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O STJ e a galinha abatida

Não é razoável conviver com decisões inconsequentes a ponto de serem capazes de resultar na morte de pessoas. Se o valor da economia estiver acima do valor da vida, a função social será o mesmo que nada
11.06.22 13:56

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) andou mal, muito mal nesta semana. Na última quarta-feira, dia 8, ao decidir que o rol de procedimentos listados pela ANS para a cobertura dos planos de saúde deveria ser taxativo, e não exemplificativo, gerou revolta nos que esperam do Judiciário, em especial das cortes superiores, decisões justas.

Antes de o STJ visitar o tema, se cirurgias ou tratamentos médicos estivessem fora do rol da Agência, era corriqueiro que o Judiciário os autorizasse, avaliando a pertinência de cada solicitação. Agora, pós-STJ, estamos diante de uma incógnita. Obviamente, o Judiciário ainda pode ser acionado, seja porque a decisão do STJ não tem efeito vinculante, seja porque é obrigação do Judiciário revisitar sempre temas espinhosos. No entanto, esse novo contexto fará com que os juízes passem pelo constrangimento de ter de decidir entre a vida de um cidadão e o entendimento da Corte.  

Um antigo ensinamento judaico contava que, certa vez, um homem com muita fome e de posse de uma galinha morta foi ao rabino da cidade perguntar se poderia comê-la. O rabino, convencido de que a galinha não havia sido abatida conforme os preceitos religiosos, subiu à biblioteca e foi aos livros confirmar sua tese. Depois de algum tempo, retornou e nem o homem nem a galinha estavam mais lá. Da porta, a esposa do rabino, que acompanhara toda a cena, disse: “você olhou a galinha, foi olhar os livros e diria para que o homem não a comesse. Eu olhei a galinha, o homem com fome e mandei que comesse”.

Não é razoável em uma democracia termos de conviver com decisões inconsequentes a ponto de serem capazes de resultar na morte de pessoas. Se o valor da economia estiver acima do valor da vida, a função social, motor dos Estados democráticos modernos, será o mesmo que nada.

O rol taxativo ainda será apreciado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em  Ação Direta de inconstitucionalidade (ADI) que tramita na Corte. Esperemos que  o tema seja desta vez analisado com mais humanidade. Que olhem para a galinha e para os livros, mas, sobretudo, que nossas Cortes comecem a olhar um pouco mais para o povo. 

André Marsiglia é advogado e escreve sobre Direito e Poder.

andremarsiglia.com.br 

@marsiglia_andre 

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    1. Meu bom Marsiglia, fazia tempo que não lia coisa tão boa. Não sou pobre n milionário , mas longe de problemas maiores, a vida está acima de tudo, o amor , o sexo, o prazer, a SAÚDE ....

  1. Trata-se de mais um evidente, quase flagrante, caso de corrupção de valores morais. Talvez outros tipos de corrupção. O judiciário brasileiro está completamente doente, corrompido e a mulheres de quilômetros de sua população que deveria defender usando as leis.

  2. Belo entendimento de Justiça e povo, espero que nossos Deuses do Olimpo da justiça brasileira atentente-se para esse ensinamento judaico, muitas coisas na vida do brasileiro precisa desse ensinamento.

  3. STJ tranca ação contra homem por ganhar 3,70 com a venda de bilhetes do metrô. Gasta-se fortunas nos tribunais julgando casos de valor insignificante, a formalidade jurídica carece de humanidade nos julgamentos desses togados seres superiores.

    1. Mas para soltar um dos maiores ladrões do brasil e esse ladrão ter grande chance de ser presidente em 2022 eles arrumam um jeitinho.

  4. Esse novo contexto criará constrangimentos a alguns juízes. A outros, preguiçosos, (eles os há em profusão) terá abreviado o dever de decidir. Já decidiram por eles.

    1. Antonio, só pra constar, não foi o STJ que "descondenou" o vigarista mor. Foi o STF. O STJ manteve as justas condenações.

  5. Na (in)justiça brasileira interessa só os problemas das grandes corporações. Os da Sociedade brasileira são apenas detalhes. Que comam brioches... (ou que se virem com o SUS). Destaca-se que os planos de saúde desses figurões são DIAMANTE, provavelmente financiados pelo tesouro público.

