FelipeMoura Brasil

A “afinidade” de Jair Bolsonaro e Kassio Nunes Marques

18.12.20

“Trump, pelo menos, indicou três juízes realmente conservadores à Suprema Corte dos EUA – Neil Gorsuch (2017), Brett Kavanaugh (2018) e Amy Coney Barrett (2020)”, escrevi semanas atrás. E o que eles fizeram? Votaram pela rejeição da ação do Texas que pretendia reverter a vitória de Joe Biden, depois confirmada pelo Colégio Eleitoral. John Roberts, indicado pelo também republicano George W. Bush, fez o mesmo.

Conservadores de verdade agem conforme a lei, não interesses de padrinhos políticos, muito menos narrativas fantasiosas de militantes de rede social.

Kassio Nunes Marques, o ministro do STF indicado por Jair Bolsonaro, agiu inteiramente de acordo com os interesses do presidente da República ao votar a favor da reeleição de Davi Alcolumbre à presidência do Senado e contra a de Rodrigo Maia à da Câmara – ambas vedadas pela Constituição, como reiterou a maioria do Supremo. Bolsonaro queria a permanência de Alcolumbre, que empregou na Diretoria-Geral da Casa, com um salário de 21,4 mil reais, o primo dos filhos do presidente. Léo Índio havia deixado sua boquinha no gabinete do senador Chico Rodrigues depois que o então vice-líder do governo foi encontrado com dinheiro entre as nádegas. Já Maia, Bolsonaro queria despachar do cargo. Seu candidato à sucessão do desafeto é Arthur Lira, do Centrão: réu por corrupção e improbidade administrativa, mas, quiçá, de cueca limpa.

Nunes Marques também votou pelo arquivamento do inquérito sobre Eunício Oliveira (MDB-CE), acusado de receber 2 milhões de reais da Odebrecht para facilitar a aprovação de medidas provisórias de interesse da construtora, a mesma que pagou 7,3 milhões de reais de propina a Ciro Nogueira, conforme denúncia da PGR. Desde junho de 2019, o senador do Centrão é padrinho da indicação de Nunes Marques: “Nosso Kassio é uma figura respeitadíssima no mundo jurídico hoje, tenho certeza que vai chegar a tribunais superiores, ou STJ ou Supremo”, declarou Ciro na ocasião.

O “nosso Kassio” ainda votou a favor de Lula, rejeitando recurso da PGR que pedia manutenção da colaboração de Antônio Palocci nos autos do processo em que o petista é acusado de receber 12,5 milhões de reais de propina da Odebrecht, referente à compra de imóvel para abrigar o Instituto Lula. Assim como no caso de Eunício, o ministro formou maioria com Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski na Segunda Turma, que já havia indicado “parcialidade” do ex-juiz Sergio Moro na juntada dos depoimentos.

O bolsopetismo segue a todo vapor, tanto na blindagem dos nomes do Centrão e do PT listados no departamento de propina da Odebrecht quanto no ataque a Moro, atualmente em empate técnico com Jair Bolsonaro nas projeções para o segundo turno de 2022.

“Você, fedelho que está me criticando, eu não tenho ascendência sobre o ministro Kassio”, defendeu-se o presidente, dois dias após alegar que eram para ele próprio os 89 mil reais depositados na conta de sua esposa Michelle por Fabrício Queiroz e Márcia Aguiar, e que o valor médio dos depósitos é baixo para configurar propina. “Eu indiquei para lá por aquilo que eu tenho de afinidade com ele. No momento, nada de errado.”

No momento, a afinidade de Bolsonaro com Nunes Marques é a luta pela conservação da impunidade. Por isso, ele está bem mais satisfeito que Trump com a sua indicação.

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