais. Enquanto o dinheiro público, arrecado com os impostos, for mantido nesta caixa preta, onde não se mostra efetivamente como foi usado. Vamos continuar somando dois mais dois para dar cinco.

  3. ...E viciado. A última frase é incrível e demonstração da esquizofrenia nacional: fazemos tudo errado, aprendemos a custo que o erro não resulta em progresso, mas a nossa fé no sucesso renova-se a cada novo erro que adotamos. O caminho certo, que todos enxergamos, fazemos de tudo para não pôr em prática ou por ser difícil ou por não ser conveniente. Assim nos dedicamos a arranjinhos e improvisações mequetrefes que nos garantem o terceiro-mundismo eterno

  4. Mas, reclamar de que? Nós, eleitores somos os verdadeiros culpados por esta trágica pornochanchada que assistiremos eternamente.

  5. Dito, bem dito e bendito, DIOGO CHIUSO. Síntese perfeita do que ocorre e resulta da alternância de celerados na presidência da república e, na verdade, sabemos, do atraso e da incompetência das 3 funções do Estado.

  6. Estamos atrasados em dois séculos tentando somar dois mais dois, esperando que o resultado seja diferente de quatro, não sairemos das trevas tão cedo.

  7. EXCELENTE TEXTO. COMPILOU TODOS OS MEUS PENSAMENTOS. NADA MAIS A DIZER ALÉM DO POVO BHURRO BRASILEIRO QUE VOTA NESSES CANALHAS.

  8. Não por acaso um deputado na CPIzza dos atos democráticos ao criticar a recusa de convocação dos ministros do GSI e da Justiça chamou seus pares que acusou de se venderem ao governo de PROSTITUTAS no que faço veemente PROTESTO pois nossas laboriosas putas nunca foram tão ofendidas e não podem ser comparadas a esta escória.

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