DiogoMainardina ilha do desespero

Escrava Isaura

16.10.20

Marcelo Tas negou que o CQC tenha inventado Jair Bolsonaro:

“Eu saí do CQC em 2014, e o Bolsonaro foi eleito em 2018. É surreal alguém achar que nós contribuímos para o Bolsonaro ser presidente, e não os 60 milhões de brasileiros que votaram nele”.

Ele está certo, claro. A culpa não é do CQC, que deu um palco à bufonaria bolsonarista. Ou então do Superpop, de Luciana Gimenez. A culpa é de Lucélia Santos. Minha tese é sempre a mesma: o eleitorado é incapaz de reconhecer a canastrice de nossos governantes porque cresceu vendo Lucélia Santos. Se não fosse por ela, os 60 milhões de espectadores que aplaudiram o espetáculo degradante de Jair Bolsonaro o teriam coberto de tomatadas e ovadas.

Não citei Lucélia Santos por acaso. Nesta semana, um grave desvio de personalidade levou-me a assistir à propaganda de Guilherme Boulos no Twitter. E lá estava ela, Lucélia Santos, que tinha uma única linha para recitar, e conseguiu errar tudo: o tom, a expressão, a pausa, o texto. Só Sônia Braga e Osmar Prado foram mais desastrosos do que ela. A frase “sou Boulos”, quando é declamada por eles, ganha o sentido também de “sou Bolsonaro”, “sou Sarney”, “sou FHC”, “sou Renan Calheiros”, “sou Lula” ou “sou Chico Rodrigues, com dinheiro escondido nas nádegas”.

Lucélia Santos — e todo o resto da dramaturgia brasileira — normalizou o histrionismo bolsonarista. O que ninguém esperava é que, durante o espetáculo, escorresse sangue de verdade, com mortos de verdade. Ainda não chegamos ao último ato desse enredo vagabundo. O risco é que a plateia, habituada a esses farsantes, aceite assistir a uma reprise em 2022.

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