ReproduçãoOs indicados por Biden já tiveram experiência prévia no governo e seguem linha moderada

O establishment no poder

As primeiras nomeações de Biden mostram que a esquerda radical não terá lugar na Casa Branca, a diplomacia climática deve ser cautelosa e o novo governo gastará mais, o que terá consequências para o Brasil
27.11.20

O presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou nesta semana os nomes dos seus principais assessores nas áreas de política externa e segurança nacional e na Secretaria do Tesouro. Ainda que o Brasil não esteja, nem de longe, entre as prioridades do próximo governo, a escolha dos ocupantes dos principais cargos em Washington manda sinais poderosos para a economia brasileira, para a política ambiental do governo de Jair Bolsonaro e para os que pretendem viver ou trabalhar nos Estados Unidos.

A notícia que mais repercutiu foi a indicação da economista Janet Yellen para a Secretaria do Tesouro. Chefe do Banco Central, o FED, entre 2014 e 2018, ela já conduziu a política monetária e cambial do país. “A indicação de Janet deixou o mercado mais tranquilo e confiante. Ela é uma pessoa previsível, transparente e que se comunica muito bem”, diz a economista Simone Pasianotto. Janet tem defendido um pacote para ajudar a economia a americana a se reerguer após a pandemia. Como é esperado que senadores republicanos se oponham a gastos exagerados, a conta não deve ser tão alta. Janet também já disse que é preciso tomar cuidado com a dívida. Além disso, espera-se uma boa coordenação com o FED, mantendo os juros baixos por mais tempo. Essa combinação de fatores poderá servir de combustível para a economia, o que alegrou as bolsas em todo o mundo.

FEDFEDJanet Yellen irá para a Secretaria do Tesouro
Para o Brasil, uma recuperação americana impulsionaria o consumo de produtos brasileiros. A credibilidade de Janet deve segurar o dólar no mundo. Uma queda na cotação da moeda poderia facilitar as importações brasileiras, principalmente as de petróleo, de bens de capital e de produtos eletrônicos. “Com o dólar menos arisco, o Brasil gastará menos com as importações, enquanto as exportações de commodities não devem ser afetadas, porque a demanda continuará alta”, diz Simone Pasianotto.

Outra escolha, a do cubano-americano Alejandro Mayorkas para o Departamento de Segurança Interna, mudará o perfil da política de imigração dos Estados Unidos. Mayorkas deve retomar o trabalho feito no governo de Barack Obama, quando ele ocupou o segundo posto do departamento. Nessa época, os Estados Unidos ampliaram os vistos de trabalho e impulsionaram a imigração legal. Com ele, muito da burocracia e das restrições implementadas pelo governo de Donald Trump deverá ser removida no próximo ano. “Mayorkas é conhecido no meio advocatício como um ex-promotor que segue fielmente a lei. Com isso, deve revogar muitos dos decretos emitidos por Trump que contrariavam a legislação e buscavam dificultar a imigração legal, incluindo a de profissionais brasileiros”, diz o advogado Witer DeSiqueira, especialista em imigração para os Estados Unidos.

Diálogo InteramericanoDiálogo InteramericanoJohn Kerry, ex-secretário de estado, será o czar do clima
A área mais sensível para o Brasil é a ambiental. Biden escolheu John Kerry, que foi senador e secretário de estado, para ser o seu “czar das mudanças climáticas”. O cargo será inserido no Conselho Nacional de Segurança, o principal grupo de assessores presidenciais. Kerry ajudou Obama a assinar o Protocolo de Kyoto e esteve envolvido no Acordo de Paris. Suas prioridades serão a reentrada americana nesse acordo e uma aproximação com a União Europeia. No segundo plano, Kerry também deverá estar atento ao Brasil. “Biden e Kerry conhecem a importância da economia e da democracia brasileira e tentarão uma abordagem cuidadosa, respeitosa, procurando iniciar um diálogo”, diz o embaixador Roberto Abdenur, conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais, o Cebri. “Eles não virão com um tacape na mão prontos para agredir o Brasil. A coisa só ficará complicada se essa primeira proposta de diálogo for repudiada.”

Em teoria, a área ambiental é aquela em que Biden mais pode agradar a ala radical do Partido Democrata. Mas Kerry, uma autoridade no assunto, não representa esse pessoal. No ano passado, ele chegou até a formar um grupo de democratas e republicanos para pensar medidas para amenizar as mudanças climáticas. Ambientalistas da ala mais à esquerda do Partido Democrata elogiaram educadamente a opção por Kerry, mas cobraram novos postos na nova administração para desenvolver projetos mais intervencionistas a favor do uso de energias renováveis e contra os combustíveis fósseis. É esse também o grupo que menos tolera as queimadas na Amazônia e pede ações enérgicas do governo americano. Ao preencher mais cargos nas próximas semanas, Biden terá de calcular um equilíbrio entre a ala moderada e a radical dentro do seu próprio partido. Por enquanto, são os primeiros que estão no controle.

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