Foto: Ricardo Stuckert/PR

O “mundo melhor” dos sonhos da geração de Dilma Rousseff

14.04.23 12:02

Em discurso dado em Xangai na quinta, 13, o presidente Lula (foto) afirmou que “Dilma Rousseff pertence a uma geração de jovens que nos anos 70 lutaram para colocar em prática o sonho de um mundo melhor – e pagaram caro, muitos deles com a própria vida“.

Crusoé conversou com o analista político Victor Missiato, doutor em história política e professor do Colégio Presbiteriano Mackenzie – Tamboré para comentar essa declaração do presidente. Segue a entrevista:

 

O que o sr. achou da frase de Lula sobre Dilma e a geração de jovens que lutou “para colocar em prática o sonho de um mundo melhor“?
Essa frase é uma meia-verdade. Muitos jovens se arriscaram a transformar o mundo através de uma perspectiva revolucionária nos anos 50, 60 e 70. Eles buscaram uma revolução socialista, comunista, anarquista, libertária ou nacionalista, em vários movimentos internacionais. No entanto, dizer que uma utopia de um mundo melhor poderia ocorrer por meio de suas ações não faz sentido. Haja vista que muitos movimentos que chegaram ao poder, principalmente na Ásia, na África e na América Latina, transformaram-se em ditaduras muito autoritárias. Isso ocorreu na Nicarágua, em Cuba, na China, em Angola, em Moçambique, na Coreia do Norte e no Vietnã. Além de criar regimes autoritários, eles promoveram uma distribuição da pobreza. Não houve uma transformação estrutural dessas sociedades no sentido de enriquecimento, prosperidade e progresso. Pelo contrário. Muitas dessas sociedades ficaram atrasadas em relação ao desenvolvimento global e até hoje pagam por essa opção revolucionária. 

Que mundo melhor era esse sonhado pelos jovens dos anos 70?
Essa ideia precisa ser muito criticada e relativizada. Havia um autoritarismo por trás desses movimentos, inclusive naquele em que Dilma Rousseff participou. Era a lógica da ditadura do proletariado. Aqueles que se opunham a essa ideia eram considerados traidores, subversivos e desertores. Eles poderiam pagar com a própria vida, como vários movimentos guerrilheiros acabaram por ceifar a vida de antigos aliados, que foram considerados como traidores, reformistas ou pelegos. 

Os grupos de Dilma (Colina, VPR e VAR-Palmares) empregaram métodos terroristas?
Muitos dos grupos revolucionários, principalmente após o golpe de 1964, adotaram práticas terroristas e guerrilheiras, tanto no campo como nas cidades. Eles tinham como método o sequestro e os atentados. Buscavam aterrorizar a sociedade para ganhar notoriedade e apoio na época da ditadura. Muitos desses bandos foram derrotados. E muitas das vidas jovens que o Lula citou em seu discurso em Xangai correram risco justamente por terem pego e armas para lutar contra militares. A maioria das pessoas morreu por causa de ações armadas no Brasil. Evidentemente, isso não exclui a questão autoritária da nossa ditadura e a morte de muitas pessoas inocentes opositores ao regime que nunca pegaram em armas. Mas muitos dos que pegaram em armas, principalmente os que foram para o Araguaia, sofreram as consequências de uma guerra civil.

Lula também insiste em que Dilma não sofreu um impeachment, mas um golpe. Ele precisa limpar o currículo da ex-presidente?
A estratégia de Lula em trazer Dilma como uma corrente da sua linhagem política tem várias razões, como o fato de ela ser mulher e ter sido a primeira presidente mulher do país. Além disso, ela faz parte de um grupo que, embora não tenha origem no PT, é fortemente ligado a ele, formado por partidos mais radicais de esquerda, como o PCdoB, o PSOL, o PCB. Essas siglas ainda alimentam a visão de que esses movimentos guerrilheiros revolucionários defendiam a democracia. Dilma também fala isso. É uma falsidade. Esses grupos nunca lutaram pela democracia. Na verdade, eles projetavam uma perspectiva socialista e sabemos que esses grupos, ao chegar ao poder, instalaram regimes extremamente autoritários e sanguinários. Alguns deles persistem até hoje. Eles consideram a democracia liberal como uma “democracia burguesa” ou de uma “falsa democracia”.  

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  1. Aquela velha história o sapato é feio porque está de outro, basta ter a oportunidade de calça-lo e ficará bonito.

  2. O que não me conformo é que ainda existam intelectuais de esquerda e aqueles artistas da década de 70 que ainda apoiam o PT. Perdi o respeito por Chico Buarque, Caetano Veloso e suas vertentes. Não posso nem ouvir fala de Paulo Freire (sou professora universitária e me sinto apta a criticá-lo). Só Paulo Coelho saiu do armário. O que pensam os demais? Cuba para o Brasil, e Paris para eles?

  3. Será que alguém que militou na COLINA, na VAR e na VAR-PALMARES tinha sentimentos tão nobres assim? Será que sua música é filosofia eram a de IMAGINE?

    1. O “mundo melhor” está aí: Dilma com um salário mensal de quase 300 mil.

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