SergioMoro

Manhattan Connection

09.04.21

Nos dias atuais, não tenho tido muito tempo para assistir a programas de televisão. Paradoxalmente, a pandemia do coronavírus, ao impor o trabalho em casa para os casos nos quais isso é viável, reduziu o tempo de lazer e aumentou o de trabalho. O home office transformou a casa em um ambiente de trabalho permanente, sem horários definidos de dever e de lazer. No passado, dizia-se que o desenvolvimento tecnológico aumentaria o tempo de ócio e de lazer dos seres humanos, mas hoje já sabemos que fomos logrados pois ocorre exatamente o contrário. O ritmo do trabalho só aumentou.

Um dos poucos programas a que tenho assistido é o Manhattan Connection. Ele saiu da GloboNews, quando era transmitido no final do domingo, e foi para a TV Cultura, onde agora é exibido às quartas-feiras à noite. O ambiente descontraído, a qualidade dos âncoras, a relevância e a heterogeneidade dos convidados têm sido um atrativo. Em um deles, quase foi lançada a candidatura presidencial do Danilo Gentili – que, aliás, teria o meu voto.

Surpreendeu-me nesta semana notícia falsa divulgada nas redes sociais por grupo político de que o programa estaria agindo a soldo do governo de São Paulo para criticar o governo federal. Atribuíram ao programa o nome “Mamata Connection”. De tabela, a notícia falsa sugere que o site de notícias e opiniões O Antagonista também seria beneficiado indiretamente.

Não me caberia a defesa do programa ou do site, mas a bem dos meus breves momentos de lazer, tomo aqui a liberdade de fazê-lo.

A notícia falsa não para em pé. O Manhattan Connection já era crítico ao governo federal e ao presidente Bolsonaro muito antes de sua transferência para a grade de programação da TV Cultura. Se os seus âncoras realizavam e realizam críticas ao governo sem cobrar nada antes, por que alguém pagaria a eles para fazê-lo?

O Antagonista sempre teve uma postura crítica a todos os governos e governantes desde seu nascimento. Atos dos ex-presidentes Dilma e Temer e do atual não foram poupados de análise crítica. O site não precisou receber dinheiro para ser motivado. Também foi esclarecido publicamente que a remuneração da produtora do Manhattan Connection vem de patrocinadores privados, com intermediação da TV Cultura, e não dos cofres públicos  (https://www.oantagonista.com/brasil/mamata-connection/).

Todos os governos fornecem munição considerável à imprensa e aos jornalistas para críticas, por isso não faz sentido afirmar que elas decorrem de alguma espécie de conspiração.

Tanto o programa como o site têm mostrado independência em sucessivos governos. O que mudou foram os governantes, mas não a postura crítica desses dois veículos. Isso é sinal de independência e de vitalidade jornalística.

É desagradável ver aqueles que outrora criticavam a agressividade dos governantes do momento em relação à imprensa assumindo, quando no poder, a mesma postura. Não que a imprensa não possa ser criticada. Ela erra e nem sempre os jornalistas estão bem-intencionados. Há uma tendência ainda de as críticas, mesmo quando fundamentadas, serem exageradas no afã de superar a concorrência ou de atrair a audiência. Ainda assim, a reação precisa ser ponderada. Deve-se ensinar pelo exemplo, corrigindo ou rebatendo, com ponderação, as críticas consideradas injustas, bem ou mal-intencionadas. Agressões, ofensas ou a utilização de notícias falsas para atacar a imprensa ou quem quer que seja não são nunca aceitáveis.

Da minha parte, continuarei visitando o site O Antagonista e assistindo nas quartas à noite ao Manhattan Connection. Às vezes, os ataques, dependendo de onde vêm, apenas reforçam a credibilidade dos jornalistas. E, em alguns casos, notícias falsas disseminadas em redes sociais são apenas tentativas de desviar o foco das mamatas de verdade.

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
Mais notícias
Assine agora
TOPO