Regina e o monstro

17.04.20

Brasília não poderia se apresentar de pior forma para Regina Duarte, que largou a carreira de sucesso de atriz para integrar o governo, como secretária de Cultura. Desde que chegou ao posto, há pouco mais de um mês, ela tem esbarrado na fina flor da burocracia. Nestes tempos de pandemia, tudo ficou ainda pior. A Cultura está sob o guarda-chuva de dois ministérios, o da Cidadania e o do Turismo, e sua sede física fica em um terceiro ministério, o de Meio Ambiente. A decisão de colocar ou não a equipe em home office foi exemplar da confusão administrativa: a pasta da Cidadania, debaixo do qual está o setor de recursos humanos da secretaria, recomendou o trabalho em casa, mas o Ministério do Meio Ambiente, onde os assessores de Regina dão expediente, seguiu de portas abertas. A equipe ficou sem saber o que fazer até que, por fim, decidiu seguir frequentando o gabinete – a atriz, que pela idade integra o grupo de risco, trabalha de casa.

As dificuldades, claro, se estendem à atividade-fim da secretaria: como dependem de diferentes canetas, os projetos ainda patinam. Além disso, Regina não sabe ao certo quais órgãos ficarão sob sua alçada. A Fundação Palmares, por exemplo, cujo presidente atacou a atriz depois de ela dizer que pretende demiti-lo, deve ficar de fora. Provavelmente seguirá subordinada ao Turismo (Sérgio Camargo, que ganhou os holofotes recentemente por declarações racistas, é tido como homem de confiança de Jair Bolsonaro e, por isso, tem boas chances de ser poupado).

Um decreto presidencial deverá trazer, em breve, o redesenho administrativo da Secretaria de Cultura. A negociação é tida como complexa, justamente porque a ideia é não ferir suscetibilidades – nem de Regina nem dos bolsonaristas que, como Camargo, podem ter seus interesses afetados. Pela necessidade de agradar a tanta gente, as chances de sair um monstrengo do processo de reestruturação são imensas. Regina, que apesar de todas as dificuldades tem procurado demonstrar otimismo, já desempenhou papéis bem menos complicados.

Adriano Machado/CrusoéAdriano Machado/CrusoéRegina Duarte: secretaria ainda dividida e travada

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