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‘Precisamos baixar as armas’

O empresário bolsonarista Luciano Hang prega a pacificação com o Supremo e afirma que da quebra de seu sigilo bancário não sairá nada capaz de prejudicar o mandato de Jair Bolsonaro
26.06.20

Desde o momento em que resolveu romper a barreira dos negócios e enveredar pela política, no início de 2018, o empresário Luciano Hang protagoniza uma série de polêmicas com os adversários de Jair Bolsonaro, que ele apoiou na eleição e a quem permanece fiel até hoje. Uma delas, contudo, vai muito além da troca de farpas nas redes sociais e tem potencial para derrubar o presidente da República: Hang é suspeito de financiar ilegalmente o envio em massa de mensagens de WhatsApp, para favorecer Bolsonaro na corrida presidencial.

A ação que pede a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão por causa das mensagens estava adormecida no Tribunal Superior Eleitoral, mas ganhou força em maio, depois que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, determinou a quebra do sigilo bancário do dono da rede de lojas Havan no inquérito que investiga supostas ameaças, ofensas e notícias falsas contra os membros da corte. A devassa nas contas de Hang se estende ao período eleitoral e eventuais provas de financiamento ilícito poderão ser usadas na ação do TSE. Há quem acredite que sairá dali a bala de prata contra Bolsonaro.

A Crusoé, o empresário rebate as suspeitas e afirma que a investigação não encontrará em seus extratos bancários nada que possa ser usado contra Bolsonaro. Aos 57 anos, o catarinense diz que Alexandre de Moraes foi “induzido ao erro” ao incluí-lo no inquérito do fim do mundo. “Jamais atentei contra o STF. Pelo contrário, quem tem um pouco de cabeça e de cérebro sabe que não pode se meter com alguém que não possa vencer”, afirma. Em meio ao agravamento da tensão entre a rede bolsonarista e as instituições, o “Véio da Havan”, apelido que ele resolveu adotar, prega paz. “Nós precisamos baixar as armas e subir bandeira branca. Eleição para presidente é em 2022”. Eis os principais trechos da entrevista.

Tanto no inquérito do STF quanto nas ações do TSE, o sr. é apontado como financiador da estrutura que dissemina notícias falsas e ofensas contra ministros do Supremo e contra adversários de Bolsonaro. O sr. financiou o impulsionamento dessas mensagens?
Jamais. Em janeiro de 2018, eu me propus a ser um ativista político, acreditando que poderia ajudar na abertura da cabeça do brasileiro comum para que ele escolhesse melhor seu candidato nas eleições. Eu só fui escolher meu candidato no dia 17 de agosto, quando fiz uma live e disse que iria apoiar a chapa do Bolsonaro. Essa live, eu impulsionei, por completo desconhecimento, porque não sabia que não podia. O PSDB entrou com uma ação contra mim, tirou a live do ar e eu paguei 10 mil reais de multa. A partir daquele momento, nós nos cuidamos para não cometer nenhum erro e assim foi até acabar as eleições. Faltando dez dias para o segundo turno, veio aquela matéria da Folha de S.Paulo, que diz que eu tinha impulsionado WhatsApp, falando de valores estratosféricos, 12 milhões por empresário que ajudou a impulsionar fake news através do WhatsApp. Nem sabia que dava para impulsionar WhatsApp naquela época. E daí eu te pergunto: por que o ativista político Luciano gastaria 12 milhões para apoiar um candidato, se eu não vendo para o governo, não compro do governo, não faço empréstimos com o governo? Eu me mantenho à margem disso para não dizerem que eu me meti na política para conseguir vantagens com o governo.

No inquérito do STF, o ministro Alexandre de Moraes fala que há indícios de que um grupo de empresários do qual o sr. faria parte financia a rede que dissemina fake news contra o Supremo. O sr. financiou, ainda que indiretamente, por meio de vaquinha, essas campanhas?
Jamais. Eu tenho minhas redes sociais e me comunico por elas. A quebra do meu sigilo vai mostrar muito bem isso. Aliás, eu sou cobrado nas minhas redes sociais porque eu não patrocino os canais conservadores. Recentemente, o Olavo de Carvalho me criticou dizendo que eu fui lá e disse que iria ajudá-lo, que arrumaria um programa de televisão em que ele pudesse falar e que nem nisso eu o ajudei. Não fiz durante a campanha e nem depois da campanha. Fui duas vezes na Paulista, mas jamais atentei contra o STF. Pelo contrário, quem tem um pouco de cabeça e de cérebro sabe que não pode se meter com alguém que não possa vencer. Jamais me meteria contra o STF. Lá atrás já declarei que, de repente, você participa de algum grupo que fala mal de alguém. Eu falo por mim, ninguém é meu representante. Sou tido como alguém que fala a verdade e fala o que quer. Então, tem que ver o que eu falei, e o que eu falei está nas minhas redes sociais. Fui convidado a participar de um ato na Paulista, em março. Não fui e publiquei que não iria porque era momento de cuidar da saúde, cuidar da economia e que não tivéssemos uma crise política. Pedi naquele momento a união dos três poderes. Logo depois coloquei bandeira branca nas minhas lojas, pedindo a paz e a harmonia para que o Brasil pudesse ultrapassar este momento.

