RuyGoiaba

Dinheiro na bunda é vendaval

23.10.20

É impressionante: não se pode nem ir ali tirar duas semaninhas de férias, que o Bananão vem nos lembrar de que há sempre um alçapão no fundo do poço. Desta vez, claro, foi a PF achando notas “entre as nádegas” (lindo eufemismo) do senador Chico Rodrigues, furo (epa!) desta Crusoé. Como todas as piadas com “furo” e “lavagem de dinheiro” já foram feitas, só quero registrar o elogio que recebi do capo desta revista, o grande Rodrigo Rangel: escândalo do buttcoin com Ruy Goiaba de férias é quase como se o papa renunciasse sem a Ilze Scamparini por perto. (Alô, produção: quero uma fonte aqui atrás de mim, igual àquelas que aparecem atrás da Ilze. Um cano da Sabesp estourado serve.)

Hoje, talvez Paulinho da Viola mudasse sua “Pecado Capital” para “dinheiro na bunda é vendaval, é vendaval/ na vida de um senador, de um senador”. A coisa chegou a um ponto em que você lê títulos aparentemente inocentes — como “Chico Rodrigues guardava arma e pepita de ouro em casa”, publicado por O Antagonista nesta quinta-feira (22) — e já fica se perguntando ONDE. Quando algum estrangeiro me pedir para explicar o Brasil, vou responder que é um país onde políticos enfiam coisas na bunda, exceto a vacina para a Covid-19.

(A melhor definição, de todo modo, foi a daquele diagrama político com as escalas esquerda/direita e autoritário/libertário, com Chico Rodrigues bem no meio. O nobre senador é, ao mesmo tempo, “esquerda autoritária” por ser funcionário público, “direita autoritária” pela vice-liderança do governo Bolsonaro, “esquerda libertária” porque gosta de introduzir coisas nas nádegas e “direita libertária” por saber como investir em fundos. Centrão true é isso aí.)

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Falando em estrangeiro, nada de viagem para mim nestas férias, por motivos óbvios: em vez de lidar com a segunda onda da Covid-19, os brasileiros continuamos surfando na primeira, sem hora para acabar. Fiz a “Viagem ao Redor do Meu Quarto”, do francês Xavier de Maistre — nunca ninguém divagou tanto no caminho entre a poltrona e a escrivaninha —, e reli “O Asno de Ouro”, de Lúcio Apuleio, um dos livros mais divertidos da Antiguidade latina (Apuleio nasceu no norte da África, onde hoje é a Argélia, e viveu no século 2º d.C.).

Também conhecido como “Metamorfoses”, o livro narra a história de Lúcio, um cara muito interessado em magia que, como diriam as chamadas da “Sessão da Tarde”, se mete numa tremenda confusão: basicamente, a magia dá errado e ele vira um asno — “sem perder, no entanto, a sua inteligência”, como diz o texto sobre a obra no site da Editora 34. O asno Lúcio passa por muitas provações até retornar à sua condição de bípede implume. Lembra um pouco a transformação de brasileiros em gado, mas sem essa parte da inteligência. E sem garantia de que, um dia, eles vão conseguir se equilibrar nas patas traseiras e parar de pastar.

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A GOIABICE DA SEMANA

Para a surpresa de ninguém, Kassio Marques, o Senhor K de Jair Bolsonaro, teve sua indicação para o STF aprovada pelos senadores — apesar do currículo turbinado, dos indícios de plágio apontados pela Crusoé etc. Quero apenas chamar a atenção de vocês para o significado profundo de termos um “Kassio” no Supremo: como diz uma amiga, estamos cada vez mais perto de ver nomes de surfistas como Cauê e Kaíque entre os ministros da egrégia corte. Será a última pá de cal nas tais “instituições funcionando”, e aposto que eles serão indicados quando nós finalmente tivermos colocado um Enzo Gabriel na Presidência.

(Podem favoritar essa previsão do Enzo Gabriel, mas não me cobrem. Se tudo correr bem, como escreveu o Drummond, “até lá, felizmente, estarei morto”.)

Marcos Oliveira/Agência SenadoMarcos Oliveira/Agência SenadoKassio konversa kom kongressistas no seu chá de komadres — digo, sua sabatina

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