DiogoMainardina ilha do desespero

O pior ano da minha vida

06.11.20

O pior ano da minha vida está terminando de maneira menos infeliz. A partir de 2021 – e por toda a eternidade -, nunca mais terei de ver ou ouvir Donald Trump. Ele voltará a ser para mim aquilo que sempre foi: um Kanye West. Sei que ele existe, mas o evito com cuidado, como a seborreia.

Por quatro anos, tive de acordar com Donald Trump, tomar café com Donald Trump, escovar os dentes com Donald Trump, ligar o computador com Donald Trump e ler a respeito de Donald Trump. Hoje eu acordei, preparei minha moka, escovei os dentes, liguei o computador e, sim, li a respeito de Donald Trump. Mas ele já evaporou, tornando-se apenas uma memória vaga e desagradável, remanescente de um excesso cometido na noite anterior – uma espécie de ressaca. Vai passar. Passou.

Eu sabia que as coisas piorariam brutalmente com ele. Em 2016, fiz a besteira de reunir meus parceiros de Manhattan Connection, na casa de Lucas Mendes, para comentar ao vivo, em nosso site, a contagem dos votos nos Estados Unidos. O resultado foi desastroso. Além de termos quebrado a cara porque confiamos nas pesquisas eleitorais, fomos também insultados pelos leitores, que torciam para Donald Trump. Nunca dei a menor pelota para insultos de leitores, mas me chateou – e me chateou muito – que meus hóspedes (e amigos) estivessem sendo insultados em meu site.

Os insultos eram o prenúncio da macaquice brasileira do trumpismo, que acabaria gerando, dois anos depois, seu imitador mais grotesco, Jair Bolsonaro. O sectarismo perverso daquela gente, que já estava latente, explodiu durante a epidemia de Covid-19, o desastre que, claro, caracterizou este 2020 tenebroso.

Nos Estados Unidos e no Brasil, a esquerda e a direita dizem que Donald Trump pode até ser derrotado, mas que o trumpismo vai permanecer. É mentira. O trumpismo vai desaparecer junto com o dono. Passou.

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