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‘Ponte’ com grupos terroristas amplia influência do Catar no Oriente Médio

18.09.21 18:36

Com uma população um pouco maior que a de Salvador, capital da Bahia, mas um PIB per capita seis vezes maior que o do Brasil, o Catar hoje exerce uma influência descomunal sobre o Oriente Médio.

O país é hoje a principal ponte para outras nações se comunicarem com o grupo terrorista Talibã. Quando a organização tomou o controle do Afeganistão, em 15 de agosto, diversas embaixadas que estavam em Cabul foram transferidas para Doha, a capital catari. Desde então, países ocidentais que ainda necessitam retirar pessoas da confusão em Cabul são obrigadas a negociar com oficiais do Catar, que estão administrando o aeroporto e podem garantir a segurança das decolagens.

O domínio do Catar ficou evidente no dia 12 de setembro, quando o seu ministro de Relações Exteriores, Mohammed bin Abdulrahman Al-Thani, foi o primeiro integrante do alto escalão de um governo a desembarcar em Cabul (foto), para conversar com o primeiro-ministro do governo interino afegão, Mohammad Hasan Akhund.

A proximidade do Catar com o Talibã e com outros grupos terroristas, como o palestino Hamas, faz parte da estratégia que o país tem adotado no Oriente Médio desde a década de 1990.

Temeroso do poder da Arábia Saudita e localizado próximo do Irã, na boca do Estreito de Ormuz, o Catar decidiu se projetar diplomaticamente no mundo, como uma forma de se proteger dos perigos na região. Nessa missão, envolveu-se em negociações de paz no Sudão e em um cessar-fogo na Palestina, criou a rede de televisão Al Jazeera, adotou membros da Irmandade Muçulmana e tem mantido relações com o Irã e com grupos terroristas.

O país hospeda um escritório do Talibã e outro do Hamas e conta, ainda, com uma das maiores bases militares americanas no Oriente Médio. Em fevereiro do ano passado, sediou as negociações entre o Talibã e os Estados Unidos. No próximo ano, o país sediará a Copa do Mundo de futebol.

ReproduçãoReproduçãoDoações do Catar com destino ao Afeganistão
 

A principal crítica ao Catar é que o país se coloca como um operador capaz de promover a paz e a estabilidade, conversando diretamente com grupos terroristas, ao mesmo tempo em que apoia essas organizações.

Ao dar guarida para o incendiário clérigo Yusuf al Qaradawi, que tem programas de televisão na rede Al Jazeera e defende abertamente a jihad, o Catar incitaria ataques e protestos em todo o mundo. O país também beneficia os terroristas com dinheiro e ajuda humanitária. Embora o pretexto seja o de ajudar a população civil, parte do montante acaba indo parar nas mãos dos terroristas.

Depois dos conflitos que ocorreram em maio em Israel, quando o Hamas disparou milhares de foguetes contra a população israelense, o Catar ofereceu centenas de milhões de dólares para a população afetada em Gaza, em dinheiro vivo. Quando Israel tentou intervir, para evitar que o Hamas fosse beneficiado, o grupo ameaçou retomar a escalada de violência.

O comportamento do Catar gerou uma pesada reação em 2017, quando outros países árabes, apoiados pelo então presidente americano, Donald Trump, iniciaram um embargo contra o país. Doha conseguiu furar o bloqueio, com ajuda principalmente da Turquia e do Irã. Em fevereiro, após a chegada de Joe Biden à Casa Branca, o cerco foi encerrado e a temperatura baixou.

Ao se posicionar como o país que pode conversar com o Talibã, o pequeno Catar se colocou no centro da diplomacia regional. A grande dúvida é sobre o impacto que isso terá no terrorismo e na estabilidade dos países ao redor.

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