Foto: ReproduçãoCena de "Batalha no Lago Changjin", filme mais lucrativo da história do cinema chinês — e uma obra do Partido Comunista local

O Tigre e o Calango

16.04.23 10:28

Era bem no meio da pandemia, então não estranhe se você não viu A Batalha no Lago Changjin no cinema mais perto de casa. Ele foi um estouro: o filme chinês foi o segundo mais visto no mundo em 2021, arrecadando 913 milhões de dólares em bilheteria, atrás apenas de Homem Aranha: Sem Volta Para Casa.

A Batalha no Lago Changjin é, também, uma obra de propaganda: afinal, o filme foi uma encomenda do Partido Comunista da China. Foi lançado no centenário do partido, ressaltando uma batalha da Guerra da Coreia, nos anos 1950. A película, meticulosamente pensada, não teve cenas polêmicas ou censuradas — em um país cujas autoridades editaram até mesmo “Minions 2” para redimir um de seus vilões.

Corta. Na cena seguinte, estamos em 2023, no exato momento em que Lula, em viagem a Pequim para encontrar o presidente chinês Xi Jinping. Entre os 15 acordos que eles assinaram conjuntamente, está uma parceria estratégica no setor de cinema.

O acordo fala em estabelecer coproduções entre China e o Brasil, permitindo o trânsito de equipamentos e pessoal de maneira facilitada entre os países. Qualquer obra que contenha os dois países precisará passar no crivo das autoridades de Brasília (a Ancine) e de Pequim (a NRTA).

O cinema brasileiro é conhecido por sua excelência técnica mas, também, por sua inspiração europeia e menos afeita a pudores que seus pares americanos — afinal, esta é a terra da pornochanchada, das cenas de violência e de um filme sobre um palhaço infantil com cenas de sexo. Unir essas duas visões de cinema distinta daria certo?

O cineasta e colunista da Crusoé Josias Teófilo aposta que não. Não consigo conceber como isso vai dar certo — ou mesmo como isso vai pra frente”   , argumenta. Para ele, é difícil imaginar um filme brasileiro sob censura estatal, “não só sobre as obras produzidas, mas também sobre os exibidos por lá”.

Um dos filmes mais celebrados do cinema nacional, Cidade de Deus é não recomendado a menores de 16 anos — mas a clássica cena onde Dadinho pede para uma criança escolher se preferia tomar um tiro no pé ou na mão jamais foi vetada por autoridades brasileiras. Para Teófilo, a cena poderia “potencialmente ser proibida” em países com censura estatal mais rígida.

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