LeandroNarloch

O ativista humanizador e o demonizador

24.07.20

A sensação de arder na fogueira — desfrutei algo assim há duas semanas. Depois de um comentário na TV pouco preciso (ainda que nada homofóbico) sobre doação de sangue por homossexuais, hordas histéricas e intolerantes pediram minha cabeça na CNN. Levaram. Até que foi divertido.

Lamento pouco pelo trabalho, que me ocupava mais tempo e atenção do que eu poderia dispor. Mas me assustei com a reação. No comentário que motivou a confusão, alertei para a presença evidentemente maior de HIV entre gays, mas concordei com a nova regra de doação de sangue. Mesmo assim, fui por uma semana alvo de xingamentos, ironias e ameaças.

Ao mesmo tempo, recebi apoio tanto do presidente quanto de colegas de esquerda, que consideraram a demissão injusta. Pois cutucaram a onça: agora monto uma série de palestras online só sobre boas ideias que, por divergirem do discurso de minorias, renderam demissões e manifestos contra seus autores.

Teria sido muito mais difícil passar por isso sem a ajuda de um livro. É o The Coddling of American Mind, algo como “Mimando a Mente Americana”, do psicólogo Jonathan Haidt e do advogado Greg Lukianoff.

O livro trata das ideias de gente mimada que fundamentam a intolerância politicamente correta nas universidades americanas e europeias. Num dos melhores trechos, Haidt e Lukianoff mostram as diferenças entre os “guerreiros da justiça social” do passado e de hoje.

Martin Luther King Jr., um ativista do passado, humanizava seus oponentes. Queria transformar adversários em aliados. Advertia que não se deve “suspeitar de todas as pessoas brancas, pois muitos de nossos irmãos” entendem que “seu destino está vinculado ao nosso destino”.

Já o ativista do Black Lives Matter demoniza. Passa o dia com pedras na mão, pronto para atirá-las no primeiro que dê o menor sinal de pecado. Trata como um demônio quem não se comporta como um santo politicamente correto. Tenta culpar o homem branco hétero por todos os problemas do mundo.

O ativista humanizador defendia o fim do racismo com base nos valores do cidadão médio: a Constituição, a liberdade, a família, a igualdade perante Deus.

“Quando os arquitetos de nossa república redigiram as magníficas palavras da Constituição e da Declaração de Independência, assinaram uma nota promissória de que todo americano seria herdeiro”, disse King no famoso discurso de 1963. “Era a promessa de que todos os homens, negros ou brancos, teriam garantidos os direitos inalienáveis à vida, à liberdade e à busca pela felicidade.”

Já o ativista demonizador trata de estreitar o terreno comum. Não busca persuadir o cidadão médio, mas difundir o ódio contra ele e jogá-lo na trincheira adversária.

Harvey Milk, o célebre ativista gay de São Francisco, tentava desfazer a ideia apocalíptica de que uma aceitação dos homossexuais provocaria decadência social. Já o ativista LGBT de hoje se deixa levar pelo Apocalipse. Acredita que o simples uso do termo “opção sexual”, por exemplo, vai resgatar a ideia de “cura gay”.

Antes se pedia tolerância, hoje se defende intolerância contra quem discorda até mesmo de terminologias. Antes o ativista causava fascínio. Hoje é fonte de ressentimento.

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