RuyGoiaba

A opressão do 2 + 2 = 4

19.02.21

Vamos falar da opressão exercida pela ciência? Sei que no Brasil, hoje, só se fala de outras coisas: o Idiota Bombado, aquele deputado Maçaranduba (“vô dá porrada”) que o Alexandre de Moraes mandou prender, ou o BBB, do qual já tratei na coluna passada. E, se você não for um débil mental cloroquiner ou antivaxxer, sabe que a ciência está bem na fita depois de ter descoberto várias vacinas contra a Covid-19, algumas de alta eficácia, em tempo recorde. Mas isso não a exime de responder pelos seus crimes e pecados — não, senhores!

No Brasil, por exemplo, no final de janeiro, a aula de física para alunos do ensino médio em um dos colégios mais tradicionais (e caros) de São Paulo propunha uma “reflexão sobre a narrativa eurocêntrica, binária, patriarcal, hétero-cis-normativa, racista e colonialista da história da física clássica”. Pois é, que grandíssima filha da p*** é essa história da física clássica — se eu a encontrar por acaso na rua, desvio para a calçada do outro lado. Como esse povo gosta muito de refletir, a aula também REFLETIU ACERCA das “raízes sociais das leis de Newton”. Óbvio: a lenda da maçã que caiu na cabeça do Newton é fruto da opressão colonialista daqueles ingleses canalhas. Tinha que ter sido uma jaca.

Nos EUA, sempre anos-luz à nossa frente, a justa revolta contra a opressão científica é ainda mais profunda. O New York Post informa que o Departamento de Educação do estado do Oregon tem agora um curso de formação de professores chamado “Caminho para a Equidade Matemática”. O tal curso defende a “etnomatemática” como estratégia para começar a “desmantelar o racismo” nessa ciência — que reflete, ora veja, a “cultura da supremacia branca”.

E quais são as provas desse odioso supremacismo branco na matemática? Entre outras coisas, transmitir “a ideia de que sempre há respostas certas e erradas” e obrigar “os alunos a mostrar seu trabalho”. Ou seja: se você, professor, disser aos alunos que 3 x 3 não é 10 ou cobrar empenho deles em sala de aula, estará apenas reproduzindo uma lógica racista (e, se por acaso for negro, ganhará o direito de ser chamado de “capitão do mato” pelos iluminados). Alexandre Soares Silva, meu ex-colega do portal Wunderblogs, uma vez escreveu sobre “o matemático de Cambridge parando na estrada para ver o vendedor de pamonha que faz outsider math”, ou “matemática naïf”. Na época, era piada. Não é mais.

Dá até saudade dos tempos em que Roberto Carlos cantava “tudo certo como dois e dois são cinco” e a gente sabia que Caetano Veloso, o compositor, queria dizer que estava tudo errado sem ser muito explícito sobre o assunto. Hoje 2 + 2 = 5 pode estar certo. Ou certo e ao mesmo tempo errado. Ou ser válido. Ou não.

***

A GOIABICE DA SEMANA

Jair Bolsonaro, essa inteligência rara, deu piti no início desta semana acusando o Facebook de bloqueá-lo e defendendo aumento de tributação para as “big techs” no Brasil. O presidente tinha pedido ao seu rebanho, ops, aos seus seguidores que abastecessem os carros com 100 reais, fotografassem a nota fiscal e postassem nos comentários de seu perfil no FB, para questionar o ICMS cobrado pelos estados — mas ninguém estava conseguindo. Depois se descobriu que a tal “censura” de Mark Zuckerberg era apenas a configuração do próprio perfil de Bolsonaro, que não permitia aos leitores a postagem de fotos nos comentários.

Como já escrevi por aqui — acho que a frase é de Millôr Fernandes, mas não consegui confirmar os dizeres exatos —, que gigantesco erro da natureza é a burrice não doer. Num mundo justo, ela doeria mais que pedra no rim.

Reprodução/InstagramReprodução/InstagramJair e Eduardo Bolsonaro em frame de vídeo publicado no Instagram do filho 03

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