Oportunismo político explica pedido de reparação de guerra do Paraguai
19.07.22 11:25Uma Subcomissão de Verdade e Justiça foi criada para debater a Guerra do Paraguai (1864-1870) no Parlasul, o Parlamento do Mercosul, com sede em Montevidéu. Nas audiências realizadas até agora, os paraguaios pedem que o Brasil pague uma reparação de até 150 bilhões de dólares. O pedido não tem cabimento, pela simples razão de que foi o Paraguai que invadiu o Brasil, e não o contrário. Mas a ação não é só uma busca de tentar fazer justiça histórica.
A solicitação dos paraguaios obedece a uma vontade de grupos políticos, comandados pelo parlamentar Ricardo Canese (foto), da Frente Guasú, que querem manter artificialmente elevadas as tarifas de energia da Usina de Itaipu a partir do ano que vem. Como a Usina de Itaipu quitou totalmente a dívida de sua construção, haverá um superávit de 2 bilhões de dólares ao ano. Considerando que o objetivo da usina não é ter lucro, o esperado seria uma redução do valor cobrado pela energia, aliviando o preço para o consumidor brasileiro. Os paraguaios, contudo, não querem perder essa fonte de renda. Colocar o Brasil na situação de devedor pode ser uma forma de estender os benefícios financeiros.
Crusoé conversou sobre esse assunto com o historiador Francisco Doratioto, professor da Universidade de Brasília e autor do livro Maldita Guerra.
O Brasil deveria pagar uma reparação de 150 bilhões de dólares ao Paraguai?
Essa pergunta não procede. Essa guerra não foi iniciada pelo Brasil, nem pela Argentina. A ordem de ataque foi dada em dezembro de 1864 pelo ditador paraguaio Francisco Solano López. A Tríplice Aliança só foi formada depois, em maio de 1865. Só quem pode pagar uma indenização de guerra é quem agrediu, não quem foi atacado. É uma inversão dos fatos. Seria como pedir no futuro para que a Ucrânia pagasse uma indenização à Rússia.
Os paraguaios afirmam que o Brasil cometeu um genocídio, porque a população local caiu de 900 mil ou 800 mil para 116 mil. Isso aconteceu?
Não. Genocídio é algo muito específico, que temos de parar de vulgarizar. Foi o que aconteceu com os judeus, na Segunda Guerra Mundial. Ter ocorrido uma grande mortandade não quer dizer que ocorreu genocídio. As estatísticas são imprecisas, mas o historiador americano Thomas Whigham avalia que 60% da população paraguaia morreu no conflito. Mas isso não foi o resultado de uma ação brasileira ou argentina com o objetivo de exterminar um grupo populacional, e sim uma consequência de uma longa guerra, que durou cinco anos. Muitas dessas pessoas morreram porque contraíram doenças. Em pelo menos duas ocasiões, Solano López foi requisitado a fazer a paz, mas ele se negou. O ditador então tem responsabilidade nessas perdas humanas.
O Brasil cometeu crimes de guerra no Paraguai?
Não. Primeiro porque ainda não havia a tipificação de crime de guerra. O que aconteceu lá se deu em todas as guerras da região no século XIX. Não existia, por exemplo, a figura do prisioneiro de guerra. Quem perdia era morto. Era uma prática comum. Soldados paraguaios cometeram violência contra civis brasileiros e argentinos, quando conquistaram cidades. Soldados brasileiros também usaram da violência contra soldados paraguaios e civis.
O Brasil saqueou o Paraguai?
O Brasil, não. Mas o Exército Imperial do Brasil saqueou a capital Assunção. Da mesma maneira, as tropas de Solano López saquearam as cidades de Mato Grosso e Uruguaiana, assim como Corrientes, na Argentina. O saque fazia parte da lógica das guerras na época.
O sr. vê alguma razão para que os paraguaios comecem a pedir reparações de guerra ao Brasil neste momento?
Há uma corrente política dentro do Paraguai que há décadas acusa o Brasil de ser imperialista. Para isso, falam da Usina de Itaipu, que foi construída sem dinheiro paraguaio e se provou um grande negócio para o país. A partir do ano que vem, a dívida contraída para erguer a usina já estará paga e sobrarão 2 bilhões de dólares. Aí será preciso decidir quais serão os valores das tarifas em 2023. Cada país terá 1 bilhão de dólares sobrando. Os dois países então poderiam reduzir o valor das tarifas de energia elétrica para o consumidor. Mas alguns setores dos dois lados da fronteira querem manter as tarifas como estão e dar um outro uso para esse dinheiro. Se isso acontecer, haverá uma transferência de dinheiro do bolso do contribuinte brasileiro para o governo central paraguaio. Seria um grande ganho para eles.
Como o governo brasileiro está reagindo a esses movimentos?
O atual governo brasileiro está despreparado para uma negociação no ano que vem. Não foi formada uma comissão com técnicos dos ministérios da Energia, da Economia e do Itamaraty para negociar tecnicamente essa questão. Será que cada um dos governos poderá gastar como quiser 1 bilhão de dólares? O tratado original de Itaipu afirma que o objetivo da usina não é dar lucro, e sim produzir energia barata para os dois países.
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A política de Lula em relação aos países vizinhos consiste em colocar a nação de 4 com o traseiro para cima ou deitada de pernas abertas. Vide o caso da refinaria da Petrobrás na Bolívia, o fornecimento de gás natural feito por aquele país e mesmo negociação de repartição de valores de tarifas de energia de Itaipú na época do presidente Lugo.
Que convesa fiada ,hermanos
Lula fez concessões absurdas para o Paraguai, atravé do nefasto Acordo Lula-Lugo, para beneficiar o amigo, bispo de esquerda e explorador de mocinhas da sua igreja. Beneficiou o bispo em prejuízo dos brasileiros. Acredito que, se eleito, voltará a fazer o mesmo.Pobre de nós...
Com essa Câmara que aí está (ou Camarilha?), não tenho dúvidas que eles vão querer ficar com essa grana. E o povo que se exploda.
Um governo do PEB-Partido das Empreiteiras e dos Banqueiros (nome fantasia PT) é, sem dúvida,o que terá maior expertise sobre como usar 1 bilhões de dólares. Metade será torrada com voos executivos para seus dirigentes. Namastê!
Chi, tá me cheirando uma nova versão do "Conto da Cinderela", muito bem aplicado no Ronaldinho Gaúcho!
Para quem quiser se aprofundar na última pergunta da entrevista: https://www.camara.leg.br/evento-legislativo/65372
Caro José Paulo, obrigado pela dica.
Os diretores da Itaipu certamente elevaram seus salarios que já não é pouco , para maior ainda.
o governo brasileiro não estar preparado para uma negociação é a regra geral.
Da nossa parte, os políticos vão fazer rateio.
Como sempre os políticos tem que estar envolvidos. Falou ou sobrou dinheiro, as antenas já estão ligadas.
É muita cara de pau!
O PIB do Paraguai é de 30 bilhões de dólares. Com um desconto sobre o valor pedido, por indenização daria para COMPRAR o Paraguai. Afinal, a maioria das empresas é vendida por um múltiplo de 3-5 vezes o faturamento anual. Isso sim, poderia ser vantajoso para o Brasil. Acabaria o contrabando, aumentaria a área agricultável, etc.
vamos mamar na vaca barrosã, pensam os paraguaios.