DiogoMainardina ilha do desespero

Aos brasileiros, só as piores vacinas

15.01.21

A Coronavac é ruim. Ao comentar os resultados dos testes com a vacina, a imprensa se concentrou no espetáculo obsceno de João Doria. Ele adiou por quatro vezes o anúncio da taxa de eficácia da vacina, e quando finalmente a anunciou, na semana passada, deu uma pedalada vergonhosa nos números. Ele só fez isso, porém, porque a vacina é ruim — muito pior do que se previa.

A Covishield, a vacina indiana que Jair Bolsonaro mandou importar às pressas, mendigando um punhado de doses ao primeiro-ministro Narendra Modi, com o único propósito de atropelar a vacina chinesa de João Doria, é ainda pior do que a Coronavac. Ela nunca foi examinada no Brasil. Sua fórmula é a da vacina de Oxford, cujos testes teriam sido jogados no lixo se não estivéssemos no meio de uma epidemia que já matou dois milhões de pessoas. Em tempos normais, os erros cometidos pela AstraZeneca durante a fase 3 dos testes invalidariam qualquer vacina. Como estes não são tempos normais, a melhor saída talvez seja limitar seu uso. Na Europa, por exemplo, cogita-se aprovar a vacina de Oxford apenas para quem tiver menos de 55 anos.

Uma vacina ruim é melhor do que nenhuma vacina. É o que dizem todos os especialistas no assunto. Mas isso não elimina o fato de que o brasileiro, como sempre, está sendo tratado como a escória, que tem de se contentar com vacinas de terceira categoria, em detrimento de vacinas comprovadamente mais eficientes, como as da Pfizer e da Moderna. A gangue que comanda este buraco decidiu assim. A epidemiologista Natália Pasternak, durante o anúncio dos resultados da Coronavac, resumiu bem: “Não é a melhor vacina do mundo, não é a vacina ideal, é uma boa vacina, que tem a sua eficácia dentro do limite do aceitável (…). É uma vacina possível para o Brasil, adequada para o Brasil”.

Exatamente: as melhores vacinas do mundo estão fora de nosso alcance, e temos de aceitar aquilo que nos impingem, esperando que, em fevereiro, a Johnson & Johnson nos acuda, com uma vacina barata e simples de se aplicar, mais adequada à nossa barbárie. Uma vacina possível para o Brasil.

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