Valter Campanato/Agência BrasilPalácio do Supremo Tribunal Federal destruído, após distúrbios no ultimo domingo

O Brasil é um país de radicais?

14.01.23 09:59

Dentro dos muros de nossa cordialidade, guardamos um autoritarismo que, se não é causa, é resultado da sequência de golpes que puseram e tiraram governantes pela espada e pela lei, durante toda a história de nosso país. Os poucos que conseguiram até hoje terminar seus mandatos acabaram presos,  fugidos ou esquecidos.

O radicalismo introjetado em nossas raízes culturais e sociais impede uma vida democrática mais plena. Quando partidos de esquerda ou de direita se alternam no poder, quem ganha passa quatro anos ocupado em desfazer o que foi feito, acreditando que seus valores são os que importam. O resto é lixo. 

A oposição, por sua vez, não busca agregar, mas boicotar de todas as formas a viabilidade do governo eleito. Não há diálogo, mas golpes, denúncias, dossiês e prisões. Governo e oposição no Brasil só se entendem quando um compra o apoio do outro com cargos e benefícios, também algo muito típico de nossa República, em que o dinheiro público é tratado como dinheiro de ninguém; o que é de todos não tem dono

Natural que chegássemos onde estamos. Os atos radicais de invasão e depredação de prédios públicos, símbolos de nossas instituições, nada mais são do que um passo a mais nessa caminhada autoritária. O mesmo se pode dizer do governo e do Judiciário que parece terem entrado em uma disputa de quem dá a resposta mais dura aos atos do último domingo. O governo determinou a intervenção na segurança pública do Distrito federal, o Supremo Tribunal Federal,  mesmo sem ninguém pedir, afastou o próprio governador, algo inédito e muito controverso na jurisprudência do país. 

Amin Malouf, em seu livro Naufrágio das civilizações, afirma que a passagem da barbárie à civilização em uma democracia adulta exige que cada um assuma o conjunto de seus pertencimentos e, ao menos um pouco também, o dos outros. Sem o outro, sem todos os outros, não sobra nada. Não sobrar nada é resultado inevitável dos radicalismos e a face de nossa política degenerada, em que estamos sempre começando tudo de novo, escolhendo o menos pior para tirar do poder o menos pior que foi escolhido antes

Tomara que a indignação com tanta instabilidade gerada possa nos fazer sentir a urgência de termos vozes mais moderadas na política nacional. Quem sabe o radicalismo, que tanto nos impede de avançar, possa ser a chance de criarmos uma oposição equilibrada. O equilíbrio está sempre em algum lugar – às vezes, no mais inesperado deles. Espero, sinceramente, que o radicalismo sirva ao menos para nos impulsionar para fora dele.

 

André Marsiglia é advogado, pesquisador e articulista. Escreve sobre direito e política.

andremarsiglia.com.br

@marsiglia_andre

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  1. Infelizmente saiu a tchutchuca anencefala do centrão ,entrou o che fé do quadrilhão .tudo para o retrocesso e para encher as cuecas de 💰💰

  2. De fato Marsiglia. Ficamos nessa roda entra um, destrói tudo que o anterior fez (bom ou ruim), muda de nome, revê os projetos, estratégias etc. Nunca nada está bom para que um governo seguinte assuma a continuidade do antecessor. Acima de tudo eles são vaidosos e querem que tudo seja suas "carinhas". Deveriam pensar nas necessidades do povo, não nos seus próprios umbigos. O Brasil não irá para a frente enquanto ficarmos nessa ladainha.

  3. E não há qualquer perspectiva de melhora nessa ciranda. Sai um imbecil, irresponsável, inconsequente e coloca-se no lugar um assaltante dos cofres públicos, demagogo, pelego, fraldador da previdência. Não existe o menos ruim; são ambos péssimos.

    1. Os cínicos justificam seus subservientes erros e nivelam tolos ou insanos a ladrões criminosos apenas para amaciar seu ego apodrecido e covarde ignorando que a razão até para sobrevivência mais digna sabe escolher os males menores e muitos o fizeram sem medo ou pseudo justificativas tolas ... a boa estratégia é fruto de educação equilibrada, inteligência e coragem tudo que os tolos e vacas de presépio jamais terão por como cães estão empanturrados com o lixo que lhes dão seus donos.

    2. Não havia alternativa viável e com as urnas indevassáveis dos sinistros Verboso e Xandão nem Zeus ganharia esta eleição e o novo Senado como primeiro ato será uma CPI para apurar os graves indícios de fraude e em abrindo o código fonte do programa isto será apurado com precisão e aí veremos ... uma reportagem extensa e bem feita sobre o cabeludo assunto saiu hoje numa revista americana que a imprensa cúmplice vendida aqui já diz feiquinius ... aííííí deeeeentu !!!

    3. Sim, ambos são péssimos! Mas essas duas alternativas, de certa maneira, foi escolha do próprio povo, que ficou cego pela polarização.

  4. O Brasil é um paiseco dominado pela corrupção, numa combinação fatal com a ignorância. Os paradigmas são abjetos.

  5. Partidos políticos com donos, igual a capitanias hereditárias, nos oferecem esse cardápio para votarmos. Tudo muda (?) para ficar como sempre esteve. Esse sempre será o jogo. Espírito público, decência, honradez passam longe. Vale o ditado “cachorro com muitos donos morre de fome”. Somos cães.

  6. Não ... o Brasil é um país de idiotas, ignorantes, omissos e submissos e nãoo por acaso dominado por uma quadrilha que controla e esmaga a nação que alterna eleger idiotas ou ladrões que transformaram um país rico num galinheiro.

  7. Não, de idiotas. Já perdi a esperança de pedir por moderação na política porque aqui a moderação se traduz na manutenção do status quo de negociatas, acordos espúrios, currais eleitorais, etc. É preciso romper com isso respeitando a institucionalidade. E só se pode fazê-lo apenas através do voto consciente que nosso povo, analfabeto, mal instruído, informado e nutrido, não tem capacidade de fazer. E é nessa armadilha que nossos políticos apostam em manter o povo, para manter seu estatuto.

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