Injeção de bom senso
Em um discurso no Fórum Econômico de Davos, nesta semana, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse que seu país “pode servir como um teste global para que se compreenda qual é a eficácia da imunização”. Ao tentar se colocar como líder mundial no combate à pandemia, visitando centros de vacinação e recebendo aviões com doses no aeroporto, Netanyahu certamente quer impulsionar suas chances na eleição marcada para o final de março. Por ora, não há como saber qual será o efeito político disso. Sua pretensão de que o país seja um teste para o mundo, contudo, já se confirmou. Desde o final de dezembro, Israel está vacinando, por dia, pelo menos duas pessoas a cada grupo de 100 habitantes. Com 82% dos idosos já protegidos, a campanha foi expandida para adultos com mais de 35 anos, grávidas e jovens de 16 a 18 anos que vão prestar exames educacionais. Com esse avanço impressionante, Israel é hoje o melhor lugar para saber o que acontece quando um país consegue vacinar seu povo.
Uma das constatações é que, depois de 14 dias da primeira dose da fórmula da Pfizer, ocorre uma redução drástica das taxas de infecção. “Após esse tempo, a quantidade de pessoas com teste de Covid positivo cai de 35% a 60% entre os vacinados, e isso continua diminuindo com o passar dos dias”, diz o imunologista israelense Cyrille Cohen, chefe do laboratório de imunoterapia da Universidade Bar-Ilan e membro do comitê consultivo de Israel para estudos clínicos de vacina para Covid-19.
Um estudo de um dos planos de saúde israelenses acompanhou 128 mil pessoas que tomaram as duas doses. Entre elas, apenas 20 contraíram a doença, ou 0,015% do total. Normalmente, ao longo de uma semana, o índice de infecção em um determinado grupo é de 0,65%. A redução indica que, no teste em larga escala feito na prática, a vacina da Pfizer alcançou uma eficácia levemente superior a 95%, como apontado pelos estudo clínico. Outro ponto importante é que nenhum dos casos desenvolveu um quadro grave da doença. Os pacientes apenas relataram dores de cabeça, tosse, sensação de fraqueza ou fadiga. Nenhum foi internado ou teve febre acima de 38,5 graus.
Outro estímulo importante é que o Ministério da Saúde de Israel lançou em meados de janeiro o “passaporte verde” para aqueles que tomam as duas doses. Os portadores do documento não são obrigados a ficar de quarentena depois de entrar em contato com alguém com Covid, podem viajar para mais países e não precisam fazer testes para entrar em algumas áreas. Só têm de continuar usando as máscaras e evitar aglomerações, mantendo o distanciamento social. Deu certo. Pelos dados oficiais, apenas cerca de 10% dos israelenses rejeitam atualmente a vacina.
Em outros países, a desconfiança também diminuiu à medida que mais pessoas foram sendo imunizadas. No Reino Unido, o primeiro país a iniciar uma campanha, 77% dos entrevistados disseram que já tomaram a vacina ou pretendem tomar, segundo o instituto de pesquisas Kantar. Em dezembro, o índice era de 65%. A quantidade de pessoas que se recusa a receber o imunizante caiu de 23% para 17%. Nos Estados Unidos, país que aplicou o maior número de doses em números absolutos até agora — mais de 23 milhões —, a porcentagem de gente querendo a vacina subiu de 51% em outubro para 66%.
Com o sucesso da vacinação, outros dados levam esperança ao país. A taxa de transmissão ficou abaixo de 1, o que indica que a pandemia foi freada. O comitê consultivo do governo israelense estima que os índices de hospitalização e de mortalidade tenham um declínio significativo em um mês ou um mês e meio, o que poderá aliviar a situação dos hospitais. “É importante notar que, entre as pessoas que tomaram duas doses, a chance de ser internado com sintomas graves parece muito baixa”, diz Cohen. “Os resultados que temos da vacina ainda são parciais, mas encorajadores.” Viva a vacina.
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