  6. O STJ tem se superado a cada dia…. Decisões tão dissociadas da realidade que chocam até os mais crédulos na Justiça, a exemplo da indenização ao ex-presidiário pela apresentação das acusações de corrupção em PowerPoint, negada em duas instâncias, e contrariando a própria jurisprudência. O povo deu o seu recado de indignação com a INJUSTIÇA através de doações espontâneas que superaram quase 8 vezes o valor fixado contra Dallagnol. Agora mais essa pérola. Não adoeça fora do rol taxativo. Sem mais

    1. Só nos resta a revolução democrática burguesa . N' y a pás d' autre solution .

  7. Dos 10 "ministros" que decidiram, 1 foi escolhido por FHC e 9 pelo PT o partido social do Brasil. Por que ninguém questiona isso? A verba publicitária das seguradoras de saúde impede?

  8. O direito dos excelentíssimos juízes poderem se tratar nos melhores hospitais às custas de regalias custeadas pela exploração do trabalhador continua mantido. Pra que pão? Comamos brioches.

  9. Tem muita gente precisando de um cursinho de matemática e de economia. Nenhum seguro se sustenta com cobertura ilimitada. E os serviços públicos europeus que tentam cobrir tudo para todos, como o NHS inglês não funcionam bem . Falo por experiência própria. Mas no Brasil até os "liberais capitalistas " acreditam em socialismo

    1. Marcos, conheço a Inglaterra há mais de 50 anos e minha filha é inglesa. Temos horror ao NHS. Só funciona para emergências ou para doenças triviais. Se precisar de Exames de imagem, por exemplo, o GP só te encaminha em último caso. Os que podem arcar têm seguro saúde particular ou usam médico particular. Erros colossais e demoras absurdas. Minha familia já sofreu muito na mão desses caras.

    2. Não é o que O meu filho, que está morando no UK, diz do NHS.

  10. Há muito tempo que o judiciário sustentado pelo pobre povo brasileiro está podre! Fede! Eles se encontram em um pedestal e julgam o povo como seus vassalos que tem que trabalhar pra sustentar suas mordomias e defender seus interesses próprios e seus comparsas !

  11. Adoradores de Baal. Como o dinheiro é sempre a prioridade, praticar preços justos–não me refiro apenas aos planos de saúde, mas aos equipamentos, exames, remédios, e tantas coisas mais de outros setores–é risível. Formação, pesquisa e desenvolvimento custam, sim, e muito; porém, qual é a margem de lucro praticada pela indústria farmacêutica e tecnológica? Não faço ideia, mas imagino que seja extremamente alta e, portanto, restritiva e assassina para 99% da população mundial.

  12. Ganha um doce quem adivinhar o nome do governante que editou um Medida Provisória e depois sancionou a Lei respectiva, a qual mudou a regra anterior e definiu que a lista da Anvisa passaria a ser cobsiderada taxativa..... Hein?

  13. o pobrema é que esses togados de merda, que usam a toguinha pra limpar a bunda dos corruptos, não têm a mínima idéia do que seja pagar um absurdo por um plano de saúde, de propriedade de um amigo corrupto, e na hora que precisa a justiça protege o amigo, outra vez.

  14. Com excessão de planos como os dos políticos, não há como ter planos "ilimitados". Planos devem cobrir muita coisa, mas se cobrissem qualquer coisa a tendência seria não haver mais planos de saúde. Como cobrir um remédio que custa alguns milhões? (de quanto teria de ser a mensalidade de cada contratante?). Um país rico poderia ter um sistema de saúde que cobrisse qualquer coisa, de qualquer valor, mas seria algo bancado por todos os cidadãos.

  15. — Os ministros Paulo de Tarso Sanseverino e Moura Ribeiro acompanharam a divergência da Ministra Nancy Andrighi e votaram contra esse famigerado Rol Taxativo. 6 x 3 - que coisa vergonhosa!

  16. Uma sem vergonhice sem tamanho! Esses ministrinhos do stj (sim minúsculas), não enrubescem com tanta safadeza? Seis ministros votaram a favor do rol taxativo: Luis Felipe Salomão, Villas Bôas Cuevas, Raul Araújo, Isabel Gallotti, Marco Buzzi e Marco Aurélio Bellizze”. Espero que o stf (outras minúsculas), faça, finalmente, alguma coisa certa, e conserte essa lambança. Não há na Constituição que a vida humana tem valor? A vida é inegociável.

  17. Desde que pago planos de saúde pra mim e esposa, nunca ví nenhum deles fechar porque quebrou, ao contrário, vejo sempre se multiplicando e uns comprando outros por bilhões de reais, e seus donos investindo em aviões, iates e fazendas de gado de milhares de bovinos, além de imóveis de luxo, iates e etc., mas alguns planos tem sómente um hospital numa cidade de 3 milhões de habitantes como Salvador, mas comprando todas as carteiras de clientes de outros planos que se proponham a vender.

