ReproduçãoEx-líder estudantil de extrema-esquerda, Gabriel Boric assume o Chile em meio a uma crise econômica e ao aumento do desemprego

O teste de resistência da democracia chilena

18.12.21 18:28

O Chile terá neste domingo, 19, o segundo turno da eleição presidencial entre um candidato radical de esquerda, Gabriel Boric, e um de extrema-direita, José Antonio Kast.

Boric e Kast não pertencem aos partidos que governaram o Chile nos últimos 30 anos. Eles estão nos extremos do espectro político. Os dois também adotam um discurso populista e polarizado.

O Chile não é nem jamais será um país marxista nem comunista“, disse Kast no ato de encerramento de sua campanha na quinta-feira, 16.

Nos últimos dias, Boric atacou Kast dizendo que seu adversário fez uma eleição suja. “O importante é que as pessoas o vejam com um candidato da ultradireita, a versão pinochetista do (presidente Sebastián) Piñera“, disse Boric.

Nas mais recentes pesquisas, Boric aparecia com uma vantagem que variava de 3 a 9 pontos percentuais. Em grande parte, o resultado vai depender do comparecimento dos eleitores, uma vez que no Chile o voto é facultativo.

Qualquer que seja o vencedor na eleição deste domingo, a democracia chilena passará por um teste de resistência. Uma das maiores preocupações é com a nova Constituição, que está sendo elaborada e terá de ser aprovada por um plebiscito. Como a maior parte dos constituintes é de esquerda, eles podem mudar alguns pontos da Carta, permitindo a aprovação de novas leis por maioria simples no Congresso a fim de realizar mudanças radicais no país.

Mas há também vários motivos para acreditar que a democracia chilena será capaz de evitar caminhos indesejáveis. As agremiações de Boric e de Kast serão minoritárias no próximo Congresso. Na Câmara dos Deputados, a coalizão de Boric terá 20% das cadeiras e a de Kast, 11%. No Senado, dos 50 assentos, Boric terá cinco e Kast, um.

A democracia chilena demonstrou sua capacidade de resiliência nos últimos anos difíceis. Kast e Boric, em geral, têm agendas programáticas que não trazem muitos danos potenciais às instituições democráticas“, diz o cientista político Carlos Meléndez, da universidade chilena Diego Portales.

Em um possível governo de Kast, o mais provável será a promoção de políticas conservadoras nas questões sociais e o endurecimento das medidas de segurança pública, mas com baixa probabilidade de concretização devido à resistência do Legislativo, do Judiciário e da sociedade civil“, diz Meléndez. “Em um possível governo de Boric, não devem ocorrer atropelos à liberdade de imprensa ou à Justiça“, acrescenta Meléndez.

Segundo o cientista político, nenhum dos dois candidatos quer alterar profundamente a estrutura institucional do Chile. “Kast não é o brasileiro Jair Bolsonaro. Boric não é o venezuelano Hugo Chávez. Eles estão mais próximos do colombiano Iván Duque e do peruano Pedro Castillo.

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