Por que Evo Morales espalha o caos no Peru

Dezoito pessoas morreram nos confrontos entre manifestantes e policiais esta semana ao sul do Peru. Desde a segunda semana de dezembro, já se contam 45 vítimas fatais.

Os protestos contra a presidente Dina Boluarte são insuflados pelo ex-presidente Pedro Castillo, que foi preso depois de tentar um golpe de Estado, em dezembro. Mesmo da prisão, ele tem incitado os peruanos pelas redes sociais.

Castillo tem tido o apoio do ex-presidente boliviano Evo Morales. “O único separatismo no Peru é causado pelo racismo, a exclusão e a discriminação dos grupos de poder de Lima contra o próprio povo. No fundo, a direita não aceita que os indígenas, os vilipendiados pela sua cor de pele, pelo sobrenome ou pelo lugar de origem cheguem ao poder“, escreveu Evo Morales no Twitter no sábado, 7. A mensagem foi compartilhada por Castillo.

Morales é conhecido por incendiar o próprio país com uma tropa de choque que conta com mineiros, sindicalistas e cocaleiros. Com a eleição de Castillo no Peru, em 2021, ele ficou animado. Morales então falou em uma “agenda comum” entre os dois países e estava pensando em criar um Conselho Andino da Coca, unindo agricultores bolivianos e peruanos. Ele ainda propôs criar a Runasul, um bloco unindo vários países da América Latina. Uma das reuniões para preparar o plano foi realizada em Cuzco, cidade turística do Peru.

A queda de Castillo após uma tentativa frustrada de golpe de Estado enterrou os planos do cocaleiro boliviano.

“Ao longo de sua carreira política, Evo Morales demonstrou que se alimenta de gerar conflitos. É fazendo isso que ele se sente mais à vontade. Ele tem um grupo de seguidores que repetem o seu discurso, sem fazer uma análise lógica do que ele diz e identificando claramente um inimigo que deve ser denegrido e atacado“, diz o cientista político boliviano Santiago Terceros, de Santa Cruz de la Sierra. “Como Morales tem perdido muita força desde 2019 e está em uma disputa de poder dentro de seu partido e com o presidente Luis Arce Catacora, ele levou seu modus operandi para o país vizinho, o Peru. O resultado estamos constatando agora.”

Em 2021, a Comissão de Relações Exteriores do Congresso do Peru declarou Evo Morales persona non grata, acusando-o de “ativismo político negativo no Peru” e de “ingerência e intromissão na agenda política, social e econômica“.

Nesta terça, 10, Evo Morales teve sua entrada proibida no Peru por suas “atividades de índole política proselitista“.

A ambição regional de Evo Morales tem feito com que ele viaje por vários países, além do Peru. No dia 1º de janeiro, ele esteve presente à posse de Lula, em Brasília. No dia seguinte, ele visitou a Central Única dos Trabalhadores, colocou um boné do movimento dos Trabalhadores Sem Terra, MST, e publicou uma imagem (foto) nas redes sociais. “Somos América Plurinacional“, escreveu.

A julgar pela mensagem, o Brasil faz parte da sua América Plurinacional. Melhor tomar cuidado.