  18. Os togados que tomam tal decisão são no mínimo incompetentes e antisociais para com o povo que sustenta esta casta de super remunerados e que certamente gozam de uma assistência médica de primeiro mundo com a sociedade pagando pra eles e família de mamando à caducando. Qual teria sido a contrapartida? Do lado do povo pagamos salários nababescos, 60 dias de férias, assistência médica de 1º mundo, e quando são venais, são aposentados com salários integrais. País bom pra bandidos, inclusive togados

  19. Pensem no seguinte. A seguradora estabelece o preço para uma gama de serviços hoje. Amanhã surge um novo procedimento caríssimo mas as pessoas querem que a seguradora cubra este novo procedimento. O que acontece? A seguradora quebra e todos os serviços param se ser oferecidos. E o mesmo acontece com serviços públicos. Não haverá orçamento que cubra tudo. O que acontece nesses casos é as longas filas de espera porque o cobertor fica curto. Populismo mata. Oferece soluções fáceis e erradas.

  20. Belíssima parábola na qual a justiça humana é mais uma vez atropelada pela injustiça do poder público responsavel, exatamente, para defender o equilíbrio da balança social. O perigoso é, com tanta injustiça, acabarem-se até as galinhas mortas e que tais… Terá da elite do poder o conselho :“…que comam croassant”.?

  21. Decisões inconsequentes dos judiciários existem, por causa da impunidade e foro privilegiado da máfia da toga preta - dos intocáveis, acima de tudo e de todos. Isso é válido para os Poderes Legislativa e Executivos, seja Federal, Estadual e Municipal. São todos parciais e entrelaçados. Nunca tanto ficou tão escancarado. Se toda essa corja tivessem obrigatoriamente serem assistidos pelo SUS, talvez fosse diferente. Brasil precisa fechar para balanço - mudança total, mas não há quem o faça.

    1. Ricardo pelo visto a covid comeu o teu juízo ... com a expansão da avicultura e suinocultura que produzem carnes mais baratas e de melhor qualidade é o que todos fazemos e como o mundo virou uma aldeia os preços são a nível internacional ... ainda não descobriram que cobra e jacaré tem carnes excelentes e deliciosas ... aguarde ... AH 1kg de carne bovina nos EUA $ 150 e aqui $45 ... 1kg de frango na China custa $40 e aqui $12 .. um quilo de suino na Rússia custa $30 e aqui $16 .. coma frangas.

    2. Não há mais galinhas para os brasileiros, já foram e estão sendo exportadas. Geração de divisas da balança comercial, segundo dizem, e certamente os produtores recebem euro, dólar.

  22. Todo negócio tem que ter muito bem definido o rol de serviços ou produtos que presta aos clientes. Do contrário fica impossível estabelecer os preços. Se todo e qualquer procedimento médico for obrigatório os preços dos seguros vão subir estratisfericamente para suprir as incertezas. A matéria do advogado me parece resvalar no discurso populista fácil.

    1. O risco do negócio tem preço e se não há limites nos serviços o preço é alto. Por isso existem categorias de planos com suas faixas de preços. Da mesma forma existem limites pro atendimento médico, com focono bem estar do paciente e limite de recursos financeiros, principalmente no serviço público.

  23. Se a Saúde Pública ( e a Educação) fosse tratada conforme a Constituição, haveria saúde pública de qualidade. Enquanto houver despesas com fundões de toda espécie, nababos no serviço público e roubalheira tudo só tende a ficar pior para os pagadores de impostos. “Justiça” é para poucos.

  24. Acredito quero STJ (em sua maioria) seja formado por nazistas bolsonaristas cujo objetivo maior é acabar com todos que tenham qquer tipo de comorbidade, como forma de “aprimorar” a “raça” em conformidade com os preceitos bolsonaristas facinazistas.

  25. E se preparem o próximo objetivo é rever o estatuto do idoso. Os nossos políticos do chamado "centrão" trabalham nisso! Preparen-se!

    1. Exato. As pessoas doentes e seus familiares merecem nosso respeito e consideração. Mas o problema também deve considerar quem paga a conta.

    1. Quem tem que pagar a conta , são os políticos do norte, nordeste e Minas Gerais. Pois eles roubam toda a verba para construírem hospitais públicos, não o fazem, obrigando todos virem para São Paulo, aonde temos hospitais públicos de altíssima qualidade, ficando abarrotados de migrantes e não podendo atender os paulistanos que trabalham e muito, pagam muitos impostos e nunca sendo atendidos, obrigando-os assim a contratarem convênios médicos absurdamente caros e que já não tem mais como pagá-los.

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