O establishment no poder
O presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou nesta semana os nomes dos seus principais assessores nas áreas de política externa e segurança nacional e na Secretaria do Tesouro. Ainda que o Brasil não esteja, nem de longe, entre as prioridades do próximo governo, a escolha dos ocupantes dos principais cargos em Washington manda sinais poderosos para a economia brasileira, para a política ambiental do governo de Jair Bolsonaro e para os que pretendem viver ou trabalhar nos Estados Unidos.
A notícia que mais repercutiu foi a indicação da economista Janet Yellen para a Secretaria do Tesouro. Chefe do Banco Central, o FED, entre 2014 e 2018, ela já conduziu a política monetária e cambial do país. “A indicação de Janet deixou o mercado mais tranquilo e confiante. Ela é uma pessoa previsível, transparente e que se comunica muito bem”, diz a economista Simone Pasianotto. Janet tem defendido um pacote para ajudar a economia a americana a se reerguer após a pandemia. Como é esperado que senadores republicanos se oponham a gastos exagerados, a conta não deve ser tão alta. Janet também já disse que é preciso tomar cuidado com a dívida. Além disso, espera-se uma boa coordenação com o FED, mantendo os juros baixos por mais tempo. Essa combinação de fatores poderá servir de combustível para a economia, o que alegrou as bolsas em todo o mundo.
Outra escolha, a do cubano-americano Alejandro Mayorkas para o Departamento de Segurança Interna, mudará o perfil da política de imigração dos Estados Unidos. Mayorkas deve retomar o trabalho feito no governo de Barack Obama, quando ele ocupou o segundo posto do departamento. Nessa época, os Estados Unidos ampliaram os vistos de trabalho e impulsionaram a imigração legal. Com ele, muito da burocracia e das restrições implementadas pelo governo de Donald Trump deverá ser removida no próximo ano. “Mayorkas é conhecido no meio advocatício como um ex-promotor que segue fielmente a lei. Com isso, deve revogar muitos dos decretos emitidos por Trump que contrariavam a legislação e buscavam dificultar a imigração legal, incluindo a de profissionais brasileiros”, diz o advogado Witer DeSiqueira, especialista em imigração para os Estados Unidos.
Em teoria, a área ambiental é aquela em que Biden mais pode agradar a ala radical do Partido Democrata. Mas Kerry, uma autoridade no assunto, não representa esse pessoal. No ano passado, ele chegou até a formar um grupo de democratas e republicanos para pensar medidas para amenizar as mudanças climáticas. Ambientalistas da ala mais à esquerda do Partido Democrata elogiaram educadamente a opção por Kerry, mas cobraram novos postos na nova administração para desenvolver projetos mais intervencionistas a favor do uso de energias renováveis e contra os combustíveis fósseis. É esse também o grupo que menos tolera as queimadas na Amazônia e pede ações enérgicas do governo americano. Ao preencher mais cargos nas próximas semanas, Biden terá de calcular um equilíbrio entre a ala moderada e a radical dentro do seu próprio partido. Por enquanto, são os primeiros que estão no controle.
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