Na sua opinião, por que o sr. virou o alvo do inquérito do Alexandre de Moraes?
Eu tive acesso aos autos e vi que um deputado do Rio Grande do Sul disse que talvez, supostamente, o dono da Havan fosse um dos patrocinadores disso. Ele também não disse que viu. Eu tenho uma manifestação muito forte nas minhas redes sociais, mas eu não patrocino ninguém para falar por mim. De todo aquele pessoal que está no inquérito das fake news, particularmente, eu conheço um, de quando fui para Brasília na posse do Bolsonaro. De todo aquele pessoal que tem sites, nós não patrocinamos e nem conhecemos pessoalmente.

Segundo o ministro Alexandre, os empresários acusados de financiar essa suposta estrutura de fake news participavam de um grupo de WhatsApp. O sr. participa de um grupo com eles?
Em janeiro de 2018, eu estive em uma feira de varejo em Nova York, quando o Flávio Rocha apresentou o Brasil 200, que era um grupo de empresários visando também ser ativistas políticos para mudar o nosso país. O que pregava naquela época: conservadorismo nos costumes e liberalismo econômico. Baseado nisso, o Flávio me ligou pedindo para assinar como membro do Brasil 200. Participei na época da apresentação do Flávio e sou amigo pessoal dele, nada mais do que isso. Eu não participo da reunião do Brasil 200.

Nem do grupo do WhatsApp?
Não me lembro de participar. Como ativista político durante a campanha, você não imagina a quantidade de grupos de WhatsApp de que participei, é uma loucura. Às vezes, a gente é adicionado. Mas o que estão imputando é suposto financiamento de fake news ou que eu tenha influenciado as eleições através do meu poder econômico, impulsionando WhatsApp na campanha de 2018. É zero. A tranquilidade que eu tenho é a de quem não fez nada de errado.

O que irão encontrar, então, com a quebra do seu sigilo bancário?
Muitas doações. Pessoas que ajudo financeiramente. Meus parentes, pessoas deficientes, que precisam de cadeira de rodas, atletas. Nada que vá levar a nenhum financiamento de ato político na Paulista, nem em Brasília, e a nenhuma dessas pessoas que foram indicadas no processo.

O sr. tem dito que estão querendo usá-lo para cassar o presidente Jair Bolsonaro. Quem estaria por trás desse plano?
Isso é coisa da oposição, que perdeu as eleições nas urnas e quer ganhar as eleições no tapetão. Foi o PT que entrou com essa ação. A próxima eleição é em 2022. Temos que deixar o Brasil andar. Nenhum brasileiro em sã consciência pode querer neste momento um impeachment, uma cassação. Nós precisamos de paz. Eu ando todos os dias na rua. O maior temor do brasileiro é o desemprego, não é o coronavírus. As pessoas estão apavoradas com a perda dos seus empregos. Qualquer disrupção, seja de qual lado vier, vai afetar frontalmente a economia e, automaticamente, prejudicar o país.

Se o sr. não financiou a rede de ataques contra o STF, por que o ministro Alexandre tomou uma medida rigorosa como essa, quebrando seu sigilo?
Acho que ele foi induzido ao erro.

Quem teria induzido o ministro a erro, na sua opinião?
Me parece que o inquérito é tão grande que você pode cometer erro e não ser induzido a nada. Sou uma pessoa que acredita nas outras pessoas. Quero crer que todas as pessoas são do bem e querem fazer o bem. Estou muito tranquilo do que eu fiz na campanha eleitoral. Eu fazia todos os dias vídeos e despachava esses vídeos através da minha lista de transmissão, 30, 40 mil nomes que eu tenho, mais alguns grupos que iam sendo criados dos bolsonaristas. Como qualquer outro partido deve ter feito assim. Quando gravava um vídeo, soltava no WhatsApp, nas minhas redes sociais. Eram sempre muito lúdicos. Me vestia de palhaço, me vestia de capitão, que viralizava com muito facilidade. Você sabe como um bom vídeo vira um rastro de pólvora. Você não precisa colocar nenhum centavo nele. Agora, não entendo até hoje esse protagonismo que acabei tendo nas eleições. Também não entendo que eu continue apanhando da velha mídia porque eu defendo o liberalismo econômico. Quando a gente acertar a economia no Brasil, tudo muda. Acabam as ideologias furadas, as coisas que falam de besteira. Nada melhor do que a ciência exata para expurgar todos esses males de que sofre o país.

Muita gente acredita que o presidente Bolsonaro é conservador nos costumes, mas em sua essência não é liberal.
Acho que cada pessoa vai evoluindo com o decorrer do tempo. Só o fato de o Bolsonaro ter colocado o Paulo Guedes como ministro da Economia mostra o quão liberal ele é. E ele vai evoluindo. Tenho certeza que o Bolsonaro neste último ano, convivendo com o Paulo Guedes, hoje acredita que o Brasil só vai sair do buraco quando reduzir a máquina pública e deixar os empreendedores e empresários fazerem o que eles mais sabem, que é empreender, ganhar dinheiro e investir no país. Minha maior luta neste país é contra a burocracia. Hoje, por exemplo, eu tenho 70 terrenos para abrir lojas, e só tenho 15 licenças. Tem licença que demora cinco anos. Isso é o fim do mundo. Nós teríamos pleno emprego se não tivéssemos uma máquina estatal tão inchada.

DivulgaçãoDivulgação“De todo aquele pessoal que está no inquérito das fake news, eu conheço um”
Há um embate dentro do próprio governo, entre a equipe econômica e a ala militar, em relação à agenda de privatizações?
Zero. É muita desinformação. Eu costumo dizer o seguinte: lá no Planalto, é paz e amor; fora, é guerra e terror. Na realidade as coisas não batem entre o que se pensa lá dentro com o que se explica aqui fora. Eu sou a favor de vender todas as empresas estatais. Elas vivem para sustentar a máquina política, não vivem para a população brasileira. Tem de vender tudo, o Brasil não precisa de empresas estatais. Sou adepto do estado enxuto. É através da iniciativa privada que nós vamos ter o Brasil que sonhamos.

O sr. disse que estendeu a bandeira branca, mas o próprio presidente provoca um tensionamento com outros poderes. Isso já aconteceu inúmeras vezes. Não é uma contradição?
Eu acho que o presidente só se defende. Tenho certeza de que o presidente Bolsonaro quer paz e harmonia. Falei para ele: ‘Presidente, senta no colo, beija na boca, abraça’. É só com união que teremos o Brasil que nós queremos. Não podemos continuar numa guerra sem fim, uma guerra de informações.

Estou falando das declarações públicas do presidente. O sr. não acha que ele trata adversário político como inimigo?
Isso você tem que perguntar para ele. Eu sempre o vejo no sentido de querer acertar, fazer o melhor para o país. Sempre prego que nós precisamos unir os três poderes. Eu falo por mim e, às vezes, sou criticado pelas pessoas que estão do lado do governo. Mas eu tenho de fazer aquilo que eu acho certo para o país. Eu sou coerente.

Na campanha e no início do governo, os bolsonaristas criticavam a velha política, a prática do toma lá dá cá. A distribuição de cargos à ala fisiológica do Congresso agora não é a repetição do erro cometido pelos governos do PT, que levou a escândalos como o mensalão e o petrolão?
Acho que tudo o que for republicano tem que ser feito. Acho que se você precisa aprovar determinadas leis no Congresso, se você puder se unir com parlamentares e partidos que pensam de forma republicana, você pode arranjar verbas para determinados políticos, desde que corretamente. Jamais fazer como fizeram os outros governos, onde o dinheiro ia para corrupção. Nem todo mundo do Centrão é gente ruim, como nem todo mundo que está na oposição é gente boa. O presidente está negociando com aquelas pessoas que ele acredita que são do bem e que querem o bem para o país. Conseguir verbas parlamentares para o político levar para sua região e ajudar sua comunidade não é ilegal nem corrupção.

O presidente tem explorado que até agora no governo dele não surgiu nenhum grande caso de corrupção. Mas o filho mais velho dele, Flávio Bolsonaro, é apontado como líder de organização criminosa no caso do rachid na Assembleia do Rio.
Eu tenho três filhos, sou responsável por mim. Já imaginou eu ser responsável por aquilo que cada filho meu faz? Quero crer que, se o Flávio fez alguma coisa de errado, ele vai responder pelo que fez de errado. Se ele não fez, é inocente. Agora, querer jogar no colo do presidente problemas do filho dele é errado. Porque passaram outros presidentes, que os filhos tinham problema, e eu nunca vi a mídia ficar caçando os filhos dos ex-presidentes como caça os filhos do Bolsonaro.

A imprensa noticiou diversas suspeitas envolvendo os filhos do ex-presidente Lula, por exemplo.
Mas é pouco. Teve filho de outros presidentes com problema. Era en passant, não era com essa veemência. Acho que estão usando dois pesos e duas medidas. Se está certo, está certo. Se estiver errado, está errado. Agora, fazer 210 milhões de brasileiros sofrerem, pagarem o pato todos os dias, por possíveis delitos em rachadinha ou coisa assim, é demasiado. Me disseram que isso ocorre por todo o Brasil e, hoje, parece que só o filho do Bolsonaro faz.

Mas, para preservar o país, o presidente não deveria se afastar desse caso? O advogado do Flávio era, até dias atrás, o mesmo advogado dele, uma pessoa com acesso aos palácios do governo.
Acho que ele tenta se manter afastado e a imprensa tenta mantê-lo junto. Querem ligar uma coisa na outra. Culpado ou inocente, quem tem de responder pelos seus atos é o Flávio e não o presidente. O presidente tem de tocar o país.

O sr. foi uma das primeiras vozes do empresariado brasileiro e se manifestar contra o isolamento social. Estudos mostram que teríamos hoje mais do que as 54 mil mortes já registradas, se a quarentena não tivesse sido adotada. Ainda assim, o sr. acha que houve exagero?
Desde o princípio eu disse que temos de cuidar da saúde e da economia. Eu fui contra parar o país em março. Na grande maioria das cidades, 95%, não existiam nem casos de infectados em março. Ainda hoje tem cidades que não têm nenhum caso. O que eu era contra era fazer um lockdown tão precipitado. Queimaram a largada. O problema naquela época era São Paulo, Rio de Janeiro, e depois veio Pernambuco. Mas não poderia, naquele momento, parar 5,5 mil municípios, quando 95% não tinham sequer casos registrados. Eu achei, e isso está se provando agora, que muitos governantes usaram a famosa lei (de calamidade) para comprar sem licitação. Na maior parte dos estados, vemos hoje inquéritos que investigam corrupção nos contratos.

O sr. disse que a Havan até melhorou o faturamento em relação ao ano passado e está inaugurando novas lojas. A empresa não foi impactada pela pandemia?
Todos os setores foram impactados, mas eu sou um eterno otimista. Não demiti ninguém por causa da pandemia. Hoje, o nosso centro de distribuição em Barra Velha (município de Santa Catarina), que ficou parado praticamente um mês, está a pleno vapor.

Muitas pessoas que votaram no Bolsonaro se declararam arrependidas nos últimos meses. A que o sr. atribui essa debandada e por que o sr. continua fiel a ele?
Eu ando nas ruas todos os dias. As ruas mostram um cenário totalmente diferente desse que você está falando. As ruas dão apoio ao presidente. É uma loucura. Temos dois anos para trabalhar. Neste momento, ninguém ganha vendo essa tensão entre os poderes e um brasileiro contra o outro. Falo por mim e por milhões de brasileiros que me seguem. Nós não chegamos ao fundo do poço de graça.

DivulgaçãoDivulgação“Jamais me meteria contra o STF”
Naquela fatídica reunião ministerial de 22 de abril, que precedeu a saída do ex-juiz Sergio Moro do governo, ficou evidente que o presidente estava preocupado em proteger a família e os amigos de possíveis investigações. O sr. considera isso republicano?
Eu não vi nas fitas o presidente pedir proteção. O que ele disse é que ele não quer é que as famílias, que os filhos sejam perseguidos. É diferente, totalmente diferente.

O seu nome foi citado pelo presidente na reunião, sugerindo que interveio no Iphan para liberar a construção de uma loja da Havan no Rio Grande do Sul. O sr. pediu favor para o presidente?
Depois da polêmica, eu perguntei para o presidente se eu havia pedido alguma coisa a ele. Sabe o que ele respondeu? “Claro que não, eu vi a live.” Ou seja, ele viu a live que eu fiz (no Facebook) malhando o Iphan. Em outra live, eu toquei o pau no Ministério da Agricultura, do qual recebi muita reclamação de que também não funciona. Ele também viu e eu soube que ele até chegou a falar com a ministra sobre esse assunto. O presidente me segue, vê as minhas postagens, mas jamais pedi nada a ele. Nem sei quem trabalha no Iphan. Nós lutamos contra a burocracia e se nós não acabarmos com a burocracia não valeu nós termos lutado tanto para trocar de presidente.

O sr. usou a live para tentar destravar o seu problema?
Não. Quando faço as minhas lives, as minhas reclamações, não faço por mim, faço isso por todos. Não é contra mim que o Iphan trabalha, é contra todos os brasileiros que querem fazer um loteamento, construir alguma coisa. Sabe o que tinha naquele terreno? Pedaços de louças de macumba, porque lá era um terreiro antes. A minha obra poderia ficar parada anos por causa de macumbeiro. Eu não ligo para o presidente para pedir nada para mim.

A Havan foi multada em pelo menos 58 milhões de reais por sonegação fiscal. Há uma autuação de 2,5 milhões de reais por não recolhimento de INSS. Como o sr. explica essas ações do Fisco sobre a empresa?
A Havan faturou no ano passado quase 11 bilhões. Nós pagamos, em impostos e benefícios, quase 3 bilhões. Nós, como quase todos os empresários brasileiros, nesse emaranhado de leis, decretos, temos de nos defender e discutir no Carf (o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), que é uma instância em que as pessoas vão discutir se aquilo é o não é legal. Então, se ainda está no Carf, nós estamos discutindo administrativamente. Daí você me fala de uma autuação de 2,5 milhões… Isso representa 30 minutos de faturamento de um dia bom. Cinquenta e oito milhões são coisas que nós ainda estamos discutindo se são ou não legais. Nós temos ainda as esferas judiciais para discutir isso.

O sr. já negou diversas vezes que tenha pretensões político-eleitorais, mas o seu comportamento nas redes sociais sugere o contrário. O sr. descarta essa hipótese?
Eu ainda nem aprendi a ser comerciante, depois de tanto tempo… Para ser político eu tenho que fazer pós-graduação, doutorado, mestrado. Não tenho mais tempo nem vida para isso.

Em nenhuma hipótese?
Neste momento em que estou, a palavra é “não”. Falei para o presidente em outra vez que estive com ele que não gostaria de estar sentado no lugar dele. Venho de um lugar na iniciativa privada onde todo mundo confia em tudo mundo. Com a certeza de que ninguém está atrás de mim com faca, querendo me apunhalar pelas costas. Eu não conseguiria viver num lugar onde todo dia é fofoca, é trairagem, é sacanagem. Que merda de lugar é esse? Acho que ser político é um inferno e eu vivo no céu. Por que eu passaria do céu ao inferno? Por que jogaria minha vida fora?

Alguns dizem que entram na política para poder ajudar as pessoas. Outros têm sede de poder.
Eu ajudo mais aqui. Sem ser político, eu sou atacado todos os dias. Imagine se eu virasse político.

O sr. acha que o presidente Bolsonaro termina o mandato?
Seria muito triste um país viver de impeachment em impeachment. Que negócio é esse? Eu acredito nas instituições, no bom senso. Paz, harmonia e economia. Nós precisamos baixar as armas e subir bandeira branca. Eleição para presidente é em 2022. Vamos torcer pelo Brasil.

Essa recomendação, para baixar as armas, não valeria também para o presidente?
Como ele me segue, ele sabe o que eu penso. Às vezes, quando se está há muito tempo numa guerra, ninguém sabe mais quem tem razão. Vejo Israel e o mundo árabe. Estão guerreando há 60 anos e ninguém sabe quem tem razão. Isso é muito ruim. Quanto mais cedo a gente encontrar a paz, melhor. O povo está no meio do tiroteio. O povo é quem mais perde.

O sr. já incorporou o apelido “Véio da Havan”?
Tem Véio da Havan e agora já mandei fazer uma roupa de Zé Carioca. Logo, logo eu vou estrear. Na realidade, eu sou um marqueteiro. Faço do limão uma limonada. Sou disléxico. Aprendi a ler com doze anos de idade e até hoje tenho dificuldade. Mas tenho uma criatividade muito grande. Quem foi disléxico na vida? O Walt Disney, o Einstein. Todos os loucos são disléxicos. Eu sou um louco, um louco que deu certo.

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