Os rolos da sra. Witzel
Em 20 de maio, seis dias após a Polícia Federal prender o empresário Mário Peixoto por desvios na área de saúde e encontrar um contrato de uma das empresas de seu grupo com o escritório de advocacia da primeira-dama do Rio de Janeiro, Helena Witzel, o governador Wilson Witzel exonerou o subsecretário executivo de Educação, João Marcos Borges Mattos. A decisão chamou atenção por um fato curioso: a pasta não era alvo principal da Operação Favorito.
A resposta começou a aparecer quando o contrato da mulher de Witzel levou o Superior Tribunal de Justiça, o STJ, a autorizar buscas na residência oficial do governador e em endereços de seus principais aliados, como o advogado Lucas Tristão, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico. Batizada de Operação Placebo, a ação encontrou na impressora de Tristão uma minuta de rescisão de um contrato entre a primeira-dama e outra empresa, a Quali Clínica, cujo sócio é ninguém menos que Borges Mattos, o subsecretário demitido — sim, ele era subsecretário de Educação, mas tinha uma empresa na área de saúde.
Assim como nos desvios da saúde, essas empresas prestam serviços para o governo desde a época de Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão e fecharam novos contratos na gestão Witzel. Embora os negócios investigados sejam todos do governo de Pezão, segundo a polícia, o governo Witzel já assinou ao menos dois contratos, sem licitação, com uma das entidades suspeitas, o Instituto Brasileiro de Ações, Pesquisas e Estudos Sociais, o Ibrapes. O objeto das contratações é a prestação de serviços relacionados ao atendimento de estudantes com algum tipo de deficiência na rede pública. Os dois contratos, no valor de 16 milhões de reais, segundo o relatório da polícia, foram firmados, justamente, com a Secretaria de Educação de Borges Mattos no mesmo ano de 2019, quando a primeira-dama fez negócio com a Quali Clínica.
Helena Witzel acumula com mais esse contrato, cujo valor ainda é desconhecido, ao menos três relações profissionais no mínimo estranhas. O primeiro contratante é o PSC, partido do governador e do vice. O outro contrato, com a empresa ligada a Mario Peixoto, rendeu a busca e apreensão na residência oficial. Desconhecida de todos os principais advogados do Rio, a advogada foi contratada por 540 mil reais, mas nunca atuou nos processos. Os valores são considerados muito acima da média para uma neófita. A ex-aluna do governador, que virou sua mulher e se tornou uma promissora dona de banca advocatícia, fazia apenas consultoria por telefone, as chamadas “consultorias verbais”. No caso do contrato com a empresa do ex-subsecretário de Educação, a previsão era também de atuação “extrajudicial”, sem que haja processos específicos.
O terceiro contrato, para investigadores ouvidos por Crusoé, reforça a tese que aponta para a utilização do escritório de advocacia de Helena Witzel como ponto de recebimento de valores indevidos relacionados a negócios com o governo do Rio. O mesmo estratagema foi adotado em outros tempos por outra primeira-dama do Rio, Adriana Ancelmo, ex-mulher de Sérgio Cabral. Com um detalhe: embora sejam casados desde 2004, o atual governador e Helena Witzel passaram para o regime de comunhão universal de bens somente no dia 3 de setembro de 2019. A data é próxima à do início de um contrato suspeito encontrado pela Polícia Federal, entre o escritório de advocacia da primeira-dama e uma empresa investigada. Na prática, isso permitiu que todos os bens do casal passassem a ser parte de um patrimônio só. Em nota enviada a Crusoé, os advogados da primeira-dama informaram que o escritório dela “não presta mais serviços para a referida empresa” e que “demais informações a esse respeito serão prestadas em juízo”.
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