RuyGoiaba

A Olimpíada dos trouxas

28.08.20

Às vezes acontece de eu começar esta coluna pela goiabice da semana e depois passar ao texto principal. Geralmente, procuro aproveitar aquilo que em inglês se chama low-hanging fruit: a árvore frutífera que é o Brasil oferece piadas tão fáceis e tão abundantes que basta estender a mão para colher e depois servir, com casca e tudo —o leitor que descasque. Mas, nos últimos dias, foram TANTAS as goiabices que eu desisti de tentar espremê-las no pé da coluna.

Percebi que, na falta de uma Olimpíada de verdade, é possível fazer uma Olimpíada de trouxas, um Brasileirão de otários, um grande duelo de gente iludida só com personagens do noticiário recente. Mesmo excluindo participantes hors-concours como os seres que ainda acreditam na inocência de Lula, a disputa é acirrada e empolgante, e prever vencedores é tarefa impossível.

Vamos, portanto, aos participantes da nossa Trouximpíada:

– Quem acreditou no “Bolsonaro paz & amor”

Na real, os concorrentes desta categoria deveriam ser hors-concours também: é muito óbvio que Jair Bolsonaro é tão capaz de mudar sua natureza quanto aquele escorpião da fábula, que mata o sapo com uma ferroada enquanto os dois atravessam o rio. De todo modo, foi instrutivo ver as tentativas de fazer o Mito fingir que é uma pessoa civilizada irem por água abaixo com uma simples pergunta sobre os cheques de Fabrício Queiroz na conta de Michelle Bolsonaro —caso revelado por Fabio Serapião nesta revista. “Perder as estribeiras” e “perder o rebolado” mal começam a descrever: a pergunta pegou tão no nervo que Jair Maçaranduba (“vô dá porrada”) não conseguiu nem engrolar uma desculpa razoavelmente esfarrapada. E, óbvio, não vai responder nunca.

– Quem assinou a ficha de filiação à Aliança pelo Brasil

Foi tão grande o fiasco na tentativa de fundar um novo partido —em julho, a Aliança pelo Brasil havia conseguido pouco mais de 16 mil assinaturas válidas, cerca de 3% do total necessário— que Jair Bolsonaro está considerando retornar ao PSL, de onde saiu brigado, ou se filiar a outra legenda, como o PTB de Roberto Jefferson, esse maravilhoso exemplar da nova política. Bem feito para gênios brasileiros como Roger do Ultraje, que apareceu felizão nas redes com sua ficha de filiação à Aliança: “a gente não sabemos escolher presidente” MESMO.

– Paulo Guedes

Escrevi sobre o ministro da Economia duas semanas atrás, mas continuo sem saber quem é mais trouxa: ele mesmo, por achar que Bolsonaro lhe daria o maiorrrapoio sempre, ou a galerinha esperta do mercado que acreditou na conversão do milico corporativista às delícias do liberalismo. Nesta semana, o campeão sem dúvida é Guedes, que engoliu o sapo de ser desautorizado em público pelo presidente em seus planos de cortar o abono salarial para financiar o Renda Brasil. Algo me diz que o Grande Liberal não sai do governo nem que Bolsonaro convoque coletiva só para fazer cuecão nele na frente dos jornalistas.

– Quem participou do filme da Flordelis

Estes são talvez os grandes concorrentes da semana: os atores e atrizes globais que participaram, alegadamente sem cobrar cachê, de “Flordelis: Basta uma Palavra para Mudar”, filme hagiográfico sobre a pastora-deputada hoje acusada de mandar matar o marido e com uma história familiar de fazer até Nelson Rodrigues arrepiar os cabelos. Pau a pau com o documentário “João de Deus: o Silêncio é uma Prece”, lançado meses antes de o “médium” ser acusado de estupros e abusos sexuais —isso é que é timing!—, o filme da pastora ainda desafia nossa “suspensão da descrença” ao escalar Reynaldo Gianecchini, aquele cara 100% nascido e criado na quebrada, como um perigoso traficante.

Não sei quem vence o duelo de trouxas; talvez, por pontos, a turma da Flordelis. Mas os homens mal-acabados estão vingados. Na próxima vez em que sua mulher babar pela figura e pelos feitos do super-homem Rodrigo Hilbert —que também “atuou” nessa obra-prima—, vire-se e diga “bom, EU não participei do filme da Flordelis”. Ela continuará babando, mas pelo menos essa você ganhou.

***

A GOIABICE DA SEMANA

O designer que fez o logotipo do programa Casa Verde e Amarela —o Minha Casa, Minha Vida rebatizado, com um nome mais ao gosto do atual governo— tinha SÓ UM trabalho: desenhar uma casa verde e amarela. Por que diabos a casinha saiu azul é um desses mistérios insondáveis que há entre o céu e a terra, muito além do que supõe nossa vã filosofia. Algo me diz que o artista jamais será convidado para fazer o logo da Casa Branca, nem o da Casa Rosada, muito menos o do Cordão da Bola Preta: sabe Deus o que é capaz de sair.

Marcos Corrêa/PRBolsonaro e Marinho: tudo cor-de-rosa, diante da casa verde e amarela

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