Reprodução/redes sociaisLuís Gustavo Botto Maia com Flávio Bolsonaro: proximidade perigosa

Botto, o elo

Um jovem advogado que sucedeu Queiroz como escudeiro de Flávio Bolsonaro aproxima ainda mais o clã presidencial da operação para esconder o operador
26.06.20

A ação policial que levou à prisão de Fabrício Queiroz descortinou o papel de um dos advogados do senador Flávio Bolsonaro que, até então, passava longe dos holofotes. Responsável pelas contas de campanha do filho 01 do presidente Jair Bolsonaro, Luís Gustavo Botto Maia, de 32 anos, exerceu uma função que vai muito além da burocracia das expensas eleitorais. De acordo com o Ministério Público do Rio, Botto não só tinha pleno conhecimento do plano para esconder Fabrício Queiroz como era um dos pontos de contato do grupo ligado a Flávio Bolsonaro com o miliciano Adriano da Nóbrega, morto em fevereiro em confronto com a polícia na Bahia.

“Ele extrapolou todos os limites do exercício da advocacia e passou a atuar de forma criminosa”, escreveram os promotores na peça que levou à deflagração da operação que prendeu Queiroz e fez busca e apreensão no endereço de Botto. Como, em outra ponta, o jovem advogado também agiu para tentar ludibriar a Justiça no esquema de “rachid”  da dupla Flávio e Queiroz, destruindo e ocultando provas, ele é tido pelo Ministério Público como uma espécie de elo entre várias atividades ilegais daquilo que os promotores chamam de “organização criminosa” supostamente comandada pelo filho do presidente.

De acordo com o MP, o advogado teria orientado uma ex-assessora de Flávio a fraudar registros de presença na Alerj depois que jornalistas buscaram informações a respeito do registro de ponto dos funcionários: “Luis Gustavo Botto Maia colaborou de forma decisiva para embaraçar a investigação penal”. Pela ousadia com que tentou escamotear a trama urdida no gabinete de Flávio Bolsonaro, o advogado foi chamado, em uma das mensagens capturadas pelos investigadores, de “maluco” e “louco de pedra”.

Louco ou não, Botto era um tubarão do aquário de Flávio Bolsonaro. Foi um dos expoentes do esquema destinado a ocultar Queiroz. Segundo mensagens encontradas nos celulares de Queiroz e de sua esposa Márcia Aguiar, o advogado teria se reunido previamente com Frederick Wassef e Fabrício Queiroz em Atibaia, antes de seguir para a cidade de Astolfo Dutra, em Minas Gerais. É aí que os casos Queiroz e Adriano da Nóbrega se cruzam. Botto foi à cidade mineira acompanhado da mulher de Queiroz para se encontrar pessoalmente com Raimunda Veras Magalhães, a mãe de Adriano, ex-capitão do Bope e acusado de ser chefe de milícia no Rio.

Reprodução/Redes sociaisReprodução/Redes sociaisAdriano, o miliciano: advogado participou de encontro com a família dele
Conforme o MP, foi o advogado que autorizou em dezembro de 2019 que Raimunda voltasse ao Rio – ela estava escondida em Astolfo Dutra desde o julgamento no STF que discutiu o compartilhamento de dados por meio de relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o Coaf. Em razão da atuação do advogado-assessor nos múltiplos esquemas, o juiz Flávio Itabaiana determinou a apreensão de celulares, computadores e documentos na casa do advogado. Botto está, desde então, proibido de ter contato com pessoas envolvidas na investigação.

Desde abril deste ano, ele estava lotado no gabinete do deputado estadual bolsonarista Renato Zaca na Assembleia Legislativa do Rio. Recebia salário de 9,8 mil reais. Antes, ocupava um cargo na liderança do PSL na mesma Alerj. Na terça-feira, 23, no embalo das denúncias que o tragaram para centro do escândalo, Botto acabou sendo exonerado.

A aproximação de Botto com Flávio remonta a 2011, bem antes de o senador ser apresentado pelo pai a Frederick Wassef, seu ex-defensor na esfera criminal e dono da casa em Atibaia onde a polícia encontrou Queiroz. À época, seu irmão Lauro Botto, então capitão do Corpo de Bombeiros, era um dos líderes de uma greve que eclodiu no Rio de Janeiro. Os rebelados do “SOS Bombeiros” buscaram ajuda do 01 de Bolsonaro para encampar suas reivindicações salariais.

Lauro chegou a ser preso após enviar uma mensagem de texto petulante ao então secretário de Saúde do estado, Sérgio Côrtes. Exercendo o terceiro mandato como deputado estadual, Flávio visitou o militar na prisão. Nascia ali uma amizade entre as duas famílias. Lauro acabou entrando também para a vida política. Candidatou-se duas vezes. Em 2010, saiu das urnas como suplente de deputado federal. Seu irmão advogado preferiu colar no primogênito de Jair Bolsonaro.

Divulgação/AlerjDivulgação/AlerjPlenário da Assembleia Legislativa do Rio, o lugar onde tudo começou
Um dos pilares da campanha eleitoral do 01 em 2018, Luís Gustavo Botto também exerceu domínio sobre as contas de outros 35 candidatos do PSL. Do total, 29 eram mulheres – só uma foi eleita. As outras 28, muitas delas moradoras de zonas dominadas por milícias, somaram parcos 25 mil votos. Algumas não tiveram um voto sequer. Todas declararam em suas prestações de contas que pagaram 750 reais pelos préstimos do advogado. A Justiça Eleitoral investiga suspeitas de candidaturas laranjas entre as aspirantes do PSL na última eleição, em que os partidos eram obrigados a cumprir uma cota de 30% de mulheres candidatas.

Foi em junho de 2019, sob influência de Flávio, que Botto virou chefe de gabinete da liderança do partido na Assembleia Legislativa do Rio. Figura fácil no plenário, o advogado acabou defenestrado do gabinete em março de 2020, logo após deputados bolsonaristas deixarem o PSL. Foi Botto quem subscreveu o processo de desfiliação de Flávio Bolsonaro da legenda, após o rompimento do clã Bolsonaro com o presidente nacional da sigla, Luciano Bivar. Ele também ajudou outros aliados dos Bolsonaro a trilhar o mesmo caminho.

Crusoé apurou que, apesar de na ocasião já estar na alça de mira do Ministério Público do Rio, Fabrício Queiroz fez chegar, por meio de um assessor da Alerj, uma reprimenda ao líder do PSL, em razão da demissão de Botto Maia. A tentativa de blindagem, a julgar pelas investigações, era mútua. E, agora, ao lado de Queiroz, Botto tem tudo para virar mais um elo fraco da corrente. Para o desespero de seu antigo chefe – e também do pai de seu antigo chefe –, seu papel na proteção ao amigo preso na semana passada pode ser a peça que falta para ligar a trama à família Bolsonaro.

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