Bruno Santos/FolhapressWassef: ele repete que não falava com Queiroz, mas, sim, esteve com o ex-assessor

Os segredos do hotel

Frederick Wassef sustenta que não mantinha contato com Queiroz, mas os fatos o desmentem: o advogado do presidente se reuniu secretamente com o operador quando era preciso alinhar o discurso de defesa
26.06.20

Na manhã de quarta-feira, 24, Crusoé revelou uma reunião secreta promovida pelo advogado Frederick Wassef em um hotel de Atibaia, no interior paulista, dias após o nome de Fabrício Queiroz ganhar o noticiário nacional, em dezembro de 2018, por causa de suas transações financeiras suspeitas. Segundo um funcionário do hotel, o próprio ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro e mais duas pessoas haviam participado do encontro, informação que o gerente da unidade correu para negar. De acordo com o relato desse empregado, durante as visitas o grupo trocava as placas dos carros antes de desembarcar no estacionamento — supostamente numa tentativa de desviar a atenção de quem eventualmente os estivesse vigiando do lado de fora. “Eles ocultavam a placa verdadeira”, afirmou o funcionário.

Nas horas que se seguiram à publicação, Crusoé ouviu de outras três testemunhas mais detalhes sobre o encontro de Wassef e Queiroz no Hotel Faro, situado a oito minutos de carro da casa do advogado onde Queiroz foi preso na semana passada. Os relatos desmentiam não apenas a versão do estabelecimento, mas também a narrativa que o agora ex-advogado do clã Bolsonaro tem tentado emplacar para blindar a família presidencial do novo escândalo e rechaçar a acusação de que ele escondeu Queiroz para mantê-lo domesticado e silente – até então, Frederick vinha repetindo que não mantinha contato com o ex-assessor de Flávio Bolsonaro.

Fabio Leite/CrusoéFabio Leite/CrusoéA entrada do hotel Faro, em Atibaia: check-in de madrugada
Wassef e Queiroz estiveram juntos no hotel em 26 de dezembro de 2018, mesmo dia em que o ex-assessor esteve em São Paulo para uma entrevista ao SBT, a única entrevista concedida por ele desde a eclosão do caso, quando negou o esquema de rachid no antigo gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio e falou que ganhava dinheiro com compra e venda de carros. Ex-funcionário do hotel, Patrick Reis afirma que foi ele quem fez o check-in de Queiroz, por volta da 1h30 da madrugada do dia 26, na companhia de Wassef. “Foi ele (Wassef) que o levou até a recepção e pagou a diária”, diz. O homem apontado como operador financeiro do senador Flávio Bolsonaro fez o registro com seu nome verdadeiro e subiu para uma suíte, cuja diária custa 250 reais. Após quitar a estadia de Queiroz em dinheiro vivo, Wassef deixou o local.

De acordo com os relatos das testemunhas, o advogado voltou ao hotel no início da tarde, solicitando, às pressas, uma sala, onde faria a reunião revelada por Crusoé. Na recepção do hotel estava Silvana Benachio, outra ex-funcionária. Ele relata que acompanhou o check-out de Queiroz, às 12h37. Diz ainda que, pouco tempo depois, surgiu no saguão o advogado Edevaldo de Oliveira, que atua como uma espécie de “correspondente” de Wassef em Atibaia. Ele, então, pediu para ir à sala de reuniões onde era aguardado pela dupla Wassef e Queiroz. “Lembro que ele (Edevaldo) depois ligou para a recepção pedindo para não guardar a cópia do documento dele porque estava numa contratação sigilosa”, afirma. Segundo ela, os dois advogados eram hóspedes frequentes do hotel. “Ele (Wassef) já frequentava o hotel antes de levar o Queiroz lá.” Na terça-feira, 23, Crusoé já havia revelado que Edevaldo Oliveira hoje está para Paulo Emílio Catta Pretta — o novo advogado de Queiroz, que também defendeu o miliciano Adriano da Nóbrega — como esteve em passado recente para Wassef.

Após a reunião do dia 26 de dezembro, Edevaldo Oliveira foi o primeiro a zarpar do local. Em seguida, depois do meio-dia, Wassef e Queiroz fizeram o check-out. Segundo as testemunhas, o encontro secreto foi filmado pelas câmeras do hotel. Questionado por Crusoé, o gerente do estabelecimento afirmou que as imagens de dezembro de 2018 haviam sido automaticamente excluídas do sistema de armazenamento.

A casa de Wassef onde Queiroz foi encontrado fica perto do hotel
Além de desmontar a versão de Frederick Wassef, o encontro dele com Queiroz relatado pelas testemunhas indica que o então advogado de Flávio e do presidente Jair Bolsonaro também atuava ativamente na estratégia de defesa do ex-assessor desde o início do caso. O Ministério Público do Rio suspeita que Wassef tenha articulado o plano para esconder Queiroz durante a investigação para salvaguardar a família presidencial, prática que pode configurar crime de obstrução da investigação e coação de testemunha. O advogado, segundo os investigadores, era o “Anjo” das mensagens apreendidas nos celulares de Queiroz e da mulher dele, Márcia Aguiar, ainda foragida. Wassef seria o “superior hierárquico” a quem o casal se reportava. Aos investigadores, o caseiro do imóvel de Atibaia disse que o ex-PM estava no local havia cerca de um ano. Segundo a TV Bandeirantes, Wassef também teria abrigado Queiroz em um apartamento de sua família no Guarujá, após o primeiro encontro em Atibaia.

Até agora, Frederick Wassef não explicou por que Queiroz foi encontrado em seu imóvel, na quinta-feira da semana passada, nem quem bancava as contas do notório ex-assessor de Flávio. O advogado disse apenas que abrigava Queiroz em algumas oportunidades, em razão do tratamento contra um câncer que ele fazia num hospital da região, mas que nem o senador nem o presidente da República tinham conhecimento do fato. Sobre o encontro secreto no hotel de Atibaia, em dezembro de 2018, Wassef disse que não há provas. “Tenho sido vítima de contínuas mentiras, fake news e crimes de calúnia, difamação entre outros”, afirmou Wassef. “Ouvi dizer que você pôs o Queiroz lá”, disse ao repórter de Crusoé. A piada, sem graça e sentido, dá a medida do estado de espírito do advogado.

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