Edilson Rodrigues/Agência Senado

Centrão em vantagem

O isolamento do PT e dos políticos bolsonaristas tende a deixar o caminho aberto para que partidos como o antigo PP, o PSD e o PTB se sobressaiam nas eleições municipais de outubro
17.07.20

Tão logo deixou a prisão, em novembro de 2019, Lula resgatou o discurso hegemônico que caracterizou o PT desde sua ascensão ao poder. Ao ditar a estratégia para as eleições municipais, fez questão de dizer que o partido não abriria mão de candidaturas próprias nas principais cidades, supondo talvez que as demais forças de esquerda seriam seduzidas unicamente pelo seu simples chamado. Aconteceu  o exato inverso. O comportamento de Lula e o forte sentimento antipetista presente no eleitorado contribuíram para compor um cenário tétrico para o PT na disputa municipal marcada para o dia 15 de novembro próximo: a legenda da estrela rubra estará isolada em pelo menos 13 das 26 capitais em disputa.

Desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o PT tem minguado em todo o país. Nas eleições municipais de 2016, o partido perdeu 375 prefeituras, em relação a 2012. A julgar pelas atuais projeções eleitorais, o processo de encolhimento petista país afora tende a se aprofundar este ano. O partido não se entende nem em torno de seu nome mais competitivo nas eleições municipais deste ano: o da deputada federal Marília Arraes, neta de Miguel Arraes, pré-candidata no Recife. Uma ala da legenda defende o apoio a João Campos, do PSB, filho do ex-governador Eduardo Campos, enquanto o diretório nacional aposta as fichas em Marília.

O PT, no entanto, não é o único a enfrentar dificuldades no pleito que se avizinha. A primeira eleição municipal após a chegada do presidente Jair Bolsonaro ao Planalto exibe um quadro repleto de dificuldades também para a direita, com candidatos do PSL pouco competitivos e se ressentindo da falta de alianças e palanques robustos, além de bolsonaristas com problemas para se articular devido ao fracasso da Aliança pelo Brasil.

Ex-partido de Bolsonaro, o PSL conta com quase 200 milhões de reais para gastar na campanha. Trata-se de um dos maiores cofres do chamado fundão eleitoral neste 2020. O montante reservado à legenda que ambiciona liderar a direita no pleito municipal se equipara ao do PT, segundo maior partido do país, atrás apenas do MDB. De acordo com o vice-presidente do PSL e porta-voz da sigla, o deputado federal Junior Bozella, o partido deve ter cerca de 20 a 30 mil candidatos a vereador e apresentará candidatos próprios à prefeitura em cerca de 2 mil municípios.

Adriano Machado/CrusoéAdriano Machado/CrusoéBolsonaro hesita em participar ativamente das campanhas deste ano
Apesar do otimismo alardeado pelos seus dirigentes, a legenda terá poucos nomes com reais condições de triunfar nas urnas. Faltam cabeças de chapa até mesmo nas capitais de estados onde o PSL elegeu governadores, como Florianópolis e Porto Velho. Em importantes capitais onde já lançou pré-candidatos, como em São Paulo, com a deputada federal Joice Hasselmann, e Rio de Janeiro, com o deputado estadual Rodrigo Amorim, o partido não conseguiu sequer construir alianças.

Embora alguns nomes do bolsonarismo tentem uma reaproximação com o PSL, como é o caso do deputado Luiz Lima, do Rio de Janeiro, interessado em se candidatar à prefeitura carioca, aliados do presidente da República garantem que, do antigo partido, ele quer mesmo é distância. Aos seus apoiadores e candidatos, Bolsonaro liberou a filiação a qualquer partido de direita, desde que não seja o seu ex. Depois de a decolagem da Aliança pelo Brasil ter sido abortada, o chefe do Palácio do Planalto tem se mostrado hesitante em participar ativamente da campanha eleitoral, mesmo nos principais colégios eleitorais do país, segundo interlocutores próximos.

Há um clima de frustração no entorno do presidente em relação à Aliança pelo Brasil. A grande esperança do grupo era a de que o TSE liberasse a coleta de assinaturas digitais no processo de criação do partido, mas o procedimento não foi regulamentado pela corte. Quando chegou ao partido em gestação, o advogado Admar Gonzaga prometeu a Bolsonaro que viabilizaria o registro em três meses junto ao TSE, tribunal do qual ele já foi ministro, mas não conseguiu cumprir o combinado.

Internamente, a sigla em formação estuda se lançar como “movimento cívico” nas eleições de 2020, a exemplo de iniciativas como o Livres e o Acredito, com candidatos de outros partidos usando as cores e a marca da legenda de Bolsonaro. A intenção foi levada ao conhecimento do presidente, que, no entanto, se mostrou reticente à ideia. Por enquanto, os pré-candidatos da Aliança pelo Brasil buscam se viabilizar em legendas como o “PTB de direita”, de Roberto Jefferson, o PL e o Republicanos.

Adriano Machado/CrusoéAdriano Machado/CrusoéA conhecida postura centralizadora de Lula isolou o PT e rachou a esquerda
Na avaliação de dirigentes do Centrão, as eleições de novembro serão cruciais para a maioria das siglas que compõem o bloco que apoia o governo no Congresso. O grupo pretende ganhar capilaridade nacional em meio ao cenário de dificuldades encontrado pelos maiores partidos. Acostumados a formar coligações com outras legendas, partidos como PSD, PL e Republicanos querem emplacar candidaturas próprias nas grandes cidades.

O grupo de Gilberto Kassab, por exemplo, determinou aos seus diretórios municipais que participassem do maior número possível de eleições para prefeituras – ao menos, sempre que houver candidato viável na conjuntura local. A lógica é simples: prefeituráveis têm mais visibilidade – especialmente em cidades que contam com emissoras de TV e rádio –, o que garante um maior “recall” também para as eleições de 2022.

Fora do Centrão, o PSDB prioriza a reeleição de Bruno Covas, em São Paulo, e a de Nelson Marchezan Jr, em Porto Alegre. O partido tem pré-candidatos em 17 capitais. Para tentar se recuperar do resultado pífio de 2016, os tucanos apostam em perfis novos, dissociados da chamada “velha política”, nas candidaturas espalhadas pelo Brasil. Enquanto isso, MDB e DEM tentam se valer de suas máquinas estaduais e de rostos conhecidos para melhorar seu desempenho. O DEM quer eleger Eduardo Paes no Rio, enquanto o MDB conta com dois nomes da velha guarda da legenda à prefeitura de Goiânia: Iris Rezende, o atual prefeito, e Maguito Vilela, ex-governador de Goiás.

Na esquerda, para além do isolamento do PT, o quadro é de racha irremediável. Apenas em Belém e Florianópolis foi possível levar adiante uma frente única. O PDT, de Ciro Gomes, não quer saber de aliança com os petistas. Preferiu montar palanques com o PSB nas regiões Sul e Sudeste e até mesmo se aliar ao DEM em capitais do Nordeste. Na origem da confusão entre as siglas esquerdistas está a conhecida postura centralizadora de Lula, o chefe petista. “É um comportamento equivocado. Na atual circunstância, deveria se pregar a unidade para apoiar aqueles que estiverem em melhores condições na disputa”, diz Carlos Siqueira, presidente do PSB. Por ora, o principal parceiro do PT, quando o partido não está isolado, tem sido o PSOL. As duas legendas se abraçaram em seis capitais. O risco é a união se transformar em abraço de afogados.

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  1. O Centrão está mais equipado para vencer essa eleição municipal. O Eleitor é boi. Mas vamos com a democracia, pelo menos temos liberdade.

  2. Incrível como um elemento tão nocivo a sociedade, contaminou a própria esquerda que ainda persiste em ser guiada por este, que já não tem voz em nenhum palanque... Triste fim... Saber se reinventar, é fundamental para sair desse atoleiro em que está a esquerda perdida deste país...

    1. sobre este assunto de associações entre partidos para a eleição tem que ser discutida e divulgada a agenda comum. O PT tem uma dificuldade que observamos com a Dilma. Ela identificou o caos criado por ela e escolheu o Joaquim Levy para recuperar o equilíbrio fiscal. O PT ignorou o abismo e se esforçou para pular nele. Em resumo, eles acham que o caixa de governo, como pode ser amortizado até o fim dos tempos é inesgotável. Por isso eles nunca farão um bom governo. Até hoje nunca falaram nada a

  3. Como o pt não vê que o velho sapo tá esclerosado e só faz mal ao partido e ao país??? Vão virar um ou outro partido (sem nomes) da vida???

  4. Com as eleições se aproximando as quadrilhas entram em polvorosa. O país vai continuar sendo explorado por essas quadrilhas.

  5. Helena Mader é uma jornalista investigativa, correta e talvez ainda seja desconhecida... promete! Já Mainardi voltou ao brilho de falar com estilo e singeleza dos fatos concretos.

    1. Jô Maria, aqui somos politizados, quer elogios para o Nosso? leia os blogs pagos pelo carluxo, só eles conseguem.

  6. O eleitor precisa aprender como votar: conhecer o currículo do seu candidato, sua escolaridade e nem prestar atenção no seu partido. Muita pesquisa nos Antecedentes de infração legal, principalmente... Ignorar filiação partidária!!!

  7. Só um idiota pra sair de casa pra votar. Não temos partidos políticos, são orgânicos criminosas a nos roubar descaradamente.

    1. O Brasil é um país rico em ideologias.Até agora já temos mais de 30.É um excelente negócio.Pra eles.

  8. E a vida continua... Prefeitos do centrão adeptos de corrupção, vereadores sedentos de dinheiro público. Que situação a que chegamos.

    1. No Rio Grande do Sul, a maioria dos municípios, algo entorno de 85% ficarão entre PP e MDB. Os demais dividirao o que sobrar, a grande esperança é o Partido Novo.

  9. Nada muda nesta Pindorama tropical. Nenhum fato novo na massa política nacional. O bolsonarismo, que se imaginava o novo na política, dramaticamente se auto-escapelou. Depois de um suspiro inovador, foi soterrado à mesmice dos velhos tempos da política, por pura estratégia de sobrevivência de seu ex-mito, agora circunscrito a uns 15% de apoiadores seguros. E assim vai permanecer. O tal do Novo, virou insignificante. E assim a toda vai continuar a girar. Alvaro Costa/df

  10. A esquerda brasileira é e sempre foi contra tudo o que poderia ajudar o Brasil. veja o exemplo da balança comercial brasileira só tem o agronegocio. pois a lá está a esquerda amaldiçoando a produção de alimentos. MALDITOS SEJAM BOLSOPETISTAS.

  11. Que número indecente de partidos! Se fosse a metade, ainda assim, seria muito. Precisamos de uma reforma política já! Os brasileiros não aguentam mais pagar tantos impostos que são moídos pela perversa máquina política. Basta!

    1. Enquanto não for feita uma REFORMA POLÍTICA/ELEITORAL séria, com fidelidade partidária, voto livre, só uma reeleição para o legislativo, um STE sério, entre outros, nunca passaremos de uma bananolândia qualquer....

    2. Esse sistema de formar partido simplesmente a partir de assinaturas em fichas coletadas tem tudo para continuar perturbando o cenário eleitoral brasileiro. Isto tem que ser mudado para ontem. A formação de partidos deveria começar a partir de eleições municipais, com número mínimo de pelo menos 30% de votos totais obtidos. Aí o registro só valeria nos municípios onde os partidos conseguissem esse piso. Para as eleições estaduais e federais, a mesma coisa. Teríamos no máximo 3 partidos no país.

    3. Maria Goiabademinas, você tem razão. Há umas três dúzias de grupos de interesse travestidos de partidos políticos. E ainda existem seis dúzias mais na fila. Sem o voto obrigatório, o País logo teria mais 'partidos' que eleitores. Convenhamos, trata-se de um excelente negócio numa terra triste onde o contribuinte é sacrificado na ara da cooptação e gatunagem oficializada e impune. Melhor só mesmo uma igreja dessas que praticam a picaretagem político-partidária com a ajuda de portfólios divinos!

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