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O que quer Evo Morales com o Conselho Andino da Coca

14.08.21 12:09

O ex-presidente da Bolívia Evo Morales (foto) tem visitado regularmente o Peru. No final de julho, ele esteve em Lima para a posse de Pedro Castillo. Na semana passada, se reuniu com organizações sociais, incluindo as que representam plantadores de coca.

Nas duas viagens, Morales sugeriu a criação do Conselho Andino de Produtores da Folha de Coca, que incluiria agricultores da Bolívia e do Peru.

Morales é presidente das seis federações de produtores de coca da região do Chapare, na Bolívia, onde a maior parte da produção vai para o narcotráfico.

Ao justificar sua iniciativa nas redes sociais, o boliviano disse que “a América Latina não é o quintal dos Estados Unidos“. Segundo ele, são os americanos que estimulam as drogas.

Onde tem base militar americana, cresce o narcotráfico. Nós fechamos as bases militares e estamos melhor no combate a esse fenômeno, tudo sem a Drug Enforcement Administration (a DEA, a agência americana de combate ao tráfico de drogas) e sem a Agência dos Estados Unidos para Desenvolvimento Internacional (a Usaid, outra agência americana, voltada para o auxílio a outros países)”, disse Morales ao propor o Conselho.

Em 2008, durante seu primeiro mandato, Morales expulsou a DEA da Bolívia. Em entrevistas antes de se tornar presidente, o peruano Pedro Castillo disse que faria a mesma coisa.

Decifrar a intenção real de Evo Morales com a iniciativa não é tarefa fácil. Uma das possibilidades é que ele esteja querendo se promover no exterior, com o objetivo de se fortalecer internamente. “Morales pode estar querendo montar uma retaguarda política a nível regional, acumulando reconhecimentos, em meio a um desgaste interno“, diz o sociólogo colombiano Ricardo Vargas Meza.

Outra possibilidade, mais preocupante, é que Morales tenha um projeto mais ambicioso para os grupos paramilitares que o defendem e atacam seus adversários. “Ele está trabalhando para que o Conselho coordene as tarefas de defesa dos cocaleros dos dois países. Minha suspeita é que ele esteja coordenando as ações das milícias armadas de cocaleros do Chapare com o Sendero Luminoso e, talvez, com as Forças Armadas Revolucionários da Colômbia, as Farc. Se for isso, o Conselho também seria uma espécie de pacto armado“, diz o jornalista boliviano Humberto Vacaflor, de La Paz, especialista em narcotráfico